domingo, junho 17, 2012

Olívia patroa, Olívia...

artigo publicado no jornal Cidade de Tomar de 15 de junho
transforma-te naquilo que és”
Friedrich Nietzsche

Dizia-me alguém, um destes dias numa esplanada soalheira desta urbe nabantina, que há muito não lia nenhum dos meus disparates, ao que respondi, é porque não quer, basta andar pela net. Pois mas isso “da net” é coisa de jovens, respondeu-me. Eu discordo mas, enfim, fiquei a pensar nisso, e lá encontrei um tempinho para escrever.
Aproveito para falar de um assunto que há algum tempo me inquieta: esta profissão nova que é o “fazer presenças”. “Fazer presenças” é o que “fazem” artistas de fraca qualidade e semi conhecidos das revistas cor de rosa para ganhar uns trocos e umas refeições à borla. É uma ocupação em grande expansão. Muitos dessa espécie de artistas colocam até essa atividade no currículo como se fosse uma coisa séria. Alguns só fazem isso.
Estou certo que é um ofício muito edificante para a alma, saber que basta existirmos e irmos a algum lugar para justificarmos um salário...
Eu escrevi profissão nova? Não, não é nova, o nosso atual presidente de câmara faz isso há 15 anos. Fazer presença na festa da associação, fazer presença no passeio dos idosos, fazer presença na sardinhada, fazer presença na câmara...
Não estranhem… talvez os mais desatentos não se lembrem, mas o grande ídolo António Paiva também foi eleito muito à conta das presenças que fez intensivamente nos anos anteriores à sua eleição, em tudo o que era bailarico e petisco com mais de três pessoas.
É verdade que na maioria das vezes só lá estava o tempo suficiente para tirar a fotografia, mas parece que apenas isso interessa.

Ora pronto, por mais que não queira, lá tinha o assunto que descambar na Câmara! Falar de coisas tristes que não servem para nada é perder tempo, mas fazer o quê, é o hábito. E no que toca a Tomar, todos estamos já muito habituados com o tempo… com o tempo que vemos passar, claro! Anda este concelho há pelo menos 15 anos a ver-lhe passar tudo ao lado, e quando não lhe estão a passar ao lado, estão a passar-lhe à frente.
E agora estamos a ver passar o tempo até às próximas eleições, que já todos vimos que do atual mandato só ficam as dívidas. Também já eram poucas, mais dívida menos dívida...
Bom mas, “afinal ele está a falar de quê”, pergunta o leitor, que vê no título deste texto uma referência à célebre rábula da olívia patroa, olívia costureira – “porque está ele a falar da Ivone Silva”? Não caro concidadão, isto está tudo ligado, continuo infelizmente a falar da Câmara, do Presidente, do PSD… e esta coisa do “fazer presenças”.
É que de há uns tempos para cá, e a agravar-se, sentem-se uns sintomas de esquizofrenia política naquelas hostes!
Ora, veja-se por exemplo o caso do hospital que o governo nos quer levar. O presidente foi fazer presença, qual olívia patroa, nas reuniões com o conselho de administração onde foi favorável à reorganização prejudicial para os interesses dos tomarenses. E depois faz presença, qual olívia costureira, nas manifestações contra a reorganização e o conselho de administração!
É para ficar confuso? Não, estamos em Tomar!
Mais exemplos? Há dias informou o presidente numa reunião de câmara que a ASAE já permitia aceder ao mercado! O presidente não deve saber que o mercado é propriedade do município e por isso ninguém pode impedir de lá ir… O que a ASAE impede é o funcionamento, e quanto a isso, continuamos à espera que a câmara se decida a fazer óbvio: fazer obras simples (que o dinheiro já o gastaram todo em disparates e agora não chega para mais) que permitam que o mercado funcione naquele edifício, como há muito foi proposto pelo PS, e se acabe de vez com a vergonha terceiro mundista que é aquela tenda.

Ora, veja-se o PSD. Não, não é o da Câmara, dizem eles, é ou outro… O PSD de Tomar ganhou a gestão municipal em 1997 e, mais um, menos um, são os mesmos desde então. Os mesmos que escolheram Carlos Carrão para vereador desde essa altura (o autarca há mais tempo no poder em Tomar), Corvêlo de Sousa e o grande coveiro, responsável por toda esta herança, António Paiva.
Pois o PSD, que candidatou Corvêlo a presidente, tudo fez para mandar Corvêlo embora. Agora, tudo fazem para mandar Carrão embora, e vão ver como daqui a uns tempos vão começar a dizer que não têm nada a ver com a Câmara, não têm nada a ver com isto, apareceram por cá agora.
Querem ver que um dia destes o PSD nabantino até vai dizer que não tem nada a ver com os milhões da dívida do município gastos em parques de estacionamento feitos por teimosia e processos pouco claros, gastos em avenças com advogados, em projetos de coisa nenhuma, em obras feitas refeitas e malfeitas, em “boletins municipais” de propaganda, etc, etc?!
O PSD um destes dias vai dizer que não tem nada que ver com os investidores e com os munícipes que têm sido mandados embora para outros concelhos, os primeiros por mau trato, os segundos por falta de oportunidades. Não, o PSD não tem nada a ver com isto, era outro partido!...
Querem ver que ao longo destes anos alguém viu o PSD, fosse em Assembleia, fosse onde fosse, criticar o que estava a ser feito? Não, pelo contrário, sempre apoiaram tudo! Ou seja, em todos estes anos, limitaram-se a fazer presença.

E aquela mais recente manobra do PSD nabantino, qual olívia costureira, em vir agora dizer que quer reunir com os outros partidos, para de forma rápida chegar a consensos para a extinção da freguesia, só porque não quer ser o único a ficar mal na fotografia?! É só artistas!
Isso já nós do PS, que não criámos o problema, andamos a pedir há mais de um ano!
Mas vamos por partes, o governo PSD, qual olívia patroa, decidiu como quis esta lei espúria que só serve para distrair de assuntos mais importantes. O responsável governamental e mentor desta lei da redução das freguesias é Miguel Relvas. O governo exige às Assembleias Municipais que se pronunciem até 28 de Agosto sobre as freguesias a extinguir no seu concelho. O Presidente da Assembleia como primeiro representante do povo deve ser o primeiro a ter opinião. O Presidente da Assembleia em Tomar é Miguel Relvas. Então o PSD de Tomar, em vez de vir fazer número, devia começar por perguntar a Miguel Relvas, que freguesias é que ele quer ver extintas em Tomar! Eles criaram o problema, e agora querem que os outros o resolvam?!
Mas mais, a lei que o PSD inventou também diz que a câmara, se não tomar a iniciativa que leve à deliberação, deve apresentar um parecer (artº 11). O PSD já perguntou ao seu presidente e aos seus vereadores que freguesias querem ver extintas em Tomar?
E tanto, tanto mais, onde explorar esta dualidade do PSD que faz, e o PSD que diz que não faz, que só pode ser novidade para quem não viva cá ou veja o PSD como o clube do seu coração.
Porque para todos os outros, o PSD nabantino não se vai transformar por magia em nada de novo, as pessoas são globalmente as mesmas, a mesma falta de visão, a mesma falta de soluções, a mesma incapacidade para pôr Tomar a andar no caminho do futuro.
O PSD é aquilo que é.

Bom mas, com a diferença de serem cada vez menos, principalmente os jovens porque vão todos embora, os tomarenses também são os mesmos.
Ainda falta um ano, estão quase todos os tomarenses à espera e a queixarem-se. Mas isso diz que não continuarão a votar como se estivessem a apoiar o clube de futebol? Que não continuarão a votar no mais bonito, no melhor falante ou no “sr.doutor”? Ou será que vão finalmente olhar para as ideias e perceber que não basta lamentar-se, que é preciso fazer alguma coisa, nem que seja apenas votar de forma diferente?
Eu, confesso, já não tenho o otimismo de outros tempos. É que queixarem-se e falar mal dos eleitos, ouço realmente muitos a fazê-lo. Só que, nestes que há quinze anos nos levam para o buraco e ainda têm a lata de dizer que não, que eram outros, eu sei que nunca votei. Foi você?



2 comentários:

templario disse...

DE: Cantoneiro da Borda da Estrada

Excelente artigo. Gostei muito!

Exige-se que escreva mais "disparates" destes.

Um abraço.

HC disse...

Obrigado.
O tempo não chega para tudo, mas vai-se fazendo o possível.

um abraço