quinta-feira, outubro 18, 2012

vergonha

foto d'O Templário
Eu já disse várias vezes publicamente, e ainda na reunião de setembro da Assembleia Municipal o afirmei, que tenho muitas vezes vergonha de ser autarca em Tomar.

A notícia n'O Templário online, "Idosa dorme nas arcadas da Câmara de Tomar", é uma dessas situações. Como o foi o caso há dias do tecto que desabou numa casa propriedade da autarquia, que por sorte não causou vítimas;
ou do indigente que morou 4 anos numas casas de banho públicas junto à ermida de São Gregório e que só quando faltava nossa senhora descer à terra ou algo assim para falar também no assunto, a Câmara se decidiu a fazer alguma coisa;
ou ainda o acampamento cigano às portas da cidade, entre tanto mais.

Ora, ao longo da última década e meia, a Câmara teve todas as condições para resolver os problemas sociais e particularmente de habitação existentes em Tomar, como outros concelhos fizeram. Os da comunidade em geral e os da comunidade cigana em particular, que por ser de número elevado e com culturas características necessita de tratamento diferenciado e de um tempo mais demorado.
Ao fazê-lo, neste caso específico da comunidade cigana, a Câmara estaria não só a resolver esses problemas sociais e de dignidade humana, mas também a abrir caminho para solucionar toda a imagem e usabilidade daquela zona da cidade, bem como a intervir de forma concreta noutras questões latentes da integração dessa comunidade na comunidade nabantina.

Houve dinheiro, programas governamentais, fundos europeus. Tudo. Faltou o essencial, vontade e saber.
E claro, as questões ideológicas. Ao longo de grande parte deste tempo o PSD, que vive ainda sob esse espectro, foi liderado por alguém cuja vontade era soberana e por todos vassalada, e que queria, o próprio mo afirmou, "uma cidade para os que podem pagar, os outros que procurem outras terras, e voltem quando puderem".

As questões sociais foram sempre desprezadas em Tomar. Basta lembrar que Tomar foi o último município do país, e porque obrigado, a constituir a rede social, e que obviamente funciona mal. Uma parte do PSD até o reconhece, ou não teria apresentado a proposta em AM, replicada nos jornais da passada semana, para que reunam as IPSS, associações, outras entidades, etc, etc - ora, essa é a primeira missão da rede social que a câmara deve liderar!
Já devia estar feito há muito tempo! Não é preciso inventar, basta ver o que nessa matéria fazem os concelhos vizinhos.

A política é feita de opções e decisões. O PSD em Tomar fez sempre as opções que quis, por mais que o PS e restante oposição se mostrassem contra e explicassem porquê.
Optou por rotundas e fontes foleiras, passadeiras feitas e refeitas que custam milhares de euros cada uma cada vez;
um pavilhão onde já existia um, que mete água e que para pouco serve;
um contrato de PPP ruinoso e muito mal esclarecido para a construção de um parque que todos sabiam e diziam que para nada serviria a não ser para que a câmara continue a gastar dinheiro;
uma ponte que custou milhões e não resolveu nenhum problema de trânsito porque foi feita no sítio errado;
obras no mouchão e jardins envolventes, precisamente onde menos necessárias eram e que que no caso do mouchão até vieram destruir o sistema de rega que não só era histórico, como praticamente sem custos de manutenção;
o processo de aquisição do Convento de Santa Iria, uma vez mais, mal esclarecido e para ficar a cair até ao ponto de ruínas;
o mesmo processo estranho e caro da aquisição da Casa dos Tectos;
a aquisição da sede da ex cooperativa Nabância sem qualquer critério para o seu uso;
a aquisição da loja na Amorim Rosa para o espaço internet, quando uns metros mais à frente, logo ao virar da esquina, tem espaço próprio, onde funcionou a antiga judiciária, e que só recentemente lhe foi dado uso: arquivo!;
A milionária reconstrução em curso dos Lagares del Rei, sem qualquer ideia de como rentabilizar aquilo quando as obras forem concluídas.
Eventos e espetáculos, turismo, associações, cultura, com enorme potencial em Tomar mas com uma completa incapacidade do município de planear estrategicamente como outros fazem, e pôr isso a render;
E muito, muito mais, além da arrogância, da presunção, da incapacidade de diálogo, da cegueira ideológica, de muitas ilegalidades e de muita coisa mal explicada.
Foram milhões e milhões mal gastos, sem retorno financeiro ou na qualidade de vida dos tomarenses. E tudo à conta do aumento da dívida e dos empréstimos sobre empréstimos.

E os culpados são os malandros da oposição. Coitadinhos dos dirigentes do PSD, e particularmente do presidente de câmara que está lá há 15 anos, que não têm culpa de nada disto nem sabiam de nada...
Eles de facto, não sabem muito, pelo menos daquilo que ao coletivo interessa. Mas isso não pode significar que possam continuar a ser perdoados.

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