Texto escrito na edição de 4 de fevereiro do jornal Cidade de Tomar
O primeiro é mesmo o do aumento
da participação, sobretudo num tempo em que muitos não puderam votar ou tiveram
receio em fazê-lo. Apesar da abstenção oficial (a real é menor, continuam a
existir muitos “eleitores fantasmas”), continuar a ser demasiado elevada e uma
desonra para todos os que lutaram pelo direito de voto ou que em muitos países
ainda não têm esse direito.
Ficou claro neste resultado
histórico que a governação do partido socialista é apreciada e desejada pela
maioria da população. Estranho seria se assim não fosse. Um Governo que
conseguiu a primeira governação sem défice da história da Democracia e o maior
de crescimento da convergência económica e social com a média da União Europeia;
ou ganhos como o maior aumento do salário mínimo ou o baixo número de
desemprego, mesmo tendo nestes últimos dois anos que fazer face a um “pequeno
problema chamado Covid”, para o qual a capacidade de ação foi mundialmente das
melhores como sabemos, envergonhando até países bem mais ricos e dotados de
outras capacidades.
Por isso, era natural que os
partidos que causaram a interrupção do governo fossem penalizados. Os
portugueses e bem, mormente depois dos dois anos que vivemos e do que há para
fazer face à recuperação económica, à aplicação dos fundos do Plano de
Recuperação e Resiliência e à negociação do novo Quadro Comunitário de Apoio,
querem estabilidade.
Por vezes alguns partidos ou
alguns dirigentes políticos e agitadores sociais não compreendem isto, mas são
dos mais elementares valores para a generalidade do ser humano: a estabilidade,
a persistência, a coerência.
Há questões preocupantes, claro. O
expetável aumento da extrema direita tornou-se realidade e a todos deve inquietar,
e se a isso adicionarmos que por parte dos jovens, normalmente mais alheados
dos atos eleitorais por não sentirem na pele a sua necessidade, que muitos dos
que ainda assim votaram estão a seguir este caminho e a deixar-lhe levar pelos populistas
cantos de sereia dessa direita, devemos sentir-nos profundamente inquietos.
A questão dos jovens é
determinante para a nossa Democracia e para o futuro do nosso país. Os jovens
não entendem a necessidade do Estado Social, a sustentabilidade da segurança
social e das reformas é algo que nada lhes diz, vem lá muito longe; a Escola Pública
é algo que tem como adquirido e que acham inalterável; o Serviço Nacional de
Saúde e a comparação com sistemas privados é algo que a maioria nunca
experimentou conscientemente, e por isso, quando alguém lhes acena com a ideia de
que o Estado só serve para cobrar e para desperdiçar ou dar a quem não precisa,
que o bom é não pagar impostos e que há mesmo países que funcionam assim, é
infelizmente natural que se deixem levar na cantiga. Afinal, também há menos
jovens e até bem formados que pensam assim.
A questão da extrema direita, assente
como historicamente acontece, na figura duma só pessoa bem-falante, continuará
a crescer até se implodir no vazio das ideias e soluções válidas para a
sociedade portuguesa. Mas o alheamento dos jovens, que serão em poucos anos a
força de trabalho e a composição social maioritária do país, e a sua visão de
economia liberal e afastamento do papel do Estado, é sim muito inquietante e
exige de nós uma capacidade de intervenção pedagógica em torno de todos esses
jovens que nos rodeiem.
Não posso terminar esta breve
reflexão sem um olhar para Tomar. Para nós estas eleições também foram
importantes. Tomar e o município em particular tem um conjunto de ações e
candidaturas a decorrer que urge continuar. E sabemos bem quem seria o alvo
preferencial no distrito se os resultados em Tomar e no país fossem outros.
E não pode deixar de ser
sublinhado que o PS nabantino teve a sua mais forte representação de sempre nas
listas ao parlamento e continuará a ter no nosso deputado Hugo Costa um
defensor de Tomar e da região.
Por fim, existe o receio que eu
também partilho, dos vícios de poder que uma maioria absoluta pode criar. Com
maior poder vem maior responsabilidade. De quem governa é certo, mas que seja
também de todos nós enquanto cidadãos ativos e contribuintes para o
desenvolvimento da nossa sociedade e de cada uma das nossas comunidades.
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