«A cegueira que cega cerrando os olhos, não é a
maior cegueira; a que cega deixando os olhos abertos, essa é a mais cega de
todas.»
António Vieira, Sermões
A avestruz, sabe-se, costuma enterrar a cabeça na areia
quando se sente em perigo. Algumas pessoas também, como forma de fugir aos
problemas ou ao que não lhes convém.
Ora essa parece ser a filosofia de João Tenreiro, presidente
do PSD de Tomar que deu na passada semana uma entrevista a este jornal onde por
duas vezes se justifica com a governação socialista do país, mesmo respondendo
à pergunta «Como vê a situação de Tomar (encerramento de empresas, perda de
valências do hospital, possível encerramento de outras instituições...) !!!!
Não sei se é coisa para rir, não deve ser. Mas devo dizer
que não é o tipo de discurso político que espero ouvir a alguém da minha
geração e com as responsabilidades que agora tem. Acredito que a malta mais
jovem é capaz de fazer política com responsabilidade, inteligência, e
argumentos que não sejam os requentados usados desde que os cravos saíram à rua
– estamos em 2012 João!
Essa coisa de que os culpados são sempre os outros, mesmo
como quando no caso, tal afirmação é absurda numa terra arrogantemente liderada
há 15 anos pelo PSD, com 3 em 4 maiorias absolutas, e o maior afluxo de
dinheiros do Estado e da União Europeia que este concelho alguma vez conheceu,
francamente, só pode mesmo convencer quem ainda acredite no pai natal!
Senhores sociais democratas, um gesto, pequeno que fosse de contrição ficava-vos bem!
Senhores sociais democratas, um gesto, pequeno que fosse de contrição ficava-vos bem!
Mas já que a questão são os governos socialistas, é preciso
lembrar ao PSD nabantino que foram durante governos socialistas que se
construíram o Hospital e o Politécnico, o IC3 até ao moinho novo, e a
adjudicação do parte do IC3 que agora está a ser construída a norte de Tomar, a
recuperação da nova escola Secundária Jácome Ratton (esta, com alguns exageros
é verdade, mas pronta para mais 50 anos de ensino), a recuperação da fachada do
colégio nuno álvares, o novo tribunal do trabalho (vamos ver se este governo
não o manda embora), entre muitos outros apoios a associações e eventos, por
exemplo.
Se o problema de Tomar são os governos socialistas, bom,
estamos conversados. Bem vistas as coisas, vejamos ao contrário, o que é que os
governos sociais democratas já trouxeram para Tomar?
Deixo a palavra ao PSD nabantino, porque assim de repente
não me ocorre nada de significativo...
Ah, já sei, bem que na última campanha legislativa, em 2011, andaram a dizer às pessoas que era preciso votar no PSD porque ia para o governo o “nosso” Miguel Relvas – e que jeito lhe deu poder usar o exemplo de Tomar para as portagens nas scuts, e mesmo as experiências em jeito de reestruturação que estão a destruir o centro hospitalar do médio tejo e que querem fazer de modelo para outras paragens, isto para não dizer que temos um presidente da assembleia municipal de Tomar, formalmente o primeiro representante do município tomarense e do povo nabantino, que não só não defende os interesses locais, como faz precisamente o contrário.
Bem sei, bem sei, dir-me-á o PSD: - os eleitores
escolheram-nos! É verdade, fazem-no há 4 mandatos; há 15 anos que o PSD dirige
o concelho de Tomar. Mas nas palavras do presidente do PSD local, o culpado do
estado das coisas é o do costume, é o Sócrates!
Mas já que é o Sócrates, convém lembrar, aquele que podia
ter sido, como foi noutros concelhos, um importante programa para recuperação
da zona histórica e riberinha, o programa Polis, que um governo socialista pela
mão do então ministro do ambiente José Sócrates deu a Tomar...
e que só serviu para a câmara nabantina desperdiçar em obras
mal planeadas e inúteis - gastaram-se
milhões! E nalguns casos nem se percebe onde... deve ser culpa dos diabinhos
negros, como diz o bispo D. Januário...
E afinal, pergunto mais uma vez, porque ainda ninguém me
respondeu – onde é que estão as contas finais do Polis em Tomar? Porque é que
as contas não são públicas? O que há a esconder?
Esta e outras gravosas matérias sim, convinha que o PSD
local se preocupasse e tentasse responder – e não viesse com a demagogia barata
de querer atirar responsabilidades sobre o buraco em que Tomar está metido, as
oportunidades perdidas, os milhões mal gastos e a dívida insustentável e sem
retorno, para os governos que tantas oportunidades deram a Tomar, mas que Tomar
não sobre aproveitar por incapacidades locais.
E mais, o PSD bem pode continuar a tentar a estratégia
dissimulada de dizer que nada tem que ver com esta câmara, que vai escolher
novos protagonistas, que agora há de vir aí um mundo novo. É mentira! São as
mesmas pessoas, a começar no atual líder, que apoiaram estes 15 anos de
(des)governação autárquica, que desempenharam funções autárquicas, que apoiaram
as loucuras e as teimosias e os desmandos de António Paiva e as orquestrações
veladas de Miguel Relvas; são os mesmos responsáveis por tudo aquilo que
Corvêlo de Sousa e depois Carlos Carrão e os demais vereadores representam
agora: o rotundo fim dum regime, duma ideia de concelho totalmente falhada.
“Tomar no rumo certo” prometiam eles em 1997, e o rumo foi o que se viu. Comércio destruído, empresas fechadas, um município totalmente desorganizado, sem estratégia, sem prioridades definidas, sem liderança.
Isto é mentira? E isto é culpa de quem, dos governos
socialistas?!!
Para a política da “verdade” tão defendida há uns tempos
atrás, o PSD de Tomar está muito mal.
Deste mandato, todos sabemos, pouco mais ficará que as
dívidas e mais alguns disparates a somar aos muitos que vinham de trás.
A partilha da gestão municipal na qual o PS entrou com
responsabilidade de partido que é a alternativa democrática, durante a primeira
metade deste mandato, não serviu, reconheço, na globalidade para grande coisa,
porque como ficou demonstrado e por isso mesmo o PS bateu com a porta, é impossível
trabalhar com quem não o sabe fazer, com quem não quer dialogar, quem não tem
ideias ou tem apenas as gastas e estéreis de sempre – mas serviu, para além de
provar isso mesmo e para mostrar que há outras ideias e outras formas de gerir
a coisa pública, serviu para conhecer o estado real da coisa, o estado
deplorável como se trabalha na câmara, o estado lastimoso das contas, a
ausência de qualquer coisa útil vinda dos lados do PSD nabantino.
Eu, que fui pelo PS o responsável pela assinatura desse
acordo não o renego, ao contrário do que faz AGORA o presidente do PSD
nabantino, naquele jeito dissimulado, lá está, de querer passar a ideia que
este é outro PSD, agora é que vai ser a sério!!!
Bom, João Tenreiro não deixa de se descair quando lhe é
colocada uma questão sobre a oposição e só fala do PS – mostra que afinal quem
tem... tem medo!
Eles sabem que o PS é hoje em Tomar um partido mais forte,
que conhece os meandros e os podres daquilo que foi feito nestes 4 mandatos
laranja; que é um partido unido, cheio de nova gente e capaz, com ideias e
projetos alternativos, com energia e coragem para efetuar mudanças, e vontade
de fazer melhor por este concelho que definha.
Mas a verdadeira questão é sempre a mesma, e tem a ver consigo, caro leitor, e com todos os outros tomarenses: será que depois de tudo isto – o pior cego é o que não quer ver – daqui a um ano quando chegarem as eleições, vão deixar-se levar na mesma “cantiga do bandido”?
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