Texto publicado na edição de 1 de maio do jornal Cidade de Tomar.
Assinalar o nosso dia da
Liberdade, o 25 de abril, é sempre bom momento para fazer reflexões.
Vivemos tempos absolutamente extramundanos,
dias tristes, quase que irreais, que requerem, e vão continuar a requerer de
nós uma grande capacidade de resiliência. O mundo mudará seguramente depois
desta pandemia, que não sabemos quando terminará, mas seguramente continuará também
enquanto crise económica e social, provavelmente a maior desde a 2ª guerra
mundial.
O nosso país como sabem estava
bem preparado financeira e economicamente, mas o embate desta crise é, vai ser,
seguramente colossal.
Os momentos de crise são também
bons para questionar – a nós mesmos, ao mundo, à vida.
Não a crítica fácil e tanta vez
desmesurada e descabida ao outro, aos outros. Não a quem está na linha da
frente e tem de tomar decisões e a quem tem de agir perante matérias para as
quais ninguém estava preparado e todos os dias tem de reagir e criar novas
soluções. Para isso haverá tempo.
Não, o que me refiro é à reflexão
pessoal. Quem me conhece há muito, e particularmente na política e no partido
socialista, já me terá muitas vezes ouvido ou lido a lançar o repto: para que
serve a política?
É nestes momentos mais que todos,
que essas questões são ainda mais pertinentes. A politica é… muita coisa. A
arte do possível, da decisão da coisa pública… e nos próximos tempos, que vão
ser difíceis, e provavelmente o advento de um mundo novo, um mundo que depois
da enorme batalha vai precisar de forças para se reerguer, um mundo onde muitas
decisões vão ser necessárias.
Espero eu, trabalharei por isso, que
sejam decisões e transformações com valores do socialismo, que são os do
humanismo, os do ser humano e do coletivo que somos.
Há muito a resolver a nível
mundial, europeu, nacional, mas há também muito que poderemos fazer a nível
local. Será preciso união, será preciso junção de esforços, será preciso… no
espírito de John Kennedy pensar não tanto no que possam fazer por nós, mas no
que poderemos fazer pelos outros e pela nossa comunidade.
Neste dia em que comemoramos a
Liberdade, é também importante refletir no que ela significa. Num tempo em que,
para um número cada vez maior da população portuguesa, como eu, a Liberdade
chegou ainda antes do nascimento, o risco de se dar como adquirido aquilo nunca
o está é cada vez maior.
Movimentos populistas, movimentos
que se apoiam na desinformação de parte da sociedade e na velocidade que as
novas tecnologias permitem essa propagação de mentiras e manipulação, sempre depois
mais difícil de desmentir e corrigir, são cada vez mais perigosos.
O mundo perde valores, vê muitas
vezes a política como coisa nefasta, não gosta da participação a esse nível e é
muito fácil e muito bem vista a critica tanta vez insultuosa às instituições em
geral e, independente do caráter, do espetro partidário ou qualquer outra
particularidade, a todos os que desempenhem funções que são em verdade em prol
dos demais.
E isso sempre foram os sinais,
desde que há memória, e que os gregos antigos inventaram o conceito de
democracia, para abrir caminho à perda dessa liberdade.
E, quase sempre o risco está nas
pequenas coisas. O insulto fácil promovido pela aparente segurança quase que
anónima do ato da participação de teclado, sem rosto ou história de vida, em
que qualquer um se torna controlador dos outros e das suas ações, em que
qualquer um aponta o dedo ao outro sem qualquer filtragem de ter ou não
legitimidade ética e moral para o fazer.
Os julgamentos de caráter cada
vez mais feitos na praça pública sem qualquer controle ou respeito pelas garantias
e liberdades individuais, são perigos para todos nós e para o nosso futuro. No
fundo, esquecendo um princípio muito basilar daquilo que deveria ser uma
existência cidadã em democracia: primeiro a autocrítica, primeiro olharmo-nos
ao espelho.
Bom mas, eu gosto sempre de me
focar nos apetos positivos. E se temos maus exemplos, temos muitos aspetos
positivos e bons sinais para continuar a acreditar e a ter esperança no futuro.
Por exemplo, há cada vez mais
praticantes do voluntariado, seja nas questões sociais e humanistas, seja nas
da sustentabilidade e da nossa sobrevivência global enquanto humanidade,
enquanto planeta, temas que até há poucos anos não estavam sequer no dicionário
das preocupações.
Nos tempos que atravessamos isso
tem sido bem notório. Sim, como sempre, há os que de tudo se queixam e quase
sempre devendo ser os que mais se deviam calar. Mas o importante são os que
metem mãos à obra, os que fazem, os que dão de si a pensar nos outros. Além dos
excelentes profissionais nas mais diversas áreas.
E aqui não podemos esquecer todos
os que, nesta fase que atravessamos, da área da saúde, da segurança, da
proteção civil, da alimentação, das áreas sociais ou da educação, aos
trabalhadores do município ou tantos que nas suas áreas profissionais dão tudo
de si, muitas vezes enfrentando riscos, para trabalhar pelos demais.
Também não posso enquanto líder
dos socialistas em terras nabantinas, deixar de particularizar e agradecer aos
autarcas que estão todos os dias no terreno, e a todos os militantes e
simpatizantes que nas últimas semanas se têm disponibilizado para ajudar
naquilo que venha a ser necessário.
O mundo mudou, vamos ter de nos
habituar a isto, conseguir ultrapassar a desconfiança que agora muitos temos uns
dos outros, e a viver numa realidade diferente desta, no dia em que nos for
permitido “regressar à normalidade”, a uma nova normalidade.
Voltar a ter confiança para sair
à rua e estarmos uns com os outros, como humanidade, como comunidade. Esperança,
resiliência, nós vamos ultrapassar isto,
Por Tomar, pelos tomarenses. Por
Portugal, pelos portugueses. Por todos nós e cada um.
Viva a Liberdade! Viva a
Humanidade!
Hugo Cristóvão
Presidente da concelhia de Tomar
do PS
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