sábado, setembro 15, 2012

ai Portugal...


«Companheiros:
Não vou poder estar convosco na mobilização de 15/9 porque tenho o privilégio de trabalhar nesse dia. Mobilizo-me à minha maneira e digo o que tenho a dizer, sobretudo através das canções que escrevo. É urgente estarmos unidos, cada vez mais, por todo o pais, dizer firmemente "NÃO" ao inaceitável. Tem de existir um limite para tanta injustiça, tanta arrogância, tanta impunidade e tanto sofrimento para esta maioria que não pode continuar
a ser tão silenciosa. Não vale a pena falar dos agravamentos bestiais que pessoalmente me afectam, a minha sobrevivência depende essencialmente do público e esse está aflitivamente a ficar sem meios de subsistência. Sei que o desemprego vai aumentar, o número de desalojados e falências também e sei que este povo tem de gritar bem alto e em uníssono "CHEGA!" - para não perecer.»
Jorge Palma, um dos grandes

«Tornou.se evidente que é preciso intervir, que é forçoso dizer que Portugal não podia ter tido pior sorte nas elites que elegeu. Não que a Democracia não funcione, mas porque temos sucessivamente acreditado que o Poder não corrompe Homens e Partidos. Recusamo.nos a crer que possam usar a benção do nosso voto contra nós próprios, em proveito de interesses privados obscuros em que ninguém votou. Este sistema baseado no Capital puro tem o maior desprezo pela Democracia que tanto nos custou a conquistar: estamos a aperceber-nos, tarde, que o Capitalismo já não precisa do sistema democrático para impor as suas furiosas regras. Um jogo sujo em que conquistam o Poder, não porque os esbirros tenham sido eleitos, mas porque se apropriam das barrigas de aluguer daqueles em quem, em boa fé, votamos.

Sucessivamente, e desde que se perderam valores e ideologias na vida política, Portugal tem sido saqueado uma e outra vez por governantes cegos às mais básicas ambições e necessidades das populações. Não é demagogia: os bens públicos, aqueles que todos pagámos com os nossos impostos, são consecutivamente assaltados, retalhados, vendidos a privados em manobras que escapam ao controle dos cidadãos.

Assim, o Sistema Nacional de Saúde, que sempre garantira constitucionalmente assistência médica gratuita a todos os portugueses, foi esvaziado, desinvestido, por forma a dar prejuízo nas contas públicas e justificar assim a sua venda. Sucessivas Administrações incompetentes de Hospitais Públicos, nomeados por igualmente incompetentes governos, colaboraram neste esquema tendo em vista a alienação de equipamentos, que são nossos por direito próprio, a privados que nos cobram para obtermos cuidados que tinham que ser grátis.

No Ensino Publico, a degradação das carreiras docentes, programas confusos e contraditórios, fizeram dos alunos cobaias durante décadas. Assim se destruiu a dignidade de professores e se depauperou a rede escolar, uma área, também ela constitucionalmente, de acesso universalmente gratuito. Ao mesmo tempo, ajudadas e financiadas pelos mesmos governos, pululam no país instituições de carácter privado que esvaziam o sector público com resultados muitas vezes equívocos ou fraudulentos.

Na Justiça ganha quem conseguir empatar o sistema. E consegue empatar o sistema quem tem dinheiro. Mais do mesmo. Não se privatizam os Juízes porque seria, para já, escandaloso. Mas o processo para lá caminha se não soubermos a tempo defender os nossos direitos. A promiscuidade entre poder político e poder judicial é um sintoma vergonhoso e indigno para um Estado de Direito democrático. É o grande sintoma da corrupção que grassa, há gerações, entre nós.

Agora, e em vez de um Serviço Publico de Televisão que sirva abnegadamente o País com uma gestão pública cuidadosa e rigorosa, entrega.se de mão beijada o nosso equipamento, as nossas instalações, o nosso dinheiro aos ' privados' de sempre, para cumprir promessas feitas nos bastidores pré.eleitorais às clientelas políticas.
Este é o Governo que temos. Um Governo que prometeu mudar. Um Governo em quem muitos de nós votámos. Mas poderia ter sido o anterior, ou anterior a esse. Na falência ideológica, hipotecaram os nossos anéis. E agora querem arrancar.nos os dedos.

Portugal atravessa uma das piores crises da sua História. Mas não é a crise económica ou financeira que me preocupa. É a tremenda crise de valores, de respeito, de dignidade. Aquela que tão patente está nesta ultima comunicação do Primeiro.Ministro, esse sim eleito e a quem devemos pedir satisfações.
Um Primeiro.Ministro que encabeça um Governo que anda a reboque dos mercados, seja lá o que isso for, que consecutivamente ataca os mais básicos direitos de quem trabalha, de quem produz, de quem cria emprego, taxando ainda mais os já míseros salários e regalias. Um Governo que prefere fazer pagar os mais fracos e desprotegidos, os reformados, os pensionistas, os desmpregados, os jovens, beneficiando despudoradamente quem mais tem e mais deveria pagar, que tem insistido na degradação da mão.de.obra, como se o País fosse ser mais competitivo quanto mais baixo fosse o valor do trabalho.
Este é o Governo do nosso descontentamento, da chinezização do tecido produtivo, da mercantilização da Economia. A sua total insensibilidade para a verdadeira crise social que ajudou a aprofundar será um dia julgada pela História.

Para já compete.nos não calar a revolta que nos cresce diariamente a cada malfeitoria.
Fomos tolerantes e passivos. Escutámos e acreditámos. Mas perante a ignomínia deste assalto descarado, a coberto da crise e acicatada pelos ' privados' a quem permitimos que o País fosse entregue, chegou o momento de mostrarmos que Portugal tem voz, tem Futuro, tem o mérito de ser produtivo, único, apaixonado, resistente, lutador, tem a capacidade de se erguer, de ousar Sonhar apesar da mediocridade das ' elites'' em quem confia, malfortunadamente, o seu destino.

Este Governo teve o beneplácito da maioria. E é escudado nesse argumento que, perante um Presidente autista e uma maioria conivente, acabou de dar a última machadada no nosso mais elementar direito: sermos Felizes na nossa terra. É aqui, em Portugal, que queremos que os nossos Filhos cresçam e encontrem, também eles, o caminho dos seus próprios Sonhos. E se partirem, que seja por vontade. Nunca por necessidade. Nos já pagámos Portugal. Este País é, portanto, nosso. Sejamos então nós a mandar. Sejamos nós a mudar.»
Pedro Abrunhosa


Sem comentários: