artigo publicado no jornal Cidade de Tomar de 16 de Julho.
Custódio, além de nome pessoal pode ser igualmente, na abundância de significados da língua portuguesa, adjectivo de protector, defensor, guardião. Custódio Ferreira anunciou na última Assembleia Municipal o seu afastamento, eventualmente temporário, da vida política.Custódio Ferreira é um Ser Político por quem só podemos ter elevada estima. Além do que imagino da sua vida durante o anterior regime, sei da sua biografia que foi Deputado à Assembleia Constituinte após o 25 de Abril, foi membro do Comité Central do PCP, é autarca há mais de 30 anos, os últimos 16 como Presidente da Junta de Freguesia de Paialvo, onde agora foi substituído.
Não é a primeira vez que elogio “adversários” políticos, mas o Custódio Ferreira é especial. Separam-nos 50 anos de vida. Entre mim e ele muitas gerações de diferentes oportunidades, diferentes concepções do país, do mundo, da vida.
Mas elogiar Custódio Ferreira é elogiar a Política. E isso é, cada vez mais nos tempos que correm, de superior importância. Enaltecer aqueles que entregam a sua vida, o seu tempo, a sua experiência e sabedoria acumulada em prol das suas comunidades, em prol dos demais, e vezes demais a comunidades pouco agradecidas, que mais exigem que reconhecem, que mais ofendem até, do que agradecem.
Nestes tempos de modas fugazes, de capitalismo selvagem, de prazeres egoístas, imediatos e fortuitos, Homens como Custódio Ferreira provam que as críticas generalizadas aos políticos são injustas. A maioria dos que se entregam à causa pública, acreditando em valores e ideais tantas vezes minoritários, com sacrifícios pessoais e profissionais, sacrifícios de vida, fazem-no por uma necessidade intrínseca de trabalhar pelos outros, pela vontade da partilha, pela entrega a algo mais que o próprio ser.
Esses são os verdadeiros políticos, esses são a maioria, a esses se devem o desenvolvimento das nossas comunidades, do nosso país, tantas vezes injustamente acusados, num país de memórias curtas, de apenas ambicionarem a satisfação pessoal.
É também, num tempo onde não reflectir, não acreditar, não se preocupar, não se identificar, quando faz mais sentido o elogio da ideologia, o elogio de ter valores, elogiar os que defendem algo contra os que, proclamando modas “independentes” iguais a coisa nenhuma, pretendem o afastamento desses valores ou a propagação de ideologias difusas, ou a simples ideia que não é preciso acreditar em nada e nada fazer pelo mundo em que vivemos, a começar na nossa rua.
Claro que não partilho da grande maioria das convicções de Custódio Ferreira, como não comungo dos ideais comunistas, claro que não partilho da sua cristalização no tempo, e da forma estanque como se isolam do mundo progressista, que já nem em alguns países assumidamente comunistas – veja-se a China – são verdadeiramente seguidos. Esse isolamento do mundo real e actual que ditará se mudanças não fizerem, a extinção desse partido a médio prazo. Tal como o ser humano que as constrói, as ideologias evoluem.
Mas não é isso que aqui está em causa, sim o homem, e todos os que como ele se entregam a causas, defendem aquilo em que acreditam, com coragem, com determinação.
A Política, ao contrário do que acusam os que nela não embarcam, é muito ingrata, desgastante, injusta para a grande maioria dos que a levam por diante, e por isso, embora muitos, como já antes disse, nela estejam pelos motivos certos, poucos aguentam estoicamente como Custódio Ferreira aguentou, poucos dedicam toda uma vida à causa pública, poucos suportam a constante pressão de ouvir e responder às críticas, aos anseios, aos pedidos, e também às injúrias, às injustiças, aos dislates de tantos dos demais.
Por tudo isto, ideologias à parte, Custódio Ferreira, Homem Político, merece sem dúvida a admiração de todos. Na sua despedida na Assembleia Municipal, fiel ao significado do nome que carrega, afirmou-se realizado por sempre ter defendido os interesses dos mais necessitados e em particular da sua freguesia. A todos nós só resta pedir que o seu exemplo nos continue a inspirar.
.
Sem comentários:
Enviar um comentário