terça-feira, setembro 18, 2012

harakiri político

a ideia era fazer isto aos portugueses
mas por vezes as balas fazem ricochete
Depois do anúncio do, com o poder deslumbrado, primeiro-ministro, seguido de horas bem dispostas no Tivoli onde chegou de escolta, seguido ainda pela madrugada do anúncio hipócrita no facebook, o Pedro (é ele que assina assim) deu o tiro final para o suicídio do seu governo. E o alienado Gaspar ainda disparou mais uma rajada só para ter a certeza que a coisa estava mesmo defunta.
Para completar a tríade que conta para o enterro, a presença fantasmagórica de Relvas, o ministro dos negócios (entre tantos outros apelidos), que há muito e por várias razões a começar na ética, se tornou inaceitável no governo, e que só por si tanto contribuiu para o rápido desmoronar do castelo de areia que foi esse governo.

Este governo está morto. Faça o que fizer, arranje que distrações arranjar, remodele o que remodelar, este governo perdeu toda a legitimidade, precisamente por não perceber ou querer aceitar o óbvio da Democracia: um governo ganha nas urnas apenas a legitimidade formal e aritmética, mas a legitimidade social e política tem de ser conquistada todos os dias.
Este governo não vai sequer conseguir sair mais à rua.
Há um laço que é preciso manter, pelo menos com a maioria dos cidadãos, pelo menos com a base social e ideológica de apoio. Mas este governo já não tem sustentação nenhuma, já pouco mais que os próprios governantes e os destes dependentes (e poucos aparecem a dar a cara) acreditam que a coisa se possa manter.
Pode demorar um mês, pode demorar um ano, mas certo é que já ninguém nada espera de bom, já ninguém em nada acredita que venha deste governo, e por isso, seja porque o CDS salta fora, seja porque o Presidente manda a coisa abaixo, seja porque o próprio e verdadeiro PSD faz a coisa implodir, este governo vai cair.
É que a coisa não é já o que é suposto acontecer em Democracia, não se trata de uma questão de esquerda e direita com opções e ideologias divergentes, não se trata do partido X ou Y. Trata-se de um conjunto de pessoas que se julga na posse e mando do país, e com isso pensando fazer o que bem entender com uma ideologia que não foi sufragada e não tem expressão na nossa República, e pelo meio ainda fazer negociatas para/com os amigos.

Contestado por todos, a começar no seu próprio partido e continuando naquele que convidou para a coligação, este governo maioritário conseguiu com apenas um ano de mandato deitar tudo ao charco.
E só a si mesmo pode culpar:
Primeiro, uma série de proclamações e medidas demagógicas impossíveis de sustentar por governantes com pouca ou nenhuma obra feita, muitos telhados de vidro e consistentes inconsistências éticas;
Também, uma fórmula insistentemente apresentada como sem alternativa, apresentada como exigida pela troika e indo muito além desta, que como quase todos previam, veio a originar piores resultados que aqueles que existiam quando lá chegaram, e que para mais, criou na generalidade dos cidadãos a ideia real de que os sacrifícios não foram igualmente distribuídos e carregaram mais sobre os mais fracos;
E por fim, um conjunto de medidas insensatas sem o mínimo de ligação com a realidade, apresentadas sem dialogar com ninguém - nem sindicatos, nem associações patronais, nem partidos da oposição ou sequer com aquele com o qual se coligou, neste PSD de Passos e Relvas mostraram que não sabem trabalhar pelo bem comum, não sabem ouvir, não sabem dialogar, e provavelmente não estão mesmo interessados em fazer nada disso.


Ora, onde é que já vi isto, precisamente num PSD orquestrado por Relvas? Ele há coisas que não enganam ou não mudam....
Na câmara de Tomar passou-se exatamente o mesmo. Incapazes de dialogar, sem qualquer vontade em trabalhar, em ouvir os outros, em discutir ideias e flexibilizar posições, convencidos que o parceiro de coligação deixaria de ter identidade e aceitaria tudo porque, julgavam, estavam lá pelas mesmas razões que eles: o poder pelo poder, as mordomias pelas mordomias, mais as bajulices e o penacho, e "que se lixe se isto não serve para nada e vai ficar pior do que quando chegámos" - enganaram-se, o PS nabantino não alinha em carnavais nocivos ao coletivo!

Sobre o que se está a passar no Governo e aquilo que tem acontecido em Tomar há apenas duas diferenças essenciais: a generalidade dos nabantinos apesar de não acreditar em nada desta câmara e dela nada de bom esperar, está-se nas tintas e pouco disponível para fazer alguma coisa, até porque a coisa não toca diretamente no umbigo de forma muito percetível - ou assim julgam;
e depois, por ridículo que pareça, deitar uma câmara abaixo é formalmente muito mais difícil (para não dizer quase impossível) que o Governo do país.

Seja como for a verdade insofismável é esta: o governo da nação está morto e só não se sabe quem lhe fará e quando o enterro; o governo de Tomar já morreu há muito e já ninguém sabe onde pára o cadáver.



1 comentário:

Sílvia Marques disse...

"É que a coisa não é já o que é suposto acontecer em Democracia, não se trata de uma questão de esquerda e direita com opções e ideologias divergentes, não se trata do partido X ou Y. Trata-se de um conjunto de pessoas que se julga na posse e mando do país, e com isso pensando fazer o que bem entender com uma ideologia que não foi sufragada e não tem expressão na nossa República, e pelo meio ainda fazer negociatas para/com os amigos." Muito bom mesmo, apenas teria deixado este paragrafo a negrito a verde em tom de esperança de que um dia as coisas irão mudar!