quarta-feira, outubro 20, 2004

Ainda os professores.

Pergunta-me a Sónia em comentário ao meu último post (de há uma semana, que não tem havido tempo) porque critico apenas a Ministra e o seu Ministério e não falo dos professores e em concreto no caso dos atestados médicos.
Ora bem, eu sou professor, não exerço actualmente a profissão/vocação pois sou sindicalista (se é que isso existe) a tempo inteiro, e por isso lido diariamente com os problemas dos professores e da educação, e como devem imaginar, conheço uma muito razoável quantidade de colegas de profissão que são em si mesmo muito diferentes. A classe docente é por ventura a mais dispar nos seus elementos, pois ele há educadores, professores do ensino básico, do ensino secundário; uns vêm das letras, outros das ciências, outros das artes,...; uns tiram o curso via ensino e portanto mesmo para dar aulas, mas outros são engenheiros, arquitectos, antropólogos, médicos, advogados, enfim, há de tudo.
Mas numa coisa eles (nós) somos todos iguais, e iguais aliás, julgo, a todas as profissões: todos querem boas condições de trabalho, e muito importante, estar perto da sua casa, perto da sua famí­lia. E portanto, é de certa forma natural que usem todos os argumentos para conseguir este objectivo.
Vão-me dizer: bem, mas há muitos atestados que são falsos. Em primeiro lugar diga-se que num universo de 175.000 professores não são assim tantos, é erradí­ssimo julgar o todo pelas suas partes, e tal como há maus professores, ou que tem atitudes menos correctas, também há médicos, juízes, advogados, polícias, jornalistas, pedreiros, electricistas. Em todas as profissões há maus elementos e os problemas de atitude e personalidade não têm a ver com a profissão mas com a educação e formação, com a consciência Ética, etc.
Depois é preciso dizer que, se um professor apresenta um atestado que diz que deve ficar mais perto de casa, esse atestado foi passado por um médico, e uma escola o aceitou e o tornou válido para efeitos de concurso, a responsabilidade é toda do professor?
E é preciso dizer que é muito estranho (ou não) que no momento em que finalmente a sociedade, e a comunicação social, começavam a olhar para os problemas dos professores, comecem a sair notí­cias que em primeiro lugar coloquem professores contra professores, e depois façam passar perante a opinião pública a ideia de que afinal os professores é que são os bandidos, e por culpa deles é que tudo está assim, fazendo uma extrapolação exagerada de alguns casos, como se fossem a regra.
E finalmente é preciso dizer que, quem deve regular, quem deve legislar, quem deve fiscalizar, não são os professores pois não?, e noutros anos nunca se ouviu falar duma tamanha catástrofe, certo? Então de quem é a culpa?
Os professores, como quaisquer outros, jogam com as regras que lhes dão, uns bem, outros menos correctamente é certo, mas se as regras não estão correctas, então há que alterá-las. E aos senhores do ministério fazia muito bem pôr a arrogância e o autismo de lado e ouvir um pouco mais os professores e os seus sindicatos.

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