Desde o meu último post até este passaram não apenas 4 dias mas, na minha vida pelo menos, mais um ano foi ultrapassado. É verdade que como me dizia um amigo, no dia do nosso aniversário é apenas um dia a mais que temos, mas aquela barreira psicológica, como tantas outras que inventámos foi ultrapassada, é mais um ciclo que se fecha. E pensamos: bem, foi mais um ano, ou, é menos um ano. E eu, que não era muito de saudosismos nem de lamechices baratas, começo realmente a preocupar-me por vezes, ao ter que aceitar que não é possível voltar atrás para refazer coisas, ou fazer as que não foram feitas. E começo a achar que há tanto que gostava de fazer, e cada vez terei menos tempo para tal.
E depois, mais grave que isso, é o tempo perdido com coisas que não valem a pena, que não fazem qualquer sentido. Por vezes são pessoas, pessoas que parecem que nasceram só para dificultar a vida dos outros, pessoas cujo propósito é destruir, manchar o trabalho, a determinação, a integridade desses outros. E não são assim tão poucos, em cada esquina parece que há alguém que só se sente feliz a pisar outrém, pessoas tristes que se alguma vez forem lembradas, será apenas pelo que de mal foram fazendo aos seus semelhantes. Sim, porque há vida depois da morte, mas não para todos. Sobrevivem à morte apenas aqueles que na memória de outros forem subsistindo. Há pessoas assim, que pelos seus valores, pelas suas causas, pelas suas determinações, pelas suas lutas, pelos seus projectos; que por sua bondade, sua entrega, sua amizade, sua inteligência, sua visão, e outros atributos tantos haveria ainda para catalogar, ficam na nossa memória colectiva, na história duma comunidade, dum país, duma civilização. Chamamo-lhes modelos, chamamo-lhes heróis, chamamo-lhes génios, beneméritos... às vezes não lhes chamamos nada, mas em pequenas coisas, pequenos hábitos, pequenos gestos da nossa vida podemos sentir a sua presença.
Eu gostava de ser um desses. E tenho para mim que a humanidade poderá evoluir tanto mais, quanto pessoas mais assim mesmo pensarem, assim sentirem. O querer fazer algo pelos outros, pela sua comunidade, pelo mundo.
Mas infelizmente não são muitos os que assim se encontram, também é verdade que não é fácil, somos educados, treinados, amestrados, para valorizar coisas que não significam nada mas que para muitos parecem ser razões de vida: o dinheiro, o estatuto social, a aparência, o poder.
Muitos correm atrás destas coisas e não olham a meios para as alcançar: mentem, fingem, maltratam, e tantos mais predicados quantos os necessários, não interessa quem derrubam, não interessa o que destroem, todo o mundo gira em torno do seu umbigo, do seu cego egocentrismo. Por vezes tão cego, que nem se apercebem realmente que assim são. Não se apercebem que onde passam deixam uma gosma, um rasto de mediocridade, de maldade.
E depois ainda, quando muitas vezes alcançam esses intuitos, não sabem realmente o que fazer com eles, pois se de mediocridade foi o percurso feito, pouca substância há para lhe dar significado.
Ficam ricos de dinheiro mas pobres de amigos, e esse dinheiro não lhes compra a felicidade, estamos fartos de saber; atingem estatuto social mas são apontados como desprezíveis, aparentam ser algo que não são e são chamados de vaidosos, atingem o poder e não sabem o que fazer com ele, um poder vazio, sem sentido, ao qual se agarram como fosse a coisa última que os prendesse à vida, quando o único e verdadeiro poder é o de genuinamente ser chamado de amigo, é o de ser amado, é o de ser respeitado, é o de ser lembrado.
Nisto, esses seres não acreditam ou desconhecem a existência. E eu gosto de pensar positivamente, e assim olhar as pessoas e os acontecimentos, e acredito, que lentamente é certo, mas que no resultado final a humanidade tem evoluído para melhor. Mas também sinto, quando olho à minha volta, quando ouço muito do que me dizem, quando vejo muito do que fazem, quando racionalizo e vejo o estado das coisas e o que vai acontecendo no mundo, ou na porta ao lado da nossa, que a humanidade vai mal, que o Homem é porventura o mais desprezível dos seres, por ser capaz das mais incríveis façanhas, e tantas vezes das mais horripilantes atrocidades.
Conceitos como Ética, Moral, Honra, Verdade, Integridade, Humanismo, são cada vez mais desconhecidos, ignorados, ou mesmo repudiados por cada um de nós. Como é que a Humanidade pode desejar a Liberdade, a Democracia, a Igualdade, a Fraternidade, se cada um de nós, se cada ser humano, não tiver bem presente em si os valores anteriores, e os praticar?
Não pretendo ser mais que aquilo que sou, e não sei porque me apeteceu escrever tudo isto. Às vezes acontece-me quando me sento em frente ao computador, ou tenho na mão um papel e uma caneta. Bem sei que o alcance destas palavras é diminuto, e poucos se darão sequer ao trabalho de as ler, mas na verdade, mesmo que todos, mas todos, nós escrevesse-mos algo assim só para nós mesmos, talvez o mundo já fosse um lugar melhor.
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