sexta-feira, março 27, 2020

A imprensa no tempo dos ecrãs


artigo de opinião publicado no jornal Cidade de Tomar de 20 de março.

Solicita-me o CT que fale sobre “o futuro dos jornais regionais em papel, tendo em conta a “velocidade” atual das notícias e a veracidade (ou não) das mesmas” e da sua importância na destrinça entre a verdade e muita desinformação que nestes tempos invadem todos os meios.
Antes de mais, e sem dramatismos, é preciso constatar que a televisão não acabou com a rádio, a internet não acabou com a TV, e nenhum deles acabou com a imprensa. É preciso sim serem complementares e terem cada vez mais uma lógica multiplataforma.
Num tempo em que qualquer pessoa consegue atrás dum teclado de computador ou telemóvel inventar uma história, um boato, uma “notícia”, é quando a comunicação social séria - a que procura as fontes, confirma os factos, procura o contraditório – é ainda mais necessária.
O célebre “separar o trigo do joio”. Como costumo dizer, se não admite que qualquer pessoa lhe arranque um dente, também não deve admitir que qualquer um lhe impinja “notícias”.
Ora, estes efeitos são globais como sabemos, mas também nacionais e locais.
Localmente temos também esses fenómenos, que não devem como alguns defendem, ser ignorados ou alheados. Não, devem ser apontados, denunciados. Do senhor do “tomar na rede” que todos os dias manipula “notícias”, procura o escândalo e o populismo, com laivos de misoginia ou xenofobismo e ataques político/partidários à mistura; ao senhor que usurpou listagens de contatos e inunda os telemóveis com sms, aos perfis falsos que circulam no facebook. Esses terroristas sociais devem ser denunciados.
É o tal tempo da “pós verdade” como lhe chamam os sociólogos, em que passamos mais tempo a desmentir que a informar. Infelizmente assim tem de ser, e esse papel compete tanto à comunicação social séria e credível, como a cada um de nós cidadãos.
A verdade, a honra e a justiça, são fatores determinantes do exercício de cidadania e da construção de comunidades, e duma sociedade mais esclarecida, fraterna e tolerante.
A comunicação social e a imprensa em particular têm tanto essa responsabilidade de mostrar a diferença e cada vez mais ajudar, não só a esclarecer a verdade, como a denunciar quem mente. E assim sobreviverá e não só manterá como aumentará o crédito junto dos leitores como dos consumidores de notícias.
A imprensa local tem ainda a vantagem, mas também responsabilidade, de chegar onde os outros não chegam: aos problemas, às histórias, à vivência, às muitas atividades das comunidades por mais pequenas que sejam.
Por fim, por mais que os meios digitais sejam práticos e apelativos, o prazer de ler em papel, de folhear, até de sentir o cheiro da folha e da tinta, é algo que não tem correspondência com os ecrãs. Se o que lá estiver impresso for credível, essa pareceria será ainda mais apetecível.
Parabéns Cidade de Tomar, e a todos os que o mantém vivo!

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