domingo, março 18, 2007

Perdas e ganhos de Tomar nas últimas décadas.

Texto integrado no suplemento de aniversário do jornal Cidade de Tomar e ao tema em epígrafe dedicado, publicado a 16 do corrente.

Para falar sobre as perdas e ganhos de Tomar nos últimos anos poderei invocar com maior propriedade as últimas três décadas, ou o período pós vinte cinco de Abril, que de alguma forma corresponde com o meu tempo de vida.
A Democracia trouxe a Tomar naturalmente, como no resto da região e do país em especial depois da entrada na Comunidade Europeia, desenvolvimentos importantes com especial enfoque na área das infra-estruturas. Estradas, água canalizada, electricidade para todos, melhores escolas, melhores e novos serviços públicos como a Biblioteca e as Piscinas. Aqui de facto Tomar acompanhou o evoluir normal da maioria dos concelhos, além de termos conseguindo ainda o Instituto Politécnico, e o complexo e polémico Hospital.
Mas em quase tudo o resto perdemos. Exemplo flagrante são as acessibilidades às vias nacionais: a A1 passou longe, a A23 também, e isso é irreparável por muito que agora se possa atenuar.
Muito por isto, mas também por culpa das sucessivas câmaras, Tomar perdeu capacidade económica. As três ou quatro grandes empresas que sustentavam Tomar inevitavelmente pereceram e o problema é que não foram substituídas, nem tem havido esforços de cativar outras. E não se diga que isso não é responsabilidade da autarquia, porque basta ver o que acontece à nossa volta.
Tomar e os tomarenses que sempre estiveram habituados a ter tudo e a liderar, não souberam enfrentar uma nova realidade em que é preciso correr atrás do sucesso.
O tempo em que em toda a região era preciso vir a Tomar para tratar do que fosse, o tempo em que até Santarém capital do distrito era ofuscada por nós, o tempo em que era um acontecimento para um abrantino ou um torrejano vir a Tomar, passou.
Depois, o que se tem feito realmente novo? Quantos jardins, a ligação ao rio, capacidade hoteleira, novas ofertas turísticas, novas formas de aproveitar e potencializar a riqueza associativa? Quantas indústrias, empresas, o que tem de significativo a nossa zona industrial? Habitação social ou a custos controlados, o que existe no pós “Nabância”? O que tem Tomar verdadeiramente novo e que nos distinga dos outros, que não tivesse há trinta anos?
Por isso, no resumo penso que o que se poderá dizer de Tomar é que claro, estamos melhor em certas comodidades e aspectos da vida diária, como todo o país está, mas na proporção com o restante da região perdemos protagonismo e liderança, e se em alguns casos estamos a par, em muitos estamos mesmo já atrás.
Há fundamentalmente um problema que a todos os outros arrasta: falta de desenvolvimento económico, captação de investimento, criação de riqueza. Sem isso não haverá fixação em Tomar, não haverá poder de compra para o comércio, não haverá apoio à cultura, ao desporto, à solidariedade e apoio social e a muitas outras áreas que hoje se entendem imprescindíveis.
Somos efectivamente pouco empreendedores, e também é verdade que muitas vezes se complica demasiado a vida aos que o querem ser. Temos enormes potenciais mas pouco os temos sabido aproveitar – na cultura, na paisagem, no associativismo, na história, na localização geográfica. Outros têm inventado do nada o que a nós já tendo bastava rentabilizar.
Mas somos também demasiado bairristas em assuntos que o não merecem, e ao mesmo tempo pouco preocupados com o que nos acontece de verdadeiramente importante. Os tomarenses são, com tristeza o digo, uma comunidade resignada e adormecida, embevecida por títulos antigos e habituada a deixar nas mãos de dois ou três a condução dos seus destinos.
E assim, só continuaremos a perder, por muito que a alguns custe abrir os olhos.

Com sinceros votos de Parabéns ao jornal Cidade de Tomar,
Com desejos que ajude, na sua missão de informar a contrariar o estado das coisas que antes descrevi,

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