artigo publicado no jornal Cidade de Tomar de 25 de setembro.
«Hoje vivemos na
sequência de uma revolução conseguida sem sangue, que nos abriu caminhos de
liberdade. Para que os possamos percorrer é indispensável o respeito absoluto
das liberdades públicas e dos direitos cívicos, que vamos vendo infelizmente
postos em causa.»
«Portugal precisa de
apoio internacional generalizado e merece-o. Esse apoio, venha de onde vier,
tem de respeitar a nossa independência e uma rigorosa não ingerência nos nossos
assuntos.»
Francisco Sá-Carneiro
Dia 4 de outubro somos todos chamados a usar o nosso poder coletivo, o
poder pelo qual tantos na nossa história lutaram para nos deixar como legado, o
poder que tantos milhões por esse mundo fora ainda não têm, o poder de escolher
quem tome decisões em nome do coletivo, o poder de eleger os governantes do
nosso país.
É esse momento decisivo que me faz voltar a este hábito da escrita
neste jornal, coisa que não faço há cerca de dois anos, desde que tenho outras
responsabilidades e por continuar a achar que quem governa não comenta. Mas
agora é tempo de escolhas, e é tempo de fazermos campanha pelas escolhas que
entendemos mais apropriadas.
Comentadores televisivos e de outros suportes mediáticos, mesmo alguns
políticos e muitos cidadãos têm definido estas eleições como de grande
complexidade na escolha. Mas para mim nunca me pareceu tão fácil, tão óbvio,
tão urgente decidir.
Temos um governo que apresenta como mote de campanha os supostos
resultados, os resultados que agora diz serem resultado da “herança” e do
estado em que encontraram o país, quando há quatro anos afirmavam que queriam
“ir além da troika”. Um governo que apostou em “ser o bom aluno” na visão de
quem faz depressa e sem questionar, um governo que, embora suportado largamente
num partido social democrata e que tanto gosta de citar Sá-Carneiro, mas que
tem aplicado fórmulas liberais ou mesmo ultra liberais não suportadas nem pela
ideologia desse partido nem pelo programa sufragado, e por isso mesmo vê tantos
desse partido a dele publicamente se afastarem.
Um governo que não teve qualquer problema a indicar a saída do país à
sua população, particularmente os mais jovens e qualificados, nos quais o país
investiu, e que os outros países tanto agradecem! – fala-se agora na
possibilidade e até com discurso xenófobo de o país poder vir a receber 3 ou 4
mil refugiados migrantes… pois portugueses migrados foram mais de 350 mil no
últimos 4 anos!!
Um governo que taxou tudo quanto pode, e cortou em mais ainda. E
depois perguntamos, para quê? Estamos melhores, os tais resultados estão
melhores? E é este o país que queremos? Não, este não é o país em que me
revejo. Não, também não é a forma para que sinto servir a política.
A política nobre e útil é muitas coisas, entre elas a capacidade de
envolver, de dialogar, de procurar os consensos (quando no nosso país cada vez
mais se procura antes o conflito), mas não seguramente a arte do abandono. E
abandono é o que mais temos visto: o abandono dos cidadãos, o abandono das
empresas do Estado vendidas à pressa e ao desbarato, o abandono das políticas
sociais de promoção da igualdade, o abandono da ideia de um Estado que promove
a igualdade de oportunidades e a justiça (pois se até, diz Passos Coelho, é
preciso uma subscrição para os enganados do BES poderem ir a tribunal…)
O apoio social é um verbo de encher para quem quer mostrar trabalho à
conta dos “coitadinhos”, para além de nos quererem impingir novamente os tempos
da caridadezinha, da sopa dos pobres, dos asilos. Não, isso não é verdadeiro
trabalho social, isso é empurrar para fora da vista os problemas e tratar seres
humanos como números ou “coisas”.
Na educação, a visão ideológica imposta aos currículos e aos horários
dos alunos fez um retrocesso até “tempos da outra senhora”. Cortou-se no
ensino artístico, nas expressões, na educação física e no desporto escolar, nos
apoios pedagógicos, psicológicos e tudo o mais.
Porquê? Porque se entende que isso é para quem pode pagar, os outros,
aguentem-se que isto não é para quem quer! Não ajam ilusões, é mesmo de ideologia
que trata.
Poder-se-ia dizer, bom é falta de dinheiro, é preciso cortar em algum
lado. Não é verdade! Basta ver que ao mesmo tempo que se corta no ensino
público, na sua qualidade e nos serviços aí prestados, se aumentam, (e muito!)
os subsídios aos colégios privados por esse país fora.
Da cultura nem vale a pena falar. Está em coma, não há qualquer
trabalho feito nesta área.
Ora, como disse Churchill, se não lutamos pela cultura e pela
educação, que são aquilo que nos dá identidade e futuro, vamos lutar para quê?
Mais vale assumir e deixar os alemães ou quem quer que seja, fazer o que bem
entenderem de nós. – e foi o que fizeram nos últimos anos!
Por isso reafirmo, não tenho qualquer dúvida onde votar.
Quem acha que está bem e deve continuar, escolha a direita coligada,
quem acha que não, que o país precisa de outro rumo, de alma, de olhar para as
pessoas e para as suas necessidades, e mais ainda quem defende um país regido
numa ideologia de socialismo democrático (ou social democracia), só tem um
partido que atualmente a defenda – é o PS liderado por António Costa.
Temos também, nabantinos, um interesse mais local nestas eleições. É
na lista socialista que está o único tomarense com possibilidades de ser
eleito. Hugo Costa será uma voz jovem, motivada e empenhada conhecendo de perto
as realidades de Tomar e da região que pode ser a nossa voz na Assembleia da
República e junto dos poderes de Lisboa.
Não ir votar, não é mostrar descontentamento, não é mostrar desagrado,
é sim mostrar alheamento e deixar aos outros o poder da escolha. Mais, por
força do mecanismo eleitoral, quase sempre quanto maior for a abstenção, maior
o favorecimento de quem já detém o poder, por isso: Vote, vote em quem entender
melhor, vote nulo se quiser, mas vote!
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