sábado, fevereiro 16, 2013

Carnavais e outros folguedos

foto de O Templário
artigo publicado n'O Templário de 14 de fevereiro (embora já escrito há uns tempos)

A câmara rejeitou o apoio à organização do carnaval na cidade (tendo dos sete, apenas o vereador socialista Luís Ferreira votado favoravelmente, em acordo com aquela que é a posição do PS, coerentemente assumida há vários anos).
Enfim, a rejeição é uma decisão tão condenável como aceitável. Tudo depende da estratégia municipal para o desenvolvimento dos eventos com um cariz turístico e de contributo económico. A estratégia que em Tomar… não existe.

No PS há muito defendemos – e não é nada original, apenas perceber o que tem de ser feito se se quiser fazer bem, e observar e aprender com o que outros já fazem – que o concelho precisa de apostar num conjunto de eventos, continuados, diversificados, com qualidade, que mantenham um cartaz permanente ao longo do ano, que contribua para uma efetiva evolução do turismo enquanto potenciador de desenvolvimento económico, contribuindo para a criação de empregos e produção de riqueza.

Basta pensarmos num exemplo que nos é próximo em vários aspetos: dimensão, património histórico e natural, boa localização geográfica – Óbidos – e perceber o que era há pouco mais de uma década, e o que é hoje depois dessa estratégia bem delineada e coerente ter sido e continuar a ser aplicada.
Ali a estratégia prova-se bem sucedida. De uma vila quase só conhecida pela sua ginga, temos hoje um concelho com atividades diversificadas e já estabelecidas, identitárias, que promovem a fixação e desenvolvimento de outras atividades na área cultural e artística, e também na área desportiva, entre outras. O turismo e a cultura provaram-se capazes de criar emprego e riqueza porque ao contrário de Tomar não se limitaram a mandar uns bitaites. Pensaram, planearam, executaram. Investiram, produziram.
E para que conste, para que não me acusem de só usar exemplos socialistas, falamos aqui de um concelho dirigido pelo PSD. A questão aqui não é ideológica ou partidária, é de bom senso, capacidade e vontade de trabalhar. Tudo o que em Tomar tem faltado aos dirigentes políticos.
Em Tomar, fala-se, promete-se, mas saber e fazer… pouco!

Não podemos ficar-nos por um monumento mais ou menos visitado, e por um ou dois eventos anuais ou nem isso, como os Tabuleiros ou as Estátuas Vivas, que sim, são importantes como figura de cartaz e grande atratividade, mas que enchem a cidade em curtos dias, e de onde verdadeiramente se retira pouco mais.
Precisamos de mais eventos, mais pequenos, mas mais continuados. Que tragam menos pessoas de cada vez, mas mais vezes ao ano, que promovam o alojamento e os gastos na restauração, tendo assim verdadeira capacidade para serem sustentáveis.

Voltando ao ponto inicial, apesar da recusa no apoio, a entidade que pretende organizar o Carnaval vai avançar mesmo assim. E isso é muito importante. Tomar não tem sabido aproveitar a sua capacidade instalada: naturalmente os já abordados património histórico, cultural e natural, a sua localização geográfica, e também, o que muitos não têm, um importante movimento associativo que nas mais diferentes áreas muito produz, mas ao qual falta um olhar por cima, um olhar coordenador, um olhar estratégico.
E também por isso, temos instituições importantes, mas que raras vezes trabalham em conjunto ou com desenvolvimento de atividades comuns.
O desenvolvimento de atividades que resultem da iniciativa associativa ou comunitária é algo que não pode ser inventado, tem que existir para ser real. É o exemplo do carnaval da Linhaceira, que não depende de subsídios para se realizar e que tem esse enorme e importante cariz de envolvência da comunidade. O mesmo se passa com o Festival Bons Sons em Cem Soldos, um evento já de dimensão nacional e com qualidade reconhecida nos mais diversos fóruns.

Ao longo dos últimos anos faltou sempre esse acarinhar das instituições existentes, a capacidade de as envolver em objetivos comuns e maiores, de as envolver numa estratégia concelhia da qual sejam verdadeiros parceiros e executores. Ao invés, temos uma filosofia de subsídio mais ou menos indiscriminado, casuístico, em função apenas da dimensão maior ou menor das migalhas sobrantes do orçamento municipal. Uma espécie de subsídio caritativo institucional.
Não é isso que nos serve, e não é isso que nos permitirá o desenvolvimento tão propalado mas sempre vazio, do turismo enquanto real vetor estratégico do desenvolvimento económico e identitário do concelho.
Mas é o que temos, resta saber até quando. Não é apenas no turismo e nos eventos, é em praticamente tudo o resto. Fala-se, promete-se, fala-se de novo, promete-se mais… Mas estamos sempre na mesma. Ou pior.

1 comentário:

Sónia Pais disse...

Subscrevo!
Tive a oportunidade de falar com o administrador da óbidos patrimonium há uns anos atrás e posso dizer que os eventos serviram como catapulta de investimento. Os grandes eventos de massa que aí são feitos e que na base contribuem para o desenvolvimento do comércio e turismo durante os dias em que acontecem, têm um objectivo maior. Os lucros servem para alimentar o restante cartaz de eventos anual, efectuados para nichos de mercado, que Óbidos quer atrair até si, e esses sim os verdadeiros investidores. Os que têm contribuído para que o concelho se tenha desenvolvido a vários níveis. Claro, que também Óbidos sofreu com a crise e claro que também muitos desses investimentos estão parados, mas existem e terão uma continuação.
Estratégia e plano precisa-se!