artigo escrito ainda na "ressaca" da grande noite de 17/18 de Dezembro, e publicado no Cidade de Tomar de 30.12.2011.
Fora do contexto, Pim-Pim é uma expressão que não quer dizer coisa nenhuma. Mas em Tomar, pouco haverá que consiga unir de forma tão emotiva um tão alargado grupo de tomarenses, essencialmente aqueles que, agora entre os 30 e os 50, tiveram neste espaço mítico das tardes e noites tomarenses, um local de encontro e convívio.
E com certeza ainda mais especialmente para aqueles que, como eu, lhe devem boas memórias da sua adolescência, que é a fase da vida que para o bem e para o mal, mais marca a personalidade da maioria dos seres humanos.
Este sábado, ou melhor dizendo, esta madrugada de domingo que passou, centenas de desses nostálgicos puderam reviver como numa espécie de máquina do tempo, esse período bom das suas vidas. Encontrar e partilhar num mesmo sítio, rostos alegres que não se reviam, tantos, há mais de uma década. Nesse bom espírito de comunhão, foi muito interessante verificar que até os donos e gerentes de vários outros espaços participaram na festa.
Que melhor prenda de natal e melhor forma de encerrar o ano podíamos pedir?
Não só vi a correr de Lisboa, como há anos que não esperava um par de minutos para entrar num qualquer espaço de animação nocturno, e pouco me faria fazê-lo. Mas até nisso foi um reviver do passado.
Esta noite saudosista que já tinha tido um ensaio numa das, e para mim a melhor, noites de animação da Festa dos Tabuleiros junto ao coreto, teve nesta madrugada um verdadeiro ágape de emoções e revivalismo.
Não me lembro a primeira vez que entrei no Pim-Pim nem que idade tinha, mas as primeiras vezes, ainda imberbe adolescente, foram seguramente nas matinés de sexta à tarde, num hábito que se haveria de tornar regular até ao fim do meu ensino secundário em 95.
Almoçávamos no antigo Texas ou outra tasca do género - talvez no Matreno ou mesmo na Casa das Ratas, bebia-se mais um copo no Lourenço ou no Noite e Sol, e paragem obrigatória antes do Pim-Pim, se ainda houvesse espaço o que nem sempre era fácil, os Passarinhos para umas garrafas de Mouchão que era preferência das raparigas, e por conta do efeito que lhes fabricava, era nossa também...
O Pim-Pim foi tão importante para estas gerações de tomarenses, como foram durante décadas anteriores, os bailes da Nabantina ou da Gualdim Pais por exemplo. Sinais dos tempos, o Pim-Pim fechou há uns anos. Como tudo tem um princípio e um fim, fica apenas as melhores e as piores memórias das coisas.
Que possamos agora continuar a reviver esses tempos com mais noites como esta. Tomar precisa, os tomarenses precisam.
A prova é que esta noite que passou, e que era já expectável pelos movimentos existentes nas redes virtuais, não foi uma grande noite apenas no Rio Bar, foi-o nos outros espaços de animação, foi-o também para muitos restaurantes, e genericamente para a noite da cidade que, citando um importante empresário local, “teve uma movida diferente!”.
E uma cidade que se diz querer ser de cultura e turismo, tem de ter muitas noites assim.
Esta fórmula, a do revivalismo, já descoberta por vários espaços noutros concelhos, há muito mostra ser bem sucedida, mas em Tomar há uma certa tendência para ignorar o que de bem se faz noutros locais, e permanecer conservadoramente agarrado a fórmulas gastas. Não é só na política e gestão municipal, é um problema transversal à nossa comunidade, por muito que a quem exerce funções públicas caiba dar o exemplo, a motivação, a inspiração. Parece estar no nosso ADN (mas não são os genes que os antepassados nos legaram), os tomarenses são de forma geral conservadores e apáticos.
Lula da Silva disse há uns tempos em entrevista, que o sucesso da sua política tinha consistido em fazer o óbvio. Em Tomar o óbvio é quase sempre ignorado.
Voltando ao concreto, o óbvio é isto, música boa (o bom é sempre subjectivo de acordo com o gosto de cada um, e relativo ao seu contexto pessoal, contexto esse sempre muito marcado por aquilo que ouvimos na adolescência) alta mas o suficiente para que as pessoas ainda consigam entender-se sem ser necessariamente aos berros. Bom ambiente. Boa animação.
Parabéns aos grandes DJ’s, parabéns a todos os que estiveram envolvidos na organização, parabéns à gestão do Rio Bar por acolher a iniciativa e ao restante staff (mesmo que um pouco aflitos, certamente por não esperarem tamanha adesão). E já agora, parabéns a todos nós da geração Pim, que não deixemos morrer a mística.
Faça-se mais.
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