terça-feira, outubro 06, 2015

Rescaldo eleitoral

Agora que o frenesim  da campanha e dos seus resultados passou, algumas pequenas reflexões sobre a última contenda eleitoral, partilhadas com quem as quiser:

- Cada vez mais se prova que campanhas nacionais se fazem pelos media nacionais, e pouco relevante é o que se faça a nível local (ainda que cada pequeno universo possa ter influências do seu contexto).
Por exemplo, o PSD-CDS praticamente não andaram na rua, e quando o fizeram quase sempre em cenários controlados, e no entanto foram os mais votados.
O resultado do BE, não ignorando o bom trabalho de Catarina Martins e Mariana Mortágua (que conseguiram fazer esquecer algumas saídas) e a capacidade de eliminar qualquer outro "ruído", por contraponto ao cansaço e à imagem de mais do mesmo em relação à CDU e aos demais, não deixa ainda assim de ser a prova de como os media determinam o pensamento geral "do povo".

- As sondagens, ou a espécie de sondagens que foram surgindo em catadupa (e que aliás deviam ser fortemente regradas, a bem da democracia) provaram para que servem: condicionar o pensamento geral. Tornou-se evidente a ideia, por essas sondagens criada e veiculada pela comunicação social particularmente na última semana, que a coligação tinha ganho antes de o ter e que o PS não tinha qualquer hipótese.
Até o Ricardo Araújo Pereira ajudou...

- É mais que tempo de mudar a forma de fazer de campanha. Muitos dos estrategas continuam delinear campanhas como se estivéssemos em 1974...
Comícios onde todos os que lá estão são arregimentados, visitas a mercados, e coisas do género, que não valem um voto e por vezes ainda retiram.
É preciso acabar com os desperdícios financeiros e "ruidosos" das campanhas: Outdoors, merchandising, multiplicação de panfletos, etc, que também não valem votos antes pelo contrário.
Estive na Alemanha nas últimas eleições regionais desse país. Pensam que lá se gasta como cá?!
E claro, falar de mais e sobre demasiados assuntos prejudica qualquer campanha.

- Sobre o falar demais... há muito se provou que, como nos policiais americanos, tudo o que se diz pode ser usado contra nós, mas há muito quem teime em não aprender com isso. Que o diga por exemplo António Costa e as vitórias por poucochinho...

- Gerir a estratégia das redes sociais, nomeadamente o fcbk. Bom, isto era toda uma dissertação. Digamos apenas que, menos seria mais, e que era tão bom voltarmos ao tempo em que os telemóveis serviam apenas para telefonar... A vaidade e a ligeireza com que se colocam fotos e fazem afirmações irresponsáveis...

Está provado há muito, lamentavelmente, que programas eleitorais dizem pouco aos portugueses. O PS andou durante meses a preparar um programa que apresentou devidamente. A coligação quase não tinha programa, mas um conjunto de promessas do Governo que foi pondo na rua na fase final de campanha. Mais, o PS deixou que o seu programa se tornasse assunto de campanha, ao contrário de quem estava em juízo, a coligação.
(temos exemplos nabantinos que mostram o mesmo, por exemplo, o PSD ganhou e por maioria absoluta a câmara municipal em 2005, sem apresentar qualquer programa eleitoral).

- A coligação de direita foi a mais votada, mas muito longe de ter ganho, uma vez que mais de 63% dos eleitores votaram noutros partidos, na sua maioria de esquerda (falta ainda fechar os resultados da emigração). Ou seja, leiam-se os resultados ao jeito de cada um, facto é que a maioria dos votantes manifestou estar contra a política seguida nos últimos anos.
E, curiosidade interessante, PSD e PS têm o mesmo número de deputados.

- Como costume, o partido mais votado foi o dos abstencionistas, batendo um novo recorde. E depois reclamam. Mas os partidos também não querem tirar ilações...
Sobre isso, apesar do resto, há muito que urge a necessidade de implementação do voto eletrónico. Estou convencido que a abstenção reduziria drasticamente se - e o voto eletrónico permitiria isso - em vez de ter de ir à sua mesa de voto, o eleitor pudesse votar em qualquer uma no espaço do território nacional. São muitos os milhares de portugueses deslocados no território e que por várias razões não têm hipótese de ir votar. O que é muito diferente dos que se estão nas tintas.

- Como no país, também no meu partido parece existir dificuldade em aprender com os erros. Ainda não está o fogo totalmente rescaldado, e há já malta a querer novas fogueiras.

Duas notas mais locais:
- As eleições devem ser feitas em torno de ideias e projetos, mas não deixo de salientar com tristeza a não eleição do nabantino Hugo Costa. Ainda assim, o futuro ninguém o sabe.
- O resultado na freguesia da Sabacheira, onde sabe-se-lá porquê o PSD nabantino muito tem investido, foi positivo para o PS, o que prova mais uma vez naquela freguesia que não vale tudo na política, e que a politiquice mesquinha e mentirosa mais que dar resultados, denuncia e castiga quem a faz.

1 comentário:

Anónimo disse...

E no momento actual, o que pensa da alternativa que parece estar a ser construída à esquerda ?