Entrevista publicada no jornal Cidade de Tomar de 28 de janeiro de 2022.
O que é afinal o PDM?
O Plano Diretor Municipal é, nos termos da Lei, “o instrumento que estabelece a estratégia de desenvolvimento territorial municipal, a política municipal de solos, de ordenamento do território e de urbanismo, o modelo territorial municipal, as opções de localização e de gestão de equipamentos de utilização coletiva e as relações de interdependência com os municípios vizinhos, integrando e articulando as orientações estabelecidas pelos programas de âmbito nacional, regional e intermunicipal.”
É um instrumento de referência para a produção de todos os outros instrumentos de gestão territorial e constituído pelos seguintes documentos:
- Regulamento, que estabelece as
regras e parâmetros aplicáveis à ocupação, uso e transformação do solo,
vinculando as entidades públicas e claro, direta e imediatamente os
particulares;
- Planta de ordenamento, que
representa o modelo de organização do território municipal;
- Planta de condicionantes que
identifica as servidões administrativas e as restrições de utilidade pública em
vigor que possam constituir limitações ou impedimentos a qualquer forma
específica de aproveitamento do solo.
É ainda acompanhado por: relatório geral, relatório ambiental, programa de execução e o plano de financiamento e fundamentação da sustentabilidade económica e financeira. É, ainda, complementado pela planta de enquadramento regional; planta da situação existente com a ocupação do solo; planta e relatório com a indicação dos compromissos urbanísticos existentes; mapa de ruído; participações recebidas em sede de discussão pública e respetivo relatório de ponderação; e ficha dos dados estatísticos.
Muito longo e, como eu e a
Presidente e muitos outros autarcas pelo país temos referido, um dos grandes
entraves ao desenvolvimento do país é precisamente a demora na aprovação dos
instrumentos de gestão do território, nos quais os PDMs são o exemplo maior.
De forma breve lembro que o
processo de revisão começou em 2001. Depois parou durante uns anos no fim dessa
década. Recomeçou connosco em 2014 tendo a proposta municipal final sido
aprovada em reunião de câmara em 2016.
De lá para cá tivemos a
infindável ronda de concertação com as mais de 30 entidades nacionais que
emitiram pareceres sobre o Plano e que só em 2020 ficou concluída, tendo a
discussão pública ocorrido entre novembro desse ano e janeiro de 2021. A Assembleia
Municipal discutiu e aprovou em novembro (sem qualquer voto contra de nenhum
partido, o que, retórica à parte mostrou ainda assim responsabilidade). E
janeiro de 22, cá temos finalmente este instrumento determinante para o
território.
- Quais são os procedimentos seguintes?
Formalmente nenhuns. Está tudo
feito. Mas vai existir naturalmente um período de adaptação, quer para os
serviços municipais quer para os técnicos que prestam os seus serviços aos munícipes
para aprendizagem e acomodação das novas regras.
Já existiu na fase da construção
do novo plano, e agora em vigor está previsto que tanto internamente como para
os técnicos externos e, tendo em conta os muitos processos que dão entrada
diária, decorrido algum tempo, possa existir formação, ou, principalmente, discussão
prática e coletiva de exemplos e boas práticas de interpretação e aplicação do
PDM.
- Quais os principais objetivos
deste PDM?
1º Dinamização económica:
dinamizar o município de Tomar como destino turístico; captar novos
investimentos articulados com o Instituto Politécnico de Tomar (IPT); melhorar
a atratividade para instalação de empresas; promover o desenvolvimento do apoio
social; dinamizar as atividades culturais.
2º Estruturação da mobilidade:
definir uma hierarquia rodoviária que evidencie a estrutura das áreas urbanas e
clarifique o sistema de acessibilidades; garantir ligações adequadas entre o
Município e a cidade de Tomar e a rede rodoviária supramunicipal; consolidar a
estrutura rodoviária rádio concêntrica do Município; melhorar as condições de
acesso à albufeira de Castelo do Bode; melhorar as condições de mobilidade da
população.
3º Estruturação do espaço urbano
e do espaço rústico: revitalizar o centro histórico da cidade de Tomar e de
outros aglomerados; consolidar a cidade de Tomar e qualificar a coroa
periurbana da cidade; consolidar os restantes aglomerados; controlar a
dispersão da edificação em espaço rural.
4º Valorização ambiental e da
paisagem: resolver as situações de disfunção ambiental; valorizar o património
natural e construído; qualificar a paisagem.
Em nenhum concelho do país o PDM
é o ideal. Nenhum PDM é constituído apenas pelas vontades municipais tal como
explicitei na primeira questão. Há algumas situações que, a começar por mim que
sou o responsável político, não concordo, mas não cabem ao município decidir.
Benefícios referi já alguns em
questões anteriores e outros são difíceis de sintetizar em poucas linhas, mas,
começa logo nas ferramentas agora disponíveis, mais rigorosas no conhecimento
do território, permitindo um mais fácil processo de instrução de projetos e licenciamento
municipal, quer para os proprietários, investidores, técnicos, como para a
análise e demais tramitação interna nos serviços, o que também vai contribuir para
uma maior celeridade;
A definição de novas zonas de
atividade económica em quase todas as freguesias e a grande nova zona cujo
trabalho específico agora ganhará mais velocidade em Vale dos Ovos, como a
redefinição da do Alto Pintado;
Permite a resolução de problemas
de licenciamento ou ampliações de muitas intuições, a começar nas IPSS’s e
associações em geral, de muitas empresas e de muitos cidadãos que tinham os
seus projetos bloqueados ou sem possibilidade de avançar.
É verdade que impede também
alguns outros, nomeadamente especulativos no sentido daquele pensamento do “eu
tenho lá um terreno onde pensava um dia fazer alguma coisa”. Mas o ordenamento
do território não pode ser a pensar “um dia” fazer alguma coisa, é para ser
objetivo e planear o mais possível para o espaço de uma década.
Essencialmente, no plano geral temos
agora um PDM atualizado, em acordo com a legislação e que bem vai servir Tomar
e os tomarenses, pelo menos durante a próxima década e até à próxima revisão.
Sim. É o documento fundamental de
qualquer município, mesmo que a larga maioria da população e mesmo muitos dos
eleitos não façam ideia do que contém e das implicações para a vida da
comunidade.
É certo que, como já referi
amiúde, defendo que assim que possível ou seja, ao fim de 5 anos, o município
possa fazer uma nova revisão, mais pequena e setorial, para poder afinar
algumas questões que na imensidão de tudo o que havia para fazer nesta, não era
possível sob pena do processo se arrastar mais alguns anos. Até porque sempre
que sai nova legislação desta área – e isso acontece com muita regularidade – é
preciso refazer muito trabalho.
E como em tudo, ninguém faz nada
sozinho, tenho de agradecer à equipa municipal que comigo trabalhou esta
matéria, particularmente aos técnicos da Divisão de Gestão do Território e
principalmente da Unidade de Planeamento e Ordenamento do Território,
nomeadamente aos arquitetos e engenheiros Filipa Cartaxo, Susana Pereira, Carla
Figueiredo, Pedro Silva e José Carlos.
- Mas é um Plano com opiniões diversas?
Claro, é natural que assim seja.
O que chateia um pouco, confesso, é que dos que criticam o novo PDM alguns tenham
tido responsabilidades políticas durante anos e pouco ou nada fizeram, ou
alguns que falam publicamente “de cátedra”, sobretudo autarcas da oposição, mas
que notoriamente não percebem nada do que estão a falar.
Mandam uns bitaites, convencidos que quem os ouve também não percebe e achando que basta dizer ou escrever umas coisas que pareçam inteligentes. Como se diria, “muita parra e pouca uva”, mas enfim, sinais dos tempos e da atual forma de estar na política.
Como em tanta outra coisa, muitos falaram ao longo dos anos, mas só de quem faz “reza a história”. Pois está feito e ao serviço da comunidade.
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