domingo, maio 22, 2005

Será do perfil?

artigo publicado no jornal Cidade de Tomar de 20 de Maio de 2005

Nos últimos tempos, e com especial incidência depois que o PS escolheu o seu candidato à Câmara de Tomar, ouço algumas pessoas recorrerem insistentemente da palavra perfil para tecer críticas a esse mesmo candidato.
Ora, se a alguns desses críticos, basta o seu próprio perfil, para que qualquer crítica que façam se vire contra eles, ou no mínimo perca razão, já a outros, mais anónimos, mais “comuns�, importa talvez analisar as razões inerentes a essa afirmação, essa suposta falta de perfil.
Eu não sei de facto qual é o perfil certo para se ser Presidente de Câmara, nem sei se está escrito nalgum lado. Parece-me que como em muitas coisas, se trata de uma questão subjectiva, do foro apenas do sentimento de cada um. Mas parece-me que os traços desse perfil deveriam passar pela Disponibilidade demonstrada, pela Vontade em fazer, pela Capacidade em ouvir e de Trabalhar com os outros, pelo Desprendimento de interesses pessoais, pelo Amor à causa e neste caso à terra. Mas posso estar enganado, se calhar não é isto o correcto...
Veja-se então o caso mais concreto e mais próximo, o actual Presidente de Câmara, eleito na premissa de ser um técnico, tendo até feito parte da sua campanha a apresentação da sua tese de Mestrado onde se especializava em PDM’s, apresentando o caso concreto de Tomar. Ora, essa foi, já no primeiro mandato, uma das suas principais e maiores promessas, a revisão do PDM, algo que em muito entrava o desenvolvimento de Tomar.
Aconteceu? Agora que vamos já no final do segundo, alguém sabe alguma coisa dessa revisão? O perfil técnico do Presidente foi aqui uma mais valia?
E têm-no sido na gestão da Câmara, onde manifestamente existe uma falta de planeamento, nas obras que se fazem e se desfazem e se refazem? Nos projectos que começam como remodelações e acabam como construções, nas obras que se planeiam custar 10, e acabam a custar 100. O perfil técnico não era para evitar isso?
O fecho da ponte velha a um sentido de trânsito sem criar alternativas, a substituição da relva natural por sintética no estádio municipal. A fonte cibernética. A proliferação de rotundas. A cidade polvilhada de passadeiras “sobe e desce�. A destruição do Cine-Esplanada, tudo “excelentes� opções técnicas, e decididas por quem? E atenção, um Presidente de Câmara com um perfil técnico não pode desculpar-se com os técnicos da autarquia.
E afinal o que é que tem sido mais marcante no seu “reinado�, o seu perfil técnico, ou as suas características pessoais?
Ora, em contrário, não é difícil vermos exemplos de casos de sucesso onde não existe esse perfil técnico no Presidente da Câmara, basta só um e já é grande: Torres Novas. Lembram-se do que era aquela “aldeia� há uns anos atrás? Vêm o que é hoje? E não se diga que é apenas pela A23 até porque também isso joga a favor do Presidente de Torres Novas.
Está visto que esta história do perfil técnico não faz qualquer sentido, mas então porquê esse discurso?
Muito deste sentimento advém daquela formação um pouco elitista e salazarista, e que ainda remanesce muito na nossa terra, de achar que só os “doutores� podem estar num determinado sítio. Quem é comum a nós, quem veio do mesmo sítio, quem nasceu em berço igual, não vale nada. Só quem vem de longe, ou quem tem um título, ou quem é “superior� pode fazer, ou ser, ou dizer o que quer que seja.
Deixemo-nos de hipocrisias, este é claramente o sentimento inerente à maioria das mentalidades ainda reinantes na nossa sociedade. A ainda presente bajulação e adoração ao “senhor doutor� e ao “senhor engenheiro�.
Ora, a questão não acaba por aqui. Existe um provérbio popular que diz que “aos olhos da inveja todo o sucesso é crime�. Pois parece-me que muitos daqueles que falam na tal “falta de perfil�, o fazem baseados nessa inveja, baseados no facto de interiormente se acharem melhores, e de terem o desejo de eles próprios, sem o afirmarem textualmente, ou terem feito algo por isso, estarem nesse lugar desejado que é o de concorrer à nobre Câmara de Tomar. Mas se assim é, assumam-se, afirmem-se disponíveis, façam trabalho para isso, ou vivemos numa sociedade de cobardes?
Quanto a mim, e quanto ao PS que em boa hora escolheu o Carlos Silva para candidato, achamos ser tempo de mudar a forma de fazer política, a forma de estar nos cargos públicos.
Em primeiro lugar, estar para servir, sentir-se disponível para quem em qualquer momento precise, saber ouvir, respeitar as opiniões dos outros, saber e querer trabalhar em equipa, amar esta terra, querer o melhor para ela e para TODOS os que cá vivem.
Querer um concelho desenvolvido sem o descaracterizar, Tomar moderna, sem deixar de ser o que sempre foi, Tomar de todos, por todos, e não a tal “Vilamoura do Ribatejo� em que muitos desejam que se transforme.
Ter um desejo para este concelho, ter um projecto, ter uma vontade.
É por isso que tenho que perguntar: Será mesmo uma questão de perfil? E então que perfil será realmente necessário?
É que os perfis por onde escolher estão lançados, dum lado Carlos Silva o tomarense que todos conhecem, do outro, supostamente, António Paiva, o engenheiro.
Estas são as duas escolhas possíveis, e em eleições não há resultados antecipados, e quem decide, é quem por fim sairá vencedor ou derrotado: os tomarenses.
Ora, se uns tentam passar o discurso do “não é possível ganhar ao Paiva�, porque não acreditam, ou porque tudo querem manter igual, eu por outro lado, como muitos, e como sei, cada vez mais, ACREDITO, porque acredito na Democracia, e porque sei que em Outubro, Por Amor a Tomar, os tomarenses vão decidir pela mudança.

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