segunda-feira, setembro 23, 2013

Uma voz na pedra

Não sei 
se respondo ou se pergunto. 
Sou uma voz que nasceu na penumbra do vazio. 
Estou um pouco ébria e estou crescendo numa pedra. 
Não tenho a sabedoria do mel ou a do vinho. 
De súbito ergo-me como uma torre de sombra fulgurante. 
A minha ebriedade é a da sede e a da chama. 
Com esta pequena centelha quero incendiar o silêncio. 
O que eu amo não sei. Amo em total abandono. 
Sinto a minha boca dentro das árvores e de uma oculta nascente. 
Indecisa e ardente, algo ainda não é flor em mim. 
Não estou perdida, estou entre o vento e o olvido. 
Quero conhecer a minha nudez e ser o azul da presença. 
Não sou a destruição cega nem a esperança impossível. 
Sou alguém que espera ser aberto por uma palavra. 

António Ramos Rosa
(RIP)