artigo escrito no dia seguinte às eleições e publicado no jornal Cidade de Tomar do dia 17 de Junho
Findo mais um acto eleitoral no nosso país, é tempo em primeiro lugar de felicitar os vencedores, o PSD e o CDS.
Razão de muitos factores que não me apetece abordar, mas entre eles também a eterna desactualização dos cadernos (que como diz a revista Visão, favorece a direita), há a lamentar uma vez mais a elevada abstenção. Sempre mau sinal para a qualidade da Democracia.
Entra-se agora, particularmente para os derrotados, em período de reflexão e necessária mudança. Encerra-se um ciclo, um novo começa uma vez mais com a direita coligada no poder em Portugal.
Esse factor bem como o grande trambolhão do BE vêm novamente mostrar à evidência um grave problema político do nosso país: o facto dos dois partidos com assento parlamentar à esquerda do PS (dois porque os Verdes não contam, são uma fraude política do PCP ainda com complexos de se apresentar aos eleitores com a sua verdadeira sigla) não contarem para a governação, são apenas os tais partidos de protesto que servem para uma franja da população que gosta de ser "do contra" mas que nada ajudam a resolver e neles não se identificam a generalidade dos eleitores, independentemente de aqui ou ali concordarem com traços da sua ideologia política.
E enquanto assim for, a esquerda portuguesa estará sempre coxa. Eu pessoalmente acredito em maiorias com coligações de vários partidos, e isso é absolutamente normal em Democracias evoluídas e maduras. Em Portugal isso é impossível à esquerda. E é lamentável enquanto assim for.
Esperamos que para esses partidos, particularmente o BE, o actual resultado venha a servir para essa reflexão sobre a sua postura, bem como sobre a postura que levou ao regresso da direita ao poder.
Quanto ao PS, o resultado adivinhava-se embora confesso que não esperava que ficasse abaixo dos 30% e a tão grande distância do PSD. A política é também a gestão das expectativas, e a expectativa de que Sócrates desse uma "malha" no debate com Passos Coelho não se verificou, tendo o debate sido morno e equilibrado. Esse equilíbrio foi aproveitado pelo PSD e por muitos comentadores para ver uma vitória onde houve um empate, e esse foi o momento da mudança. Claro que também ajudou terem calado Eduardo Catroga e outros actores.
A partir daí, com o espectáculo de sondagens diárias que em verdade apenas davam 1%, 2% de vantagem ao PSD, com elevadíssima margem de erro e de indecisos, o facto é que isso criou na última semana no país, um sentimento que o PSD afinal ia mesmo ganhar, e esse sentimento colectivo tem efeitos depois nos resultados finais.
A vitória do PSD não deve apesar de tudo significar para estes grandes euforias, basta ver que agora num contexto que lhe seria à partida muito mais favorável, o resultado ficou ainda assim aquém do alcançado por Durão Barroso há uma década atrás.
Voltando ao PS, claro que houve erros da governação, claro que houve uma excessiva personalização do líder (mas isso também tem que ver com os tempos que correm), aproveitada por todos os contra o PS para fazer uma campanha anti Sócrates que pegou muito bem. Basta lembrar o triste discurso de Manuela Ferreira Leite, ou mesmo nos festejos de vitória do PSD em que militantes afirmavam que mais que a vitória do PSD, comemoravam a derrota de Sócrates! Que belo prenúncio para Passos Coelho...
Quanto a Sócrates, teve um discurso digníssimo o que nem sempre acontece (basta lembrar Cavaco no seu discurso de vitória), e apesar de não ser aquela que seria a minha primeira escolha se outras tivessem aparecido internamente no PS, foi um Primeiro-ministro corajoso, forte, líder, determinado, sem medo dos lobbys, e atacado a todos os níveis incluindo na vida privada, desde o primeiro dia como nenhum outro na história da nossa Democracia. (Basta comparar com Passos Coelho que também tem as suas histórias mal contadas, e perceber que nada dele se falou na comunicação social).
E daqui a alguns tempos estou em crer, mesmo muitos daqueles que o criticavam, ainda vão ter saudades de Sócrates. É costume dizer-se: depois de mim virá quem de mim bom fará. Não tenho dúvidas que é o que a distância temporal dirá de Sócrates. Um grande Primeiro-ministro, porventura o melhor do pós 25 de Abril.
E da governação do PS neste momento difícil do país e do mundo, ficam os avanços em áreas como as novas tecnologias, a investigação científica, a modernização das escolas, a diplomacia externa, os apoios sociais, a redução dos índices de pobreza e melhoria de vários outros indicadores ao nível da OCDE, e mesmo a primeira redução de sempre na nossa Democracia do défice das contas públicas, apesar de depois ter novamente subido por via das medidas sociais de combate à crise.
Agora, teremos novo Governo e uma nova página política. Mas os problemas do país continuam a ser os mesmos e a agravar-se. Será por isso necessária, tal como afirmou Sócrates, uma grande capacidade de diálogo, de compromisso, de sentido de Estado por parte de todos os interventores. Precisamente as mesmas capacidades que, num olhar local, para a difícil situação do nosso concelho o PSD nunca mostrou e se recusou determinantemente a empreender.
Quanto ao país que em breve vai a banhos, só lá para Setembro acordará verdadeiramente para a nova realidade que escolheu. Por mim, tenho francamente receio de duas coisas, que Passos Coelho não seja um líder forte e se deixe liderar por outros, e que a agenda neoliberal escondida do programa do PSD, muito mais à direita que a generalidade do povo português, inclusive dos que lhes deram vitória, venha a ser executada a pretexto das exigências da Troika. Veremos o que nos trazem os próximos tempos.
Nota à margem: O Ricardo Lopes, vice-presidente do PSD de Tomar, ainda mais jovem que eu na vida e na política, tem o hábito de quando em vez escrever umas coisas com muita dose de, ou ingenuidade ou declarada deturpação da verdade.
Novamente aconteceu na passada semana num artigo dirigido neste jornal a um dos vereadores socialistas, Luís Ferreira. Ricardo, se alguém do PS entrou no Congresso da Sopa com convite (o que seria normal pelas funções desempenhadas), quantos do PSD terão entrado? Não sabes Ricardo que a organização do evento (logo, também a distribuição de convites) está a cargo do pelouro do Turismo, responsabilidade do PSD?
O que podias e devias estar a perguntar Ricardo, é porque é que sendo convidadas algumas entidades, como as Juntas de Freguesia, são sistematicamente “esquecidos” como aconteceu uma vez mais, com grande desrespeito institucional, a entidade mais representativa do concelho, os elementos da Assembleia Municipal?
Afirma depois o Ricardo, com distinta lata, que o Congresso da Sopa deu prejuízo no ano em que esteve sobre a responsabilidade de um vereador socialista. Pois responde-me Ricardo, quando é que o Congresso da Sopa alguma vez deu lucro? Certamente Ricardo, conheces as regras de contabilidade pública (desconhecidas normalmente pelos responsáveis políticos do PSD na Câmara, que fazem as contas só com as parcelas que lhes interessam) e sabes que se as contas forem feitas com todas as parcelas, como foram feitas no ano passado, aí sim, sabemos realmente quanto custa aos cofres públicos um qualquer evento.
Estamos aliás ainda à espera das contas deste ano. Será que já as viste Ricardo? Tentou falar-se em sucesso e renascimento e outros disparates. Mas se o número de pessoas que entrou foi sensivelmente o mesmo do ano passado e os custos obviamente maiores, desde logo pela colocação da tenda, com que parâmetros é que se pode chegar ao termo “sucesso”?
Ora Ricardo, vocês no PSD gostam agora muito do termo “Verdade”, pois era bom que o usassem em toda a sua abrangência.
Cá por mim, tento seguir aquele provérbio indiano que também te deixo como conselho: “Quando falares, procura que o som das tuas palavras seja melhor que o silêncio”.
2 comentários:
obrigado
Obrigado porque...?
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