«Não podia começar esta crónica sem fazer uma referência às eleições presidenciais em França cuja primeira mão decorreu este domingo com a vitória do socialista François Hollande.
A segunda volta decorre dia 6 de Maio, e o seu resultado não é importante apenas para França mas, numa Europa governada na totalidade por governos de direita e com erradas políticas neoliberais que têm sido aplicadas, uma alteração política na liderança de um dos pilares do eixo franco alemão, pode muito bem significar o início da mudança na Europa, nas políticas de austeridade sobre austeridade a que, até já o FMI vem fazer avisos.
Esta eleição é por isso importante também para nós, não só porque França é ainda o país com o maior número de portugueses no estrangeiro, mas porque as suas políticas influenciam diretamente as do nosso país e as de toda a zona euro. Aguardemos então pelo que acontecerá dia 6.
Mas hoje, naturalmente que o tema principal das minhas palavras é outro. Hoje é dia 25 de Abril, perfazem 38 anos sobre a revolução que acabou com a ditadura política e social que governou em Portugal durante 48 anos, se considerarmos não só a liderança de Salazar e Marcelo Caetano, mas também a ditadura militar entre 1926 e 1933, fazendo de Portugal o país com a mais longa ditadura no mundo ocidental durante o século 20.
De ano para ano, cada vez mais, quando somos chegados a esta data replicam-se as entrevistas e as reportagens nos órgãos de comunicação social, indagando se Portugal precisará de uma nova revolução.
É evidente que Portugal não precisa de uma revolta armada, Portugal tem hoje um sistema democrático cujos órgãos de soberania estão perfeitamente legitimados em eleições livres. O que não quer dizer que a revolução se tenha concretizado em pleno e que tudo esteja bem, claro que não.
Há muito a fazer e isso é essencialmente ao nível da cidadania, da revolução das mentalidades.
Os tais 48 anos de ditadura deixaram a sua marca nos portugueses e ela demora a passar. Os portugueses participam pouco nas discussões públicas, participam pouco nas causas e nos movimentos sociais, continuam com a mentalidade de esperar que lhe digam o que fazer,
Tem ainda medo em assumir-se e lutar por questões concretas – sim, podem de quando em vez mobilizar-se para umas greves genéricas ou umas manifestações sobre coisa nenhuma tipo manifestação da geração à rasca. Mas quando são coisas sobre as quais podem efetivamente fazer algo, ficam em casa, ficam no café, vão para a praia ou para os centros comerciais.
Em Tomar temos os exemplos recentes das manifestações em defesa do hospital com fraca adesão da população. Mas temos igualmente muitos outros exemplos em que se o envolvimento da população fosse maior, certamente a situação seria diferente e dificilmente os maus políticos que nos têm governado no município, poderiam ignorar e continuar ainda a fazer. Basta ver a vergonha que é o nosso mercado municipal, ou a degradação de algum património como o convento de santa Iria por exemplo.
Numa comunidade atenta, participativa, preocupada e exigente, jamais os políticos poderiam ter deixado chegar a situação a tal ponto, e andado a estragar milhões de euros ao longo da última década em projetos duvidosos e, em muitos aspetos sem qualquer interesse para os tomarenses e para o desenvolvimento do concelho.
Ora, a questão é mesmo essa, a revolução é precisa todos os dias, e ela deve fazer-se todos os dias, por cada um de nós, junto a quem está ao nosso lado. Se não somos capazes de intervir junto daquilo que está junto a nós, na nossa rua, na nossa comunidade, na nossa associação, no nosso local de trabalho, no nosso concelho – como poderemos esperar que aqueles que estão longe, no governo e noutros locais de decisão, nos possam ouvir? Poderemos exigir dos outros, se não exigirmos primeiro a cada um de nós?
O mundo muda todos os dias um bocadinho. Mudará para melhor, se cada um de nós fizer a sua parte.»
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