Texto publicado na edição de 8 de maio do jornal O Templário
O associativismo é, como costumo
dizer, o espelho de um território, duma aldeia, duma comunidade, e estes tempos
difíceis vão provavelmente obrigar a que as coletividades e demais associações,
duma forma geral, se reinventem uma vez mais.
Vão ter de ser os associados, os
utentes, os praticantes, os amigos, seja lá que condição for de cada uma dessas
entidades a mostrar que querem mantê-las vivas, e a fazer a sua parte.
A dar de si com aquilo que cada
um puder. É esse o espírito do associativismo, das coletividades. Associar, fazer
pelo coletivo.
Por parte do município
naturalmente que a preocupação é grande. Tomar é como costumamos dizer, um
concelho muito rico em associativismo, e no qual as suas 200 e muitas
associações têm um peso social muito importante na comunidade.
Das expressões culturais e
patrimoniais, às imensas modalidades desportivas, da ação social ao lazer, da juventude
à educação, a áreas empresariais e mais, é todo o espectro da atividade humana
que é abrangido por estas entidades onde a larga maioria dos cidadãos está
presente de forma voluntária e abnegada.
Ora, as dificuldades que
seguramente estas entidades estão e vão atravessar preocupam-nos, não apenas
por toda a panóplia de atividades pontuais ou regulares que estão em causa, mas
também muito pela questão económica. Várias destas associações representam no
seu conjunto umas centenas de postos de trabalho direto e são importante motor
para muitos outros negócios.
No entanto, muitas delas estão
sem qualquer receita para fazer face aos compromissos mensais que detém. E não
se sabe realmente quando e em que condições vão poder retomar, seja a atividade
regular de cada um dos seus casos, sejam os eventos programados.
Da parte do município – e
relembro que nos últimos anos temos vindo a aumentar o apoio financeiro global
através do Programa de Apoio ao Associativismo (PAA) assim como outras formas de
apoio, nomeadamente logístico – definimos algumas medidas para o imediato e
para o ano presente.
Desde logo, mantivemos todos os
valores de apoio aprovado para 2020, mesmo sabendo que no que se refere às
atividades regulares elas não estão a ser realizadas;
também a suspensão da necessidade
da entrega do Relatório de Prestação de Contas para receber apoios, até porque
não há possibilidade de realização das assembleias gerais em tempo útil;
Aprovámos ainda a possibilidade
de alteração de atividades candidatas e contempladas no Programa 2 do PAA e não
efetuadas, para outras atividades a realizar durante o 2º semestre do ano. E
estamos a antecipar pagamentos, que, como já referi, aconteceriam depois das
atividades realizadas.
Esta pandemia alterou toda a
nossa realidade, o mundo não vai voltar a ser o mesmo, por muito que se calhar
parte da população ainda não se tenha verdadeiramente consciencializado das
implicações para os próximos anos.
A mudança não ocorre apenas por
imposição legal e enquanto não existir uma cura ou uma vacina. A mudança ocorre
muito porque vai ser preciso restaurar a confiança de grande parte da população
em participar em eventos, em estar junto com outros e nomeadamente com pessoas
que não se conhece.
E provavelmente, para os próximos
anos a tipologia de eventos vai ter de mudar. Neste momento as questões são
mais que as certezas. Todos, sejamos responsáveis públicos e políticos, sejamos
dirigentes associativos ou outros agentes envolvidos, temos obrigatoriamente de
refletir e pensar em algo novo.
Poderemos ter nos próximos dois
anos grandes eventos com concentração de pessoas?
Vamos poder ter eventos
desportivos com enchentes em estádios, piscinas ou pavilhões? Vão as atividades
desportivas coletivas, nomeadamente nos escalões da formação sofrer grandes
perdas de praticantes, até por receio dos pais?
Vamos ter feiras, festivais de
rua, festivais de verão, em que moldes? Ou até eventos que estão entranhados
nos hábitos sociais, como as festas populares, vão poder acontecer nos mesmos
moldes?
São muitas as questões, são
muitas as incertezas, que todos coletivamente vamos ter de saber enfrentar e
resolver ao longo dos próximos largos meses. No fundo, encontrar soluções
coletivas para novos problemas, no bom espírito que sempre esteve ligado ao associativismo.
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