Em dia da europa, a minha "nota do dia" na rádio Hertz.
«Estive uma semana ausente do país, semana em que fiz o máximo para saber o mínimo do que quer se passasse por cá. Mas uma semana ausente pode parecer uma eternidade… de regresso, parece que Portugal é um país subdesenvolvido com notícias de multidões a digladiarem-se por enganosas promoções de supermercado, onde se destroem leis de concorrência e se prejudicam os produtores que acabam por ser quem paga a dita promoção e, a médio longo prazo será também o consumidor quem é prejudicado. Para mais, ao que consta, os primeiros produtos a esgotarem-se foram as bebidas alcoólicas.
Enfim, deixemos as nossas tristezas lusas e avancemos para outras mais globais. Hoje, 9 de maio é dia da Europa. Foi a 9 de Maio de 1950, meia dúzia de anos depois do fim da segunda guerra mundial, guerra essa nascida na europa e à europa essencialmente afetando, que Robert Schuman apresentou uma proposta para a criação de uma Europa organizada, requisito indispensável para a manutenção de relações pacíficas. Essa proposta ou, a "Declaração Schuman", é considerada o começo da criação do que é hoje a União Europeia.
Bom, mas, o que é hoje a união europeia e para que nos serve a nós portugueses? Que europa é esta neste contexto de crise mundial? Terá hoje a europa a capacidade de influenciar a política e as sociedades globais? Será ainda a europa o modelo para o desenvolvimento económico, social e cultural como o foi durante séculos?
São muitas questões, impossíveis de verdadeiramente abordar no espaço desta crónica. Fiquemos pela espuma dos dias e por algumas análises breves.
A verdade é que os tempos de grandes políticos europeus que tanto contribuíram para a construção europeia, políticos verdadeiramente líderes e com a dimensão de estadistas, como o foram o já citado Shuman, Jean Monet, Winston Churchill, Walter Hallstein, e depois Helmut Kohl, Mário Soares, François Mitterrand e outros, passou. Nos últimos anos a generalidade dos líderes tem sido pouco mais que medíocre, muito longe desses enormes estadistas, os de agora não têm feito mais que ignorar o todo europeu, preocupados sim com cada um dos seus quintais ou, nem isso, preocupados somente com os ciclos eleitorais e com a manutenção do poder. Basta analisar a tão deficiente resposta à crise global, quando há tanto ela já se adivinhava, e a forma elitista e imperial como os países mais fortes têm imposto medidas aos países mais fracos, esquecendo que é muito à conta destes que se têm desenvolvido. Esta tem sido a Europa de, entre outros, Durão Barroso, Berlusconi, Merkel e Sarkozi. Essa é a má Europa, a Europa dominada por governos de direita, paradoxalmente, muito liberais e conservadores, usando fórmulas politicoeconómicas comprovadamente gastas e erradas que, finalmente este fim de semana começou a desmoronar-se com a queda de um dos dois pilares até aqui mais fortes, a direita francesa de Sarkozy.
Mas não só, é verdade que na Grécia os gregos deram mais uns tiros no pé elegendo partidos de extremas direita e esquerda, sem que nenhum venha a conseguir formar governo, o que virá certamente a ditar novas eleições, cuja consequência quase inevitável será a prazo a sua saída da zona Euro.
Mas no reino unido o partido trabalhista venceu as eleições locais, nas eleições regionais na Alemanha, a esquerda ganhou a maioria e, claro, em França o PS ganhou e François Hollande é agora o presidente. Com a vitória de Hollande e as expetativas por este criadas, outros governos, outros países ganham motivação e dão sinais de querer mudanças. Até o primeiro-ministro português, Passos Coelho, oportunistamente veio falar de trabalhar com Hollande numa “agenda ambiciosa”.
A europa conservadora já treme, a ponto de apenas um dia depois o líder do eurogrupo ter vindo a terreiro dizer, numa atitude que é um claro grito de desespero, que o acordo orçamental é para manter.
Dias mais sorridentes parecem assim anunciar-se no horizonte, mas tal como a meteorologia, isto não é uma ciência exata. Forças contrárias começaram a digladiar-se na política europeia, e vá a Europa por que rumo for, haverá sempre tempestade no caminho. Fica a esperança de que com estes bons ventos de mudança soprados pelos eleitores franceses, a tempestade possa ao menos ser bastante mais curta.»
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