Como é evidente - e eu que sempre apelei nos sítios por onde passei, à participação e discussão coletiva dos problemas, sejam eles numa associação, num grupo de amigos, ou num município, não poderia dizer outra coisa - a iniciativa é de louvar.
Apesar disso, é natural que existam críticas a apontar, e só pode levar a mal que se façam críticas quem não tem vontade de melhorar ou verdadeiramente encontrar soluções para problemas.
Eu podia não dizer nada sobre o assunto? Podia, e provavelmente "ganhava mais com isso", mas como tenho ouvido tantos a comentar, não consigo deixar de dar a minha opinião.
Por isso, mesmo que vá contra a corrente ou o cinismo de quem só as aponta em sussurro, cá vai:
Relativamente à organização, desde logo o óbvio: querer discutir os problemas do concelho sem convidar devidamente aqueles que o fazem diariamente - os políticos - é evidentemente não querer realmente encontrar soluções, mas sim colocarem-se à margem. Se não todos, julgo saber que pelo menos a grande maioria, desde logo dos autarcas, não terá sido convidada - e não, convites pelo facebook não contam para estas coisas.
Há depois outras questões: foi comentado nos últimos dias por muita gente, de todos os âmbitos do espectro político e não político - aliás, foi praticamente o único comentário que ouvi a todos os que falassem do assunto - que parecem existir outras intenções na organização do evento, como a de, chamemos-lhes, "promover alternativas" para as autárquicas do próximo ano.
Bom mas, se é isso, um pouco por aquilo que disse em relação à organização e mais que não digo, não irão longe. Está tudo farto de iluminados aparecidos sabe-se lá de onde para resolver os problemas dos nabantinos. Um, talvez dos maiores, problemas dos nabantinos tem sido precisamente o de acreditar em salvadores da pátria, tipo Paiva e Relvas e companhia.
Se os tomarenses não encontrarem em si a resolução e melhor caminho para as suas causas e a sua terra, ninguém mais o fará, serão sempre soluções condicionadas a outras vontades.
E, é por demais evidente que, sejam quaisquer que sejam as vontades escondidas, ou mesmo que nenhumas, houve quem se tentasse por em bicos de pés neste evento. Como de costume, não convencem muita gente, e seguramente não por muito tempo.
Seja como for, nunca confundo instituições com a pessoa x ou y, e por isso repito, a Casa do Concelho de Tomar e os seus dirigentes estão globalmente de parabéns pela iniciativa a que devem dar sequência.
Mais, o público era diverso a muitos níveis e percebendo-se que estavam muitos com genuína vontade de discutir ou pelo menos ouvir, propostas de soluções sobre esta terra que definha.
Por fim, sobre a prestação do nosso conterrâneo economista, jornalista e aparentemente, político frustrado, podia comentar apenas isto: - mas porque é que quando uma personagem da TV diz um conjunto de banalidades a maioria as louva como se fossem geniais?!
Perceba-se que não tenho nada contra o senhor, pelo contrário, também costumo ouvi-lo, e apesar de não concordar com as suas teses ideológicas liberais - que o são! - reconheço a qualidade da intervenção mediática e a legitima vontade de denunciar aquilo que lhe possam parecer os podres da governação, no que toca a negócios menos claros feitos pelo Estado.
Mas, sobre a sua prestação neste evento, a verdade é a que referi. Pelo menos a sua intervenção inicial (a parte de resposta a questões do público teve um pouco mais qualidade e argumentação, particularmente nas vezes em que defendeu a SIC) foi, além de um ou outro ponto ideológico e de defesa do Governo (a que tem direito opinativo, mas que não deve ser confundido com factos), o restante foi um conjunto de banalidades e generalidades que qualquer pessoa minimamente formada e critica sobre o seu país deve saber dizer. E mais isso... não sendo importante, mas a sua intervenção baseou-se no país e não na anunciada discussão sobre Tomar.
E pelo meio ainda disse alguns disparates graves, como aquele evidente para quem perceba alguma coisa de gestão pública e ordenamento do território, que era a proposta de alargar para 70% do território a área de expansão urbana de um qualquer concelho para baixar preços de construção - o que significa basicamente que todos construiriam onde quisessem - e isso é não entender que precisamente muitos dos problemas do país, das autarquias e dos gastos públicos derivam de tal ter acontecido durante muito tempo e boa parte do nosso país ser uma manta de retalhos com quilómetros e quilómetros de redes viárias, e redes eléctricas, e redes de esgotos, e de recolha de lixos, e etc, etc, muitas vezes para servir uma só casa, e mais à frente outra, e lá ao fundo outra - e tudo isso pago pelos impostos que depois não chegam!
E já agora, só para nos entendermos sobre os conceitos, já que há por vezes por aí uma malta muito preocupada com as significâncias da linguagem, só uma nota final:
congresso |é|
(latim congressus, -us) s. m.
1. Reunião de chefes de Estado ou dos seus representantes para tratarem de assuntos internacionais.
2. Reunião de peritos em determinada matéria para tratarem do que a ela interessa.
3. Reunião de delegados de um partido.
4. Câmaras legislativas.
5. Parlamento.
2. Reunião de peritos em determinada matéria para tratarem do que a ela interessa.
3. Reunião de delegados de um partido.
4. Câmaras legislativas.
5. Parlamento.
2 comentários:
"Porque é que quando uma personagem da TV diz um conjunto de banalidades, a maioria as louva como se fossem geniais?!" Porque, como enunciou o canadiano Marshal MacLuhan há mais de 50 anos, "o meio é a mensagem". A pragmática linguística explica porquê, mas infelizmente trata-se de um ramo do saber quase exclusivamente anglo-saxónico.
Há outro exemplo flagrante: Quando o Papa lança a sua bênção urbi et orbi, milhões sentem-se contemplados. Tente você fazer o mesmo, com os mesmos gestos e as mesmas palavras. Mesmo que se vista com uma sotaina branca, ninguém lhe liga, salvo algum mais crédulo. É o que temos...
Eu conheço as teorias de MacLuhan, prof. Rebelo, até já escrevi academicamente sobre elas.
A questão é que já passámos há muito a época do advento da TV, que foi aquela em que ele elaborou as suas teses.
Hoje, como nunca, os cidadãos tem acesso a informação e capacidade de comunicação, mas infelizmente parece que continuam a querer demitir-se de usar o espírito crítico...
Infelizmente, a maioria dos cidadãos continua a provar que é mais fácil ser rebanho que pastor, e à conta disso deixam-se continuamente comer pelo lobo.
Enviar um comentário