segunda-feira, novembro 28, 2011

o fado alfacinha e o "fado nabantino"


Como há muito se esperava, o Fado tornou-se este fim de semana na primeira inscrição portuguesa na lista da UNESCO do Património Imaterial da Humanidade. É importante para o mundo do fado, importante para Lisboa e para todo o país.
A candidatura do Fado envolveu dezenas de pessoas entre "artesãos da faina" e académicos que nada tinham que ver com fado, que ao longo dos 6 anos que a candidatura demorou a preparar fizeram investigação, recolheram o mais diverso tipo de documentos, entrevistaram, selecionaram, catalogaram...

As imagens que ilustram este texto são em primeiro as duas versões de "O Fado" (foto do DN), a mais célebre pintura de José Malhoa, quando o ano passado pela primeira vez foram expostos em conjunto, precisamente para comemorar o centenário da segunda versão (o mais antigo é um ano mais velho). A segunda é uma recriação desse quadro por Amália Rodrigues e um dos seus guitarristas de eleição, Jaime Santos.

Entretanto, um pouco por todo o país outras candidaturas se preparam, como a da cultura avieira em Santarém (também aqui) para usar um exemplo próximo.
Já sobre uma eventual e lógica candidatura da Festa dos Tabuleiros a verdade é que como há muito alerto, fala-se nisso há muito tempo, Corvêlo de Sousa chegou a responder-me repetidamente ao longo dos últimos dois anos, tanto em privado como em Assembleia Municipal que a coisa estava já ser tratada, mas todos sabemos que nada, absolutamente nada há iniciado nesse sentido. Isto apesar de eu saber e já o ter transmitido, que há pessoas cientificamente apetrechadas, algumas ligadas a esta candidatura do Fado, que estariam disponíveis para trabalhar numa para a Festa.
Só que nesta pedantice saloia que por vezes impera em Tomar, há até quem julgue que isto lá vai com dois ou três carolas auto designados conhecedores do assunto, que se juntam num fim de semana, improvisam um documento e pronto...
Porque cultura e património são das áreas que mais me apaixonam, e porque este caso concreto mostra bem do laxismo e da leviandade com que são tratados os assuntos na CMT, já aqui abordei várias vezes o tema. O mais completo desses textos republico-o em seguida:

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INTAGIBILIDADES (9.04.2010)
Hoje que, com a escolha do mordomo se dará o pontapé de saída para a próxima Festa dos Tabuleiros, é um bom dia para falar de património intangível, e da sua intangibilidade tanto em Tomar como genericamente no País.

Quando já se fala numa eventual candidatura da Festa dos Tabuleiros a tal designação é importante, sem a emoção que ofusca a razão com que por vezes (ou muitas) se discute a festa, ou a falta de conhecimento sobre as matérias que também abunda, perceber do que se fala, quais as vantagens e desvantagens, e o que fazer para poder ambicionar lá chegar.

Para tal é desde logo importante perceber que, em Portugal não existe nenhuma atribuição dessa designação embora já várias tenham sido tentadas. O que é que falhou? Bom, esse é um bom ponto de partida para analisar a coisa com profissionalismo, e perceber que quando se quer levar a cultura e o património, e o espectável turismo a sério, é preciso que nem se caia no amadorismo bacoco e inconsequente, nem na catedra pretensiosa e compremetida apenas com o soldo do projecto.
Fica o dado de que, embora se falem noutros, o processo que está aparentemente mais avançado e com possibilidades de vir a ser o primeiro aprovado para o nosso país, será a candidatura do Fado.
Diga-se ainda que os campeões de património intangível registado são a China com 29 elementos e o Japão com 16. A nossa vizinha Espanha já tem 4.

Embora trabalho básico de pesquisa para um paper académico que estou a preparar, deixo aqui para meu registo, mas também para todos os que quiserem ler e saber mais, alguns links sobre o assunto:
O que é o Património Intangível, a Convenção de 2003 que cria essa designação como uma das facetas do Património Mundial (World Heritage), os domínios em que podem ser apresentadas candidaturas, entre várias outras questões, podem ser encontradas aqui.

Também a lista completa dos 90 elementos já constantes como Património Intangível Mundial e alguns exemplos por mim escolhidos:
Samba de roda do Recôncavo da Baía (Brasil); Tango (Argentina e Uruguai); Royal Ballet (Cambodja) (2ª foto ilustrativa); Canto polifónico dos Pigmeus Aka (República Centro-Africana); vivência cultural da praça Jemaa el-Fna de Marraquexe (Marrocos) (3ª foto ilustrativa); Timbila dos Chopi (Moçambique);

e ainda:
Descrição sucinta das fases de candidatura; Formulário a ser apresentado pelo país com património candidato; guias gerais de implementação da Convenção do Património Mundial (que inclui entre mais, os critérios de selecção) e algumas notícias da Unesco sobre património intangível.

Nota à margem: Não deixa de ser revelador que os links no site da UNESCO para o Convento de Cristo e Castelo Templário não funcionem. (Mais de um ano e meio depois, continuam sem funcionar)

1 comentário:

Sofia Vieira Lopes disse...

Pois é... Há quem esteja vivamente interessado em tratar do assunto... E realmente uma candidatura válida não se faz nem em dois dias nem "às três pancadas"... A candidatura do fado foi algo pensado e concebido com tempo, por pessoas com conhecimento científico para tal...
A festa dos tabuleiros merece uma candidatura com nível.