quinta-feira, junho 13, 2013

a multiplicidade do ser

Neste dia em 1888 nasceu o génio dos múltiplos heterónimos (mais de 100 nas últimas contagens). O enorme Pessoa.
(Aqui, alguns dos seus livros para download grátis)

Não sei quantas almas tenho

"Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem achei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,

Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem,
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: «Fui eu?»
Deus sabe, porque o escreveu."

              Fernando Pessoa


(adenda: um artigo muito interessante no I sobre os 125 anos de Pessoa)

1 comentário:

Sílvia Marques disse...

Muito giro!
Excelente escolha..