sábado, agosto 04, 2012

O método da avestruz

artigo publicado, com alguns erros ortográficos, no Cidade de Tomar de 3 de agosto.

«A cegueira que cega cerrando os olhos, não é a maior cegueira; a que cega deixando os olhos abertos, essa é a mais cega de todas.»
António Vieira, Sermões

A avestruz, sabe-se, costuma enterrar a cabeça na areia quando se sente em perigo. Algumas pessoas também, como forma de fugir aos problemas ou ao que não lhes convém.
Ora essa parece ser a filosofia de João Tenreiro, presidente do PSD de Tomar que deu na passada semana uma entrevista a este jornal onde por duas vezes se justifica com a governação socialista do país, mesmo respondendo à pergunta «Como vê a situação de Tomar (encerramento de empresas, perda de valências do hospital, possível encerramento de outras instituições...) !!!!

Não sei se é coisa para rir, não deve ser. Mas devo dizer que não é o tipo de discurso político que espero ouvir a alguém da minha geração e com as responsabilidades que agora tem. Acredito que a malta mais jovem é capaz de fazer política com responsabilidade, inteligência, e argumentos que não sejam os requentados usados desde que os cravos saíram à rua – estamos em 2012 João!
Essa coisa de que os culpados são sempre os outros, mesmo como quando no caso, tal afirmação é absurda numa terra arrogantemente liderada há 15 anos pelo PSD, com 3 em 4 maiorias absolutas, e o maior afluxo de dinheiros do Estado e da União Europeia que este concelho alguma vez conheceu, francamente, só pode mesmo convencer quem ainda acredite no pai natal!
Senhores sociais democratas, um gesto, pequeno que fosse de contrição ficava-vos bem!

Mas já que a questão são os governos socialistas, é preciso lembrar ao PSD nabantino que foram durante governos socialistas que se construíram o Hospital e o Politécnico, o IC3 até ao moinho novo, e a adjudicação do parte do IC3 que agora está a ser construída a norte de Tomar, a recuperação da nova escola Secundária Jácome Ratton (esta, com alguns exageros é verdade, mas pronta para mais 50 anos de ensino), a recuperação da fachada do colégio nuno álvares, o novo tribunal do trabalho (vamos ver se este governo não o manda embora), entre muitos outros apoios a associações e eventos, por exemplo.
Se o problema de Tomar são os governos socialistas, bom, estamos conversados. Bem vistas as coisas, vejamos ao contrário, o que é que os governos sociais democratas já trouxeram para Tomar?
Deixo a palavra ao PSD nabantino, porque assim de repente não me ocorre nada de significativo...

Ah, já sei, bem que na última campanha legislativa, em 2011, andaram a dizer às pessoas que era preciso votar no PSD porque ia para o governo o “nosso” Miguel Relvas – e que jeito lhe deu poder usar o exemplo de Tomar para as portagens nas scuts, e mesmo as experiências em jeito de reestruturação que estão a destruir o centro hospitalar do médio tejo e que querem fazer de modelo para outras paragens, isto para não dizer que temos um presidente da assembleia municipal de Tomar, formalmente o primeiro representante do município tomarense e do povo nabantino, que não só não defende os interesses locais, como faz precisamente o contrário.
Bem sei, bem sei, dir-me-á o PSD: - os eleitores escolheram-nos! É verdade, fazem-no há 4 mandatos; há 15 anos que o PSD dirige o concelho de Tomar. Mas nas palavras do presidente do PSD local, o culpado do estado das coisas é o do costume, é o Sócrates!

Mas já que é o Sócrates, convém lembrar, aquele que podia ter sido, como foi noutros concelhos, um importante programa para recuperação da zona histórica e riberinha, o programa Polis, que um governo socialista pela mão do então ministro do ambiente José Sócrates deu a Tomar...
e que só serviu para a câmara nabantina desperdiçar em obras mal planeadas e inúteis  - gastaram-se milhões! E nalguns casos nem se percebe onde... deve ser culpa dos diabinhos negros, como diz o bispo D. Januário...
E afinal, pergunto mais uma vez, porque ainda ninguém me respondeu – onde é que estão as contas finais do Polis em Tomar? Porque é que as contas não são públicas? O que há a esconder?

Esta e outras gravosas matérias sim, convinha que o PSD local se preocupasse e tentasse responder – e não viesse com a demagogia barata de querer atirar responsabilidades sobre o buraco em que Tomar está metido, as oportunidades perdidas, os milhões mal gastos e a dívida insustentável e sem retorno, para os governos que tantas oportunidades deram a Tomar, mas que Tomar não sobre aproveitar por incapacidades locais.
E mais, o PSD bem pode continuar a tentar a estratégia dissimulada de dizer que nada tem que ver com esta câmara, que vai escolher novos protagonistas, que agora há de vir aí um mundo novo. É mentira! São as mesmas pessoas, a começar no atual líder, que apoiaram estes 15 anos de (des)governação autárquica, que desempenharam funções autárquicas, que apoiaram as loucuras e as teimosias e os desmandos de António Paiva e as orquestrações veladas de Miguel Relvas; são os mesmos responsáveis por tudo aquilo que Corvêlo de Sousa e depois Carlos Carrão e os demais vereadores representam agora: o rotundo fim dum regime, duma ideia de concelho totalmente falhada.

“Tomar no rumo certo” prometiam eles em 1997, e o rumo foi o que se viu. Comércio destruído, empresas fechadas, um município totalmente desorganizado, sem estratégia, sem prioridades definidas, sem liderança.
Isto é mentira? E isto é culpa de quem, dos governos socialistas?!!
Para a política da “verdade” tão defendida há uns tempos atrás, o PSD de Tomar está muito mal.
Deste mandato, todos sabemos, pouco mais ficará que as dívidas e mais alguns disparates a somar aos muitos que vinham de trás.

A partilha da gestão municipal na qual o PS entrou com responsabilidade de partido que é a alternativa democrática, durante a primeira metade deste mandato, não serviu, reconheço, na globalidade para grande coisa, porque como ficou demonstrado e por isso mesmo o PS bateu com a porta, é impossível trabalhar com quem não o sabe fazer, com quem não quer dialogar, quem não tem ideias ou tem apenas as gastas e estéreis de sempre – mas serviu, para além de provar isso mesmo e para mostrar que há outras ideias e outras formas de gerir a coisa pública, serviu para conhecer o estado real da coisa, o estado deplorável como se trabalha na câmara, o estado lastimoso das contas, a ausência de qualquer coisa útil vinda dos lados do PSD nabantino.

Eu, que fui pelo PS o responsável pela assinatura desse acordo não o renego, ao contrário do que faz AGORA o presidente do PSD nabantino, naquele jeito dissimulado, lá está, de querer passar a ideia que este é outro PSD, agora é que vai ser a sério!!!
Bom, João Tenreiro não deixa de se descair quando lhe é colocada uma questão sobre a oposição e só fala do PS – mostra que afinal quem tem... tem medo!
Eles sabem que o PS é hoje em Tomar um partido mais forte, que conhece os meandros e os podres daquilo que foi feito nestes 4 mandatos laranja; que é um partido unido, cheio de nova gente e capaz, com ideias e projetos alternativos, com energia e coragem para efetuar mudanças, e vontade de fazer melhor por este concelho que definha.

Mas a verdadeira questão é sempre a mesma, e tem a ver consigo, caro leitor, e com todos os outros tomarenses: será que depois de tudo isto – o pior cego é o que não quer ver – daqui a um ano quando chegarem as eleições, vão deixar-se levar na mesma “cantiga do bandido”

Sem comentários: