artigo publicado no jornal Cidade de Tomar de 9 de Dezembro
“Se não sabes para onde vais, então qualquer caminho serve - disse o gato à Alice.”
Lewis Carrol, em Alice no País da Maravilhas
Há dois anos atrás o PSD precisou encontrar quem lhe pudesse auxiliar na governação. Reticentes é certo, com muitas dúvidas sobre as mais que provadas incapacidades desses protagonistas, o PS aceitou ainda assim, com empenho, esse desafio e fê-lo com o comprometimento de, na procura dos melhores interesses para os tomarenses, o fazer no respeito para com os princípios há muito defendidos e as opções assumidas em compromisso eleitoral.
Só que o PSD e os seus autarcas a começar por Corvêlo de Sousa nunca compreenderam ou aceitaram ter perdido a maioria absoluta, e continuaram a governar como se a tivessem. E governar assim, mesmo se a tendo como aconteceu nos três mandatos anteriores, é governar mal! E com tantos erros acumulados ao longo dos anos, exigia-se ao menos a capacidade de aprender e querer mudar qualquer coisinha.
Ao invés, o PSD nunca aceitou sequer fazer aquilo que estando bem claro no acordo nem precisaria de estar pois é o mínimo que se exige em política: dialogar.
Passados dois anos sobre o início do atual mandato autárquico, e depois de toda a inaptidão, deslealdade, irresponsabilidade demonstrada pelo PSD na governação, era mais que tempo do PS dizer basta!
Ao longo destes dois anos o PS provou que há outras formas de estar e fazer na gestão da coisa pública, e que há outras soluções mais consonantes com as dificuldades e oportunidades que se colocam ao nosso concelho. Apesar de todos os entraves colocados, os vereadores socialistas demonstraram nas responsabilidades que lhe estiveram confiadas capacidade de decisão e trabalho, eficácia e transparência, responsabilidade e determinação.
Já o PSD, sem tão-pouco querer ouvir uma opinião contrária, cada vez mais fechados sobre si mesmos e sobre suas indecisões e divergências internas, é o grande responsável por uma sucessiva degradação da gestão municipal, a que acresce um evidente desfasamento para com as reais necessidades do concelho e o alheamento deliberado às dificuldades presentes.
É pena, e para Tomar é muito grave. Perdeu-se uma boa oportunidade para abrir um novo capítulo na gestão municipal, perdeu-se uma grande oportunidade de mostrar que a velha política do tudo contra ou tudo a favor consoante se está no poder ou na oposição não pode continuar a fazer sentido, e poder-se-ia ter mostrado que é possível fazer política de uma forma diferente, moderna, evoluída, apostando essencialmente no diálogo, na construção coletiva, na mitigação dos contrários e no reforço das ideias que unem.
Mas como disse Carlos Carrão (um dos principais protagonistas de todo este triste enredo de década e meia) ainda que se referindo a um só assunto na última Assembleia Municipal, “a Câmara Municipal não fez o seu trabalho”. Há muito que não faz e entre tanto mais, isso prova-se no contínuo crescimento da despesa e dívida do município, como se pode ler no documento de revisão orçamental que tentaram fazer aprovar mas que foi, muito bem, reprovado por todas as demais forças políticas. E a grande questão é, onde está legitimada a imensa dívida do município de Tomar?
À primeira vista até se poderá dizer: fez-se e está-se a fazer alguma coisa em Tomar. Sim, de todos os disparates anteriores, estão ainda as obras dos antigos lagares del rei/moagens da Mendes Godinho. Mas para quê, com que propósitos, com que meios para tornar aquilo útil? Não sei, não sabe ninguém…
Nem vale a pena repisar nas obras falhadas ou mal planeadas já tanto faladas e à vista de todos, falemos apenas do mais recente. Tanto que insistimos para que as verbas destinadas à terceira fase do flecheiro fossem alteradas para recuperação da vergonhosa situação do mercado. O PSD não quis.
O Polis foi em Tomar, como tanto mais, de uma extrema inutilidade e esbanjamento. Como estão as contas do Polis? Porque não estão fechadas? O que há aí ainda a revelar?
Onde estão os projetos de dinamização do centro histórico, de apoio aos investidores, de revitalização da economia local ou de incentivo à criação de emprego?
Quais são as medidas para apoio à juventude, ou para verdadeiramente fazer do turismo cultural uma aposta séria e estratégica, ou de envolvimento das enormes potencialidades do associativismo nabantino na capacidade de criação de emprego e desenvolvimento económico?
Nada, nada, nada, e se em mais falasse a conclusão seria a mesma, nada. E depois há ainda o Parque T e além dos milhões já lá gastos, os seis mil e quinhentos milhões que o PSD quer pôr o município a pagar à BragaParques, o que se acontecesse, levaria definitivamente o município à bancarrota.
Tudo isto não pode ser estranho para os tomarenses. Corvêlo e os restantes limitaram-se a seguir aquilo que têm feito desde 1997, e nas raras vezes que chegam a tentar justificar as suas falhas, usam as mesmas desculpas esfarrapadas de sempre: porque foi o parecer dos técnicos, porque é o que a lei diz, porque é o que está no projeto, ou simplesmente, porque a responsabilidade é de outros.
Corvêlo de Sousa não tem nem nunca teve condições para exercer as funções que ocupa, e por isso o próprio PSD se mostra envergonhado em defendê-lo, sendo mais que sabido que desde o início deseja que saia. O grande problema é que os que o seguem na lista não são melhores, nem podem, se estão lá há tanto tempo e não aprenderam ainda…
Catorze anos na governação de um concelho é muito tempo. Mas em vez de sair da puberdade, o PSD nabantino continua sim preso à mesma teimosia infantil, visão limitada e a irresponsabilidade de quem julga que tudo pode fazer sem consequências.
O PSD tem tentado a tão subtil como falsa, estratégia de dizer que não tem nada que ver com estes autarcas como se não fosse responsável por os ter escolhido. Irremediavelmente sem retorno, não mais poderão tentar esse embuste. Há muito que afirmámos que se não mudasse de atitude, o PSD teria de carregar sozinho o menino nos braços. Essa realidade confirmou-se por exclusiva culpa de quem não soube trabalhar, e seria importante saber que soluções tem agora o PSD. Eu não tenho dúvidas em afiançar: não tem nenhuma.
A gestão do PSD com António Paiva foi ruinosa para o município e para Tomar. Criminosa é até provavelmente o adjetivo mais correto. A gestão do PSD com Corvêlo de Sousa continuou, de forma ainda mais atabalhoada esse rumo. O que pode fazer acreditar que, seja lá com que protagonistas for, de futuro o PSD poderá fazer diferente?
E ainda faltam dois anos para o fim deste mandato. Com a situação tão grave que o município atravessa, este é um daqueles momentos em que a coragem e a responsabilidade dos políticos deveria ser posta à prova. O PS acabou de dar um importante exemplo.
Tomar já perdeu muito tempo, Tomar precisa de eleições antecipadas, precisa de novos protagonistas.
Sei que as condições para que tal aconteçam são muito remotas. Seja com que justificações for, poucos se mostram desprendidos dos lugares que julgam seus.
Se tivermos mesmo que perder mais dois anos, ao menos que se tirem lições de todo este emaranhado de disparates.
Que os partidos, a começar no PSD, tirem lições na forma como escolhem as pessoas que colocam nas listas, e os cidadãos que passem a escolher melhor na hora de votar, que não olhem apenas ao símbolo do partido mas que olhem às pessoas que compõem as listas e aquilo que entendem ser as suas capacidades.
Que olhem para o projeto (não esquecer que em 2005 o PSD ganhou as eleições em Tomar sem sequer ter apresentado um programa eleitoral); e por favor (esta não devia ser uma condição, mas a realidade local tem demonstrado a sua necessidade), na hora de escolher, escolham pessoas que conheçam o concelho, que gostem de Tomar e dos tomarenses, que sintam os seus problemas e que queiram convictamente tentar resolvê-los.
A política e a gestão pública democrática devem fazer-se com base no diálogo, na discussão construtiva e na procura dos consensos alargados. Sei que do lado da alternativa possível a este estado de coisas, o PS, continuará como sempre a existir a capacidade crítica e a convicção das ideias, reafirmando-se incessantemente como a opção credível para trabalhar por Tomar e pelos tomarenses.
Embora muito austera a situação a que foi trazido, o concelho de Tomar terá sempre opções. Assim nos seja confiado demonstrá-las.
Lewis Carrol, autor que cito no início deste texto, disse bem que “as pessoas podem duvidar do que dizes, mas acreditarão no que fizeres”. Ora, em Tomar, do que diz e do que faz o PSD já todos temos obrigação de saber muito bem: fez muito mal, aprendeu muito pouco, não mostra qualquer vontade séria de querer mudar.
Estarão os tomarenses disponíveis para continuar a aprovar tão mau executante?
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