sexta-feira, abril 26, 2013

«o caminho único...» II

Abaixo, a resposta de António Rebelo à minha pequena provocação no post "o caminho único...", que entendo dever publicar para promover a dualidade de pontos de vista.
Entretanto, sem grande tempo para mais alongada réplica, parece-me que a realidade vai demonstrando cada vez mais a evidência. Enquanto os EUA e outras partes do mundo pressionam a Europa (ou a parte dela) que ainda teima na ideologia da austeridade colocando em causa a economia mundial, alguns países, pelo menos dentro de portas próprias, vão alterando os caminhos, por exemplo reduzindo o IVA ou aumentando os apoios sociais, enquanto nos que estão com a corda mais apertada todos os números vão ficando piores, das falências ao desemprego  recorde, passando por todas as implicações sociais.
Veja-se o caso português (onde acresce o problema de termos um governo politicamente cadáver, sem capacidade ou visão), com um desemprego já acima dos 17% e tudo pior, excepto os números do IRS... pudera!
E depois, com todas a certezas e teimosias que o governo tenta tapar os olhos aos poucos que ainda nele acreditam, vemos afinal que aos poucos vão sendo forçados a dar razão ao PS ou ao simples bom senso. O último exemplo é a proposta da criação de um banco de fomento, coisa que o PS já defende há anos.
Quer tudo isto dizer que não é preciso mexer nas instituições e estrutura do Estado, readaptar serviços, repensar algumas funções, acabar com muitos desperdícios e terminar de vez com as impunidades de quem gere mal o que é dos outros? Claro que não, mas isso é outra conversa...

«Prezado amigo:
Bem haja pelo escrito que teve a amabilidade de me dedicar. Passo a tentar responder privadamente, para poder alargar-me mais. Pode no entanto, se assim o julgar conveniente, publicar no seu blogue.
Com ou sem prémios Nobel à mistura, o fulcro da questão parece-me extremamente fácil de explicar. Quem está habituado a viver a crédito, como é o caso de Portugal, Grécia, Itália, França e por aí fora, é forçado mais tarde ou mais cedo a mudar de vida. Não por vontade própria, mas por imposição implícita dos credores. Que simplesmente não emprestam mais em condições aceitáveis. É o que nos está a acontecer.
Claro que é sempre possível arranjar expedientes alternativos, os quais têm contudo um inconveniente: em vez de resolverem o problema de fundo (mesmo que parcialmente), pelo contrário agravam-no. É só reparar, numa escala mais pequena, no caso da Madeira.
Compreende-se que o PS tenha de arranjar a argumentação possível, garantindo por exemplo que há sempre alternativas. Pena é que não diga quais, indo até às respectivas consequências.
Excluindo os crentes socialistas, ninguém acredita já que Seguro tenha qualquer política alternativa, minimamente credível e realista.
Veja-se o caso Francês. Com o presidente mais diplomado de sempre (HEC, Sciences Po, ENA), um governo de estrelas, que inclui dois anteriores primeiros-ministros, e maioria absoluta na Assembleia e no Senado, anda pelas ruas da amargura. A popularidade de Hollande, oito meses apenas após ter tomado posse, é a mais baixa de sempre. Apenas 21% dos franceses se declaram satisfeitos com ele.
Tudo porque, lendo a mesma cartilha ideológica de Seguro, garantiu que tinha políticas alternativas, menos gravosas para os eleitores do que as da direita sarkozista. Uma vez eleito, rapidamente se concluiu que mentira. A realidade é sempre muito obstinada, como sabe.
O mesmo vai suceder, INFELIZMENTE, em Tomar. Ganhe quem ganhar -e neste momento ainda está tudo em aberto- sem um projecto sólido, bem assente na realidade local, os vencedores irão julgar que vão à lã, mas vão acabar tosquiados. E todos nós vamos ser fortemente prejudicados, devido à deliberada insistência no erro de quem não se consegue governar fora da política. Triste sina a nabantina!
Um abraço fraterno, com grande preocupação, porque se até os melhores (como o meu prezado amigo) continuam a acreditar em quimeras, o nosso futuro vai ser bem negro.»

«Adenda ao mail anterior
Há também o argumento, agora cada vez mais usado, de maturidades mais longas. Trata-se obviamente de arranjar mais uma vantagem para os detentores da dívida pública, dado que mais anos para pagar = mais juros a pagar, uma vez que os juros são anuais. Acresce que, tanto no caso do Estado como do Município, uma vez que ambos gastam mais do aquilo que cobram, mais anos = mais défices acumulados = mais empréstimos para cobrir os défices.
Neste momento a nossa dívida pública já vai nos 123% do PIB. Aos quais se vão acrescentar os 4,5% de défice para este ano. Se agora já andamos a pedir emprestado sobretudo para ir pagando os juros de empréstimos anteriores, sem austeridade nem redução drástica da despesa pública, o que implica naturalmente menos serviços públicos gratuitos ou a preços subsidiados, como vamos conseguir descalçar a bota?
Não, meu prezado amigo; não se trata no meu caso de meras posições ideológicas. Antes fossem! Desgraçadamente penso que é apenas o doloroso choque com a realidade económica, com esta a desmentir todos os dias verdades em que acreditámos durante anos e anos.
Será mero fruto do acaso que o actual presidente italiano, agora com 87 anos, tenha sido um dos principais dirigentes nacionais do PCI até aos 65, quando decidiu abandonar aquela formação comunista? Ou o tal choque?
Um abraço»

1 comentário:

Pedro disse...

A imprensa e os comentadores ecoam de forma constante que Seguro não tem propostas... Dois anos depois, Passos estende a mão à oposição, acenando precisamente com as ideias defendidas sistematicamente pelo Partido Socialista. Agora parece que já faz sentido uma agenda para o crescimento, um banco de fomento, já podemos taxar as PPP (depois da maioria chumbar a proposta no ano passado) e até a reafectação de verbas QREN parece uma excelente ideia...