O ser humano é de facto um animal de vÃcios, tiques, e hábitos muitas vezes pouco condizentes com a sua condição de pretenso humanismo.
Parece que as pessoas não conseguem mesmo evitar os extremismos, parece que as coisas na vida sempre que se tornam um pouco mais sérias, têm que ser colocadas no extremo de um qualquer eixo, como no eixo dos bons e dos maus, dos sérios e dos falsos, dos responsáveis e dos inconscientes, dos competentes e dos inábeis, e por aà fora.
Se acontece em qualquer situação, acontece especialmente em polÃtica, onde a proximidade com um qualquer poder, por muito ilusório que seja é mais pertinente, e onde o palco, ou a necessidade muitas vezes irreflectida do ser humano em se mostrar e em se provar melhor que outrem é constantemente posta à prova.
Depois, porque a polÃtica, e a vida interna dos partidos é um desfilar constante de eleições e um obrigar permanente na escolha de sujeitos, conceitos e "lados", as coisas tendem sempre a mostrar o pior, como se dizia já, do ser humano - ou não o fossem também os polÃticos e os pretensos a sê-lo, verdade incontestável ainda que muitas vezes olvidada pelo comum dos cidadãos, ou auto denominados não-polÃticos e avessos aos mesmos.
Incomoda-me a cegueira de alguns quando esquecem que tudo tem um dia seguinte, e faz-me pena essa necessidade de demonização do "outro lado", como se de súbito todos os "bons" estivessem alinhados num flanco, e no outro ou nos outros todos os "maus".
A verdade é que na vida não é tudo sim ou não, tudo falso ou verdadeiro, tudo completamente bom ou indubitavelmente pérfido.
E se nestas coisas de eleições para o que quer que seja, uns há que usam intencionalmente estas parangonas personalizadas como formas de manipulação subliminar e publicitação indirecta das melhores qualidades do seu eu ou do seu grupo, verdade é também que muitos outros embarcam adormecidos neste desfilar estúpido de adjectivações e argumentações à forma do "diz que disse e parece que fez", esquecendo ou não vislumbrando que tudo tem tantas perspectivas como quantos os observadores, e possivelmente mais outras tantas, e que não há verdades absolutas nem seres perfeitos.
E não sei se pior é os que intentam se os que ignoram.
Essencialmente choca-me que as pessoas, e isto é mais grave nos polÃticos, não pensem pela própria cabeça, e sejam carneirinhos, acreditem no primeiro pregador de sonhos, e comam calados toda a porcaria que lhes servem como isco.
Mas principalmente entristece-me que por vezes as pessoas esqueçam o essencial, que atraiçoam valores que porventura até já tiveram, e que se deixem cegar pelo brilho fosco de um qualquer desejo mais egocêntrico, ou uma ambição mais desmedida que não responda aos limites da realidade e do respeito pelos outros e pelas causas.
Acima de tudo abomino a cegueira e a corrupção do poder. O poder parece ser de facto um Ãman e um veneno muito forte, que a muitos faz perder a lucidez, esquecendo uma outra verdade inquestionável, se tudo é efémero muito mais é esse tal poder, e também pode ser muitas vezes certo que quanto mais alto se sobe, mais dura e funda pode ser a queda, se na subida empurrarmos muitos, se escalarmos nas costas de outros, e se não formos olhando para baixo tantas ou mais vezes que para cima, podemos de repente perder o pé, e perceber que já não temos base que nos sustente, e que nos encontramos sobre o abismo.
Verdade é que há sempre uns artistas, poucos ainda assim que não dá para todos, que se conseguem segurar no vazio, presos sabe-se lá a que arames vindos do cimo, mas esses vivem no risco contÃnuo, e mais tarde ou mais cedo…
A vida é uma procura constante de algo que porventura jamais acharemos, feita de enganos, de avanços e recuos, de erros e acertos, de alegrias e desilusões. Por isso é bom que façamos esse caminho de pé, de postura correcta para que não nos doam as costas que a expedição é longa, e que se encontrem acompanhantes para a jornada, que assim se fará bem melhor, e por muita chapada que se leve, tudo isso contará no somatório da aprendizagem, e no fim, poderemos olhar para trás e sorrir, porque por mais obstáculos não atropelámos ninguém, e se alguns perdemos pelo caminho, foi porque caminhos diferentes seguiram, mas de nós se lembram como caminhantes correctos.
Os outros enfim, perdem-se pelas bermas do caminho e pelas brumas do tempo, e se tanto, teremos uma vaga lembrança de um ou outro episódio pior com personagens que entretanto saÃram do enredo.
O fim, da vida ou do que for, nunca ou quase, sabemos quando chega, mas temos como certo que chega. Porque é que alguns tudo parecem fazer para que chegue mal?
P.S. - Porque aqui muito falei de polÃticos, é bom que se diga que de polÃtico - nessa concepção mais limitada ainda que incorrecta que é a banal do termo, aquela que acha que polÃticos são só os que militam em partidos e/ou exercem determinados cargos - como de treinador de bancada, todos temos um pouco. Como a razão/inteligência aliás, distribuÃda em diferentes proporções.
P.P.S - Este post era para ter 4 ou 5 linhas.
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