artigo publicado no jornal Cidade de Tomar de 18 de Maio
Soubemos esta semana numa das suas muitas viagens, desta vez à Alemanha, que o ainda Presidente António Paiva teve tempo para conceder algumas palavras a este mesmo jornal, declarando para nosso gáudio que acredita ter ajudado “a colocar Tomar no rumo certo”.
Tal declaração, aliás já repetida, vinda de quem há uma década determina o que entende e o que acontece no nosso concelho, merece verdadeiramente além da alacridade, uma reflexão.
Pois que a uma afirmação tão peremptória, a mim pelo menos que sou pessoa de pouca fé e dificilmente acredito no que não vejo, assalta-me a pergunta óbvia: Pois rumo sim senhor, mas qual?
Digamos que, em direcção a quê?
Quando se fala nesse chavão do ‘rumo’, ficamos convictos que há uma estratégia para o concelho, que há uma visão abrangente que una responsáveis políticos e agentes da sociedade na prossecução de objectivos comuns, que quando pensamos em Tomar pensamos em dois ou três casos de sucesso catalizadores para todo o concelho.
Nesta última década, para me reportar apenas à vigência do autor da tese, em que é que nos tornamos melhores? Em que nos especializámos? O que fizemos de novo? Pelo que é que nos tornamos mais conhecidos? Hum… assim pela rama, pelo todo, de facto parece que não se consegue ver grande coisa.
Bom, não desistamos já, talvez se virmos as coisas por partes, do género: Está melhor o comércio? O centro histórico e todo o Comércio Tradicional da cidade apresentam vitalidade e são sustentadores de riqueza. Bom, aqui parece que não, mas, talvez o Turismo, talvez esse esteja melhor? Aumentou-se a capacidade hoteleira, diversificou-se a gama de oferta, há novas actividades e um cartaz consubstanciado que consegue garantir ao longo do ano um fluxo permanente de visitantes? Não?! O quê, a principal obra foi fechar o parque de campismo?! Mas aquilo não rendia dinheiro à autarquia e ao comércio? Então e os funcionários o que é que… ah ainda lá estão, há quatro anos, pois…
Mas então melhorou-se a ligação da cidade ao convento? Os tomarenses vivem-no mais e os turistas que o visitam, visitam também Tomar, deixam cá “as patacas”? Há, pois, parece que vai ser agora… Bom mas, certamente, uma cidade histórica com um potencial tão grande como o de ser uma cidade Templária, tem seguramente rentabilizado essa marca conhecida em todo o mundo? Nadinha?!
Mas têm-se apostado no associativismo, na cultura, reforçou-se a posição de líder cultural na região?… Ah não… perdeu-se?!
Ah, já sei, virámo-nos para os rios, o Zêzere e o Nabão são hoje elementos aglutinadores de actividades e elementos geradores de riqueza? Não!? Não há sequer UMA praia fluvial?! Assim começa a ser difícil…
Bom, mas de alguma forma o concelho tornou-se mais atractivo, há criação de empregos, a zona industrial é referência da região, não só ninguém pensa em sair de Tomar, como os dos concelhos à volta sonham em vir viver para cá?... Ah, também não…
Bom mas, pelo menos modernizaram-se os serviços, a Câmara gasta cada vez menos e onde gasta gasta bem; gere bem os seus recursos, os funcionários estão motivados, são acarinhados, trabalham com boas condições; os serviços são atractivos e céleres, aproveitam-se as novas tecnologias, as taxas caminham para ser cada vez menores, os cidadãos só podem dizer maravilhas dos serviços que lhes são prestados? – O quê, também não? Nada?!
Pois é, poderia ser brincadeira, se não estivéssemos a falar sobre o futuro de uma terra e de todos os que ainda nela vão vivendo.
É que pelas coisas que alguns dizem com leviandade, só pode haver muita coisa incógnita na nossa terra, e até me sinto tentado a esboçar um sorriso quando, na entrevista já referida se dizem coisas como “a duplicação de espaços verdes”. Será que os vasos com flores que tenho em casa também contam? É que eu estou absolutamente convencido que alguém anda a ver mal nesta terra. Será que temos falta de oftalmologistas?
Costuma-se dizer que em terra de cegos quem tem olho é rei, mas também há limites! Tenho que voltar a deixar o repto: saiam mais de casa, não é preciso ir longe, vão ver o que se faz nos concelhos à nossa volta, vejam o que evoluíram e comparem connosco tendo em conta o ponto de partida de cada um. Percebam onde houve de facto projectos consubstanciados e com rumo, e onde se fazem as coisas sem planeamento e sem visão.
Ver com arrojo, planear e decidir com determinação e capacidade, não é destruir equipamentos públicos com potencial económico e social como se fez ao parque e agora se quer fazer ao mercado. Não é vender terrenos públicos para construir centros comerciais megalómanos. Não é fazer pontes a cinquenta metros de outras e que não resolvem problema algum a não ser o de rentabilizar mais o terreno que se quer vender.
Não é fazer um pavilhão municipal que nunca vai justificar o que custou, e que em obras a mais já daria para construir outro, com melhores condições, com melhores acessos e valências.
Ter visão e capacidade de liderança para deixar marca por muito tempo, não é fazer o que é fácil mas inconsequente, nem o que é difícil por teimosia. É fazer com critério, com enfoque no colectivo, e com capacidade de envolvimento dos vários intervenientes na comunidade, para que congreguem esforços para trilhar em conjunto, o tal rumo que deve ser encontrado.
Diz António Paiva: “Tomar é uma referência a nível nacional” e tem razão, ainda há duas semanas voltou a ser referenciada como uma das poucas câmaras do país, que não tem sequer uma página na Internet. Será deste género de coisas que é feito o tal rumo?
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