De há umas semanas para cá temos vindo a assistir ao regresso do "não jornalismo" tomarense ao seu "melhor" nível. O Cidade de Tomar brinda-nos esta semana com mais umas lições sobre o assunto.
Não é sequer a esta pergunta de refinada subtileza - "Vereador paga agora factura de mau resultado eleitoral?" - colocada na primeira página e novamente no título da página 3 a que me refiro, por muito que alguns conceitos de ética ou de equidade levem a perguntar quando alguma vez se viu interrogação carregada de tanta malícia colocada sobre o PSD local ou outros protagonistas.
Não, o que ainda assim é mais perturbante é que se faça passar por jornalismo tudo o que escreve na página três. Ficamos na dúvida, são aquilo notícias? Não aparentam ser, mas como ninguém assina não parece ser um artigo de opinião. Logo, é suposto entendermos aquilo como notícia. Talvez no Cidade não se saiba bem a diferença entre relatar um acontecimento e comentá-lo.
A que propósito a comparação com o caso Luísa Mesquita? Há alguma semelhança? Talvez para um cidadão pouco informado, mas para um jornalista por muito medíocre que fosse não deveriam existir.
E qual a pertinência de presunções à volta de “facturas eleitorais” volvidos mais de dois anos sobre as eleições? É algo objectivamente estranho, ou não tivessem vindo da parte de jornalistas, desde o exacto dia das eleições, a pressão e as conjecturas sobre quando deixaria o lugar o vereador socialista. E surge a clássica questão: o jornalista é espectador ou actor da notícia?
Acreditei que com a nomeação de Ana Felício para a chefia da redacção, jovem e jornalista de formação, o rumo do jornal ganhasse algum equilíbrio e porque não dizê-lo, um vinco de maior rigor e competência – ingenuidade minha, ou a auto ilusão dos que em algo querem acreditar.
Qualquer tomarense com dois dedos de testa sabe e diz, e eu já o disse muitas vezes, que a comunicação social nabantina nunca primou pela imparcialidade, mas há limites de bom senso e razoabilidade. No Cidade de Tomar parece que não se conhecem esses limites.
Mas são precisos mais exemplos? Não seja por isso que eles não faltam nesta edição e não os enunciarei todos, mas olhemos para a página 2 e veja-se a grande parangona: “IRS do concelho de Tomar é o maior”.
E o leitor mais avisado perguntará: e isso é relevante para quê? Ora, relevante porque parece confirmar a teoria que o senhor Presidente da Câmara explana (mais uma vez) na página 13: “a qualidade de vida demonstrada é acima da média, agora mais uma vez comprovada pelos números desta vez pelo IRS.”
Uma simples leitura inteligente à tabela que o jornal apresenta bastará para pôr essa conjectura por terra, mas às teorias de António Paiva voltarei se a vontade o mandar, agora centro-me no jornal.
É estranho, com a relevância que PS e IRS assumem nesta edição do jornal, que não exista qualquer referência à proposta apresentada em reunião de câmara pelo PS, sobre a redução de IRS no concelho, quando no entanto houve espaço para as propostas dos “independentes”.
(O que me lembra de agradecer aos mesmos, por mais uma vez fazerem o reforço das propostas do PS, desta vez na proposta de medalha para a Ana Rente. Lembro que o PS por minha mão, já em Fevereiro havia proposto que a Câmara homenageasse personalidades ou instituições de mérito, e Ana Rente foi um dos exemplos mencionados. Mas apresentaram e bem, porque as ideias quando se tornam públicas são de todos.)
Enfim, quanto ao jornal não quero alongar-me mais hoje. Pessoalmente já várias vezes fui atacado ou mesmo prejudicado por uma espécie de notícias, e na maioria das vezes deixei o assunto morrer. Não sou eu contudo, ou pelo menos apenas, que estou agora em causa. Por muito que goste das pessoas, e ainda que perceba a dificuldade de quem tem contas ou “contas” para pagar, não posso esquecer que algumas responsabilidades sobre mim pesam, e que por isso terei como muitos me pedem, de passar a ter um relacionamento e uma atitude diferente para com certo tipo de “jornalismo”.
Não podia contudo terminar sem um pouco de exercício cívico, se mais não for para esclarecimento do jornal e de quem escreveu as “notícias” da página 3.
Sobre a suspensão e demais bulício da reunião de câmara de dia 30, sobre a qual aliás o PS lançou comunicado, diz o jornal, na tal linguagem que nada tem a ver com o relato duma notícia, que “Ficou a dúvida se o PS conhecia a legislação” pois “o vereador Becerra Vitorino tinha de ser convocado com 48 horas de antecedência”. Mas não, o que o PS de Tomar não conhece é autarquias onde situações básicas da Democracia sejam tratadas desta forma (mesmo a Assembleia Municipal de Tomar tem procedimento diferente) e não gostaríamos de conhecer jornais onde questões de governo autárquico e respeito pela pluralidade partidária fossem tratadas com esta leviandade.
Mas não quero dar lições, por isso e para que cada um possa ler, aqui fica a ligação para a Lei nº 169/99, que estabelece o quadro de competências, assim como o regime jurídico de funcionamento, dos órgãos dos municípios e das freguesias, e a transcrição do que interessa para o caso, ou seja, o ponto 4 do artigo 76º que aqui transcrevo, e para o qual remete o ponto 7 do 77º (suspensão de mandato e convocação do membro substituto):
"4 - A convocação do membro substituto compete à entidade referida no nº 2 e tem lugar no período que medeia entre a comunicação da renúncia e a primeira reunião que a seguir se realizar, salvo se a entrega do documento de renúncia coincidir com o acto de instalação ou reunião do órgão e estiver presente o respectivo substituto, situação em que, após a verificação da sua identidade e legitimidade, a substituição se opera de imediato, se o substituto a não recusar por escrito de acordo com o nº 2."
Obviamente não foram dúvidas de legalidade de que aqui se tratou, mas de má-fé política. Assim como terei de começar a aceitar que não é por ingenuidade ou incompetência que algumas coisas se escrevem.
Se escrevem, se confundem, ou se omitem.
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