artigo publicado no jornal Cidade de Tomar de 27 de Junho.
Agora que entrámos em força na campanha eleitoral parece-me que começa a ser evidente a tendência principal, o mote usado pela generalidade dos partidos da oposição. Propostas, ideias, soluções; capacidade de diálogo, de compromisso, a importante capacidade de num momento difícil esbater diferenças e dar mais relevância ao que de comum pode ser encontrado como forma de em conjunto enfrentar os problemas… nada disso, o que interessa é gritar bem alto aquilo que julgam que os portugueses querem ouvir, que as culpas todas passíveis de encontrar no mundo são do PS e que nada querem com o José Sócrates mesmo que, vejam lá bem, os portugueses venham a entender dia 5 de Junho, que é ele e o Partido Socialista quem deve continuar a governar.
Esqueçamos tudo o que fez de bom, esqueçamos o choque tecnológico e as medidas de simplificação administrativa que poupam milhões ao estado e milhares de horas e paciência perdida aos cidadãos;
Esqueçamos o investimento nas energias renováveis que criam postos de trabalho e reduzem a dependência energética do país, logo, também ajudam a atenuar a dívida externa, e que fizeram de nós o líder mundial neste sector, e esqueçamos as 9 barragens em construção e que 45% da electricidade que consumimos é agora produzida em Portugal, ou ainda que somos pioneiros na difusão do carro eléctrico a ponto de termos já várias empresas desse sector a instalarem-se cá;
Esqueçamos todo o investimento na modernização de mais de 100 Escolas Secundárias e na construção de centenas de novos Centros Escolares e todo o demais investimento na educação, como o aumento das crianças abrangidas pelo Pré-escolar ou com outras ofertas pedagógicas como o Inglês logo no 1ºCiclo, ou ainda a maior abrangência da Acção Social Escolar – ou mesmo os quase 2 milhões de computadores distribuídos;
Esqueçamos as centenas de novas Unidades de Saúde Familiar, de Unidades de Cuidados na Comunidade, os Novos Centros Hospitalares já construídos ou em construção; a redução dos inscritos em espera para as cirurgias ou outras medidas na área da Saúde como o cheque dentista;
Esqueçamos os sucessos do Tratado de Lisboa, da Cimeira da Nato, e das Cimeiras com África e com o Brasil, ou a escolha de Portugal para membro do Conselho de Segurança das Nações Unidas;
Esqueçamos a rede de Cuidados Continuados, as mais de 400 novas creches, os quase 1000 novos equipamentos sociais, os mais de 50000 lugares em lares ou os novos Centros de Dia, ou os quase 300000 idosos com pensões mais baixas que recebem o Completamento Social criado pelo Governo;
Esqueçamos coisas tão díspares como o maior aumento de sempre do salário mínimo, todo o investimento no Turismo, o passarmos a ser o país da Europa com maior aumento da investigação e desenvolvimento científico, as parcerias com empresas e instituições internacionais, o aumento em 15% de inscritos no Ensino Superior;
Esqueçamos o aumento de quase 16% das exportações, da extinção de 25% dos organismos públicos e cargos de dirigentes, bem como o fim de muitas das regalias de detentores de cargos políticos;
Esqueçamos as questões das Igualdades e Garantias individuais como a despenalização da IVG ou a reforma da Lei da Nacionalidade;
Esqueçamos todos estes FACTOS, esqueçamos tudo isso e centremo-nos nas culpas!
Sim, é evidente nesta campanha que a tendência de discurso de todos os políticos e mesmo meros comentadores adversários do PS é o de proclamar que todas as culpas são, precisamente do PS e de Sócrates.
Sim, o país produz pouco, gasta muito, há décadas que gasta acima das suas possibilidades... a culpa é do PS e de Sócrates!
A dívida externa do país aumentou, a fatia maior da dívida do país é a das empresas e das famílias e das suas dívidas individuais – sim, porque a malta endivida-se até para comprar televisões e férias no estrangeiro mas a culpa é... do PS e de Sócrates!
Se o ex-futuro ministro das Finanças de Passos Coelho, Eduardo Catroga, desce o discurso de campanha ao nível do debate púbico a ponto de ser obrigado a ir de férias, ou se Passos Coelho insulta formandos e formadores do programa Novas Oportunidades usando a mesma capacidade crítica de quem avalia o comportamento do árbitro num jogo de futebol, e se tentando emendar o discurso voltou a insultar o mais de 1Milhão que já frequentou o programa… ou se os portugueses não acreditam em Passos Coelho e na equipa que não tem, não lhe reconhecem credibilidade ou confiança, não vêem nele uma alternativa… a culpa só pode ser do PS e de Sócrates!
Mas não fiquemos por aqui, porque como dizem os do PSD, CDS, BE e PCP, não há nenhuma crise global, todas as culpas são do Governo do PS e de Sócrates. Logo, a situação na Grécia que levou à intervenção do FMI e mesmo assim aquilo não vai ao sítio e o FMI vai ter de lá voltar porque... a culpa é do PS e do Sócrates.
Na Irlanda a Banca faliu e levou consigo o país para o buraco, mas claro, a culpa é do PS e de Sócrates.
A Inglaterra tem uma dívida externa muito maior que a portuguesa e onde se prevê por exemplo, o despedimento de milhares de funcionários públicos e há manifestações permanentes dos cidadãos – naturalmente porque a culpa é do PS e de Sócrates.
A Itália tem uma dívida ainda maior que a de Inglaterra, mas lá ninguém se interessa com isso porque as crises são com os escândalos sexuais do Berlusconi - e de quem é a culpa?, do PS e do Sócrates.
Ali ao lado em Espanha a taxa de desemprego chegou aos 25% - 5 milhões de desempregados! E havendo manifestações lá por todo lado o que dizem os manifestantes? Que a culpa é do PS e do Sócrates!
A Bélgica está numa crise política profunda sem Governo eleito há um ano… por culpa do PS e do Sócrates.
Se até em Cuba, aquele reduto do comunismo já quase único no mundo, o Governo despede 1 Milhão de funcionários Públicos… pois a culpa é do PS e de Sócrates.
Se o Kadafi mata o próprio povo, e em Jerusalém os judeus e os palestinianos não se entendem; no Egipto, na Síria, no Iémen e por esse mundo fora anda tudo às avessas... a culpa claro está, vocês sabem, é do Sócrates!
Até aqui em Tomar, com o desastre da governação dos últimos mais de dez anos, com a dívida de 35 milhões e a aumentar, com esta Câmara que é uma lástima, a culpa será de quem? Ora pois claro, repitam lá comigo que vocês sabem - é do PS e do Sócrates!
Ora, se Judas traiu, Pilatos lavou as mãos e Pedro três vezes negou; se chove quando devia fazer sol e quando está sol devia chover; se o guarda-redes era um frangueiro e o Benfica não ganhou o campeonato… a culpa é do Sócrates, Sócrates, Sócrates!
E se você caro leitor, não perceber o ironia deste texto, de quem é que há-de ser culpa? Do PS e de Sócrates pois claro.
E se dia 5 de Junho não for votar e deixar que outros decidam por si, e depois andar a reclamar à mesma, que são todos iguais e nenhum vale nada, já sabe de quem é a culpa não sabe?
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