quarta-feira, novembro 14, 2012

fura greves

Hoje, acho que pela primeira vez, sinto-me um fura greves.
A greve de hoje é justa - provavelmente como nenhuma outra greve geral das últimas três décadas.

Ainda assim, por uma questão de coerência, não fiz greve. Não concordo com, regra geral, a forma como se fazem greves em Portugal. São excessivas e quase sempre marcadas por outras agendas que não a dos trabalhadores; marcadas pela agenda dos partidos de protesto - e particularmente na minha classe profissional, os professores, isso tem acontecido demasiado.

E isso só faz com que, na prática, os efeitos da generalidade das greves acabem por afetar precisamente os que têm motivos para as fazer: os cidadãos em geral, as empresas e os seus trabalhadores, o país.
Os Governos, quase todos, acabam por não lhes ligar nenhuma importância, e ainda troçam dos grevistas.

Os sindicatos, muitos deles também muito responsáveis pelo estado a que isto chegou, deviam perceber que precisam mudar a sua forma de atuação, perceber que a greve é um direito muito importante, mas não um instrumento que se deva banalizar - quando exercido, deveria ser em último recurso, tendo sempre presente o equilíbrio entre os resultados e os prejuízos.
Deveria ser exercido de forma a que, quando acontecesse, tivesse a máxima eficácia e fosse efetivamente um cartão vermelho apontado a quem governa.
A greve não deve servir apenas para demonstrar descontentamento, ou as posições ideológicas de uma franja da população qualquer que ela seja. Para isso há muitas outras formas de manifestação que, sem serem limitativas a quem se manifesta, igualmente não limitam aqueles que o não desejam fazer.
Infelizmente é na primeira forma que os sindicatos pensam as greves, como mera forma de afirmação própria e de protesto, sem se importarem com quem afetam. E com muitos abusos para com os tais terceiros (veja-se por exemplo na CP).
E enquanto assim for, serão ineficazes, e regra geral, não alinharei nelas.

Por outro lado, regressando a hoje, a minha escola não está a funcionar. Comparecemos, talvez um décimo dos docentes, e porque também não vieram praticamente auxiliares, não podem ser lecionadas aulas. E dessa forma sinto que acabo por beneficiar na prática com a greve dos outros.
Isso não quer dizer que não vá aproveitar o dia para trabalhar, despachar papelada que por aqui é muita, ou não fosse esta uma daquelas escolas que, de acordo com a srª Jonet, não existe, uma vez que (diz ela "que não é política", e por isso pode dizer os disparates todos) não há miséria em Portugal.

Eu louvo todos os que fizeram greve hoje, mas infelizmente não penso que isto vá lá com greves. Pelo menos enquanto forem feitas com a filosofia de há trinta anos.

1 comentário:

Unknown disse...

Subscrevo integralmente e com todo o gosto! Ia até a escrever sobre líderes pacóvios e descaradamente cabotinos, mas é melhor ficar por aqui.