sexta-feira, julho 22, 2011

De saída

artigo publicado no jornal Cidade de Tomar de hoje.

Esta será a última vez que assino um texto enquanto presidente da Concelhia de Tomar do Partido Socialista. Foram quase seis anos como primeiro responsável por uma estrutura que envolve umas centenas de militantes e autarcas, alguns deles independentes.
Liderar um partido político é na maioria das vezes difícil. Lidar com as muitas opiniões contrárias, com legítimos interesses diversificados, e também com as amizades ou as antipatias entre pessoas que se conhecem muitas vezes há muito tempo, originando por vezes invejas gratuitas, por vezes ódios cujas razões se perderam no tempo. Um partido político é afinal como uma representação restrita da sociedade.
Como em todo o lado, quem lidera não consegue agradar a todos. Se é firme há quem o ache autoritário, se é condescendente há quem o ache manipulável, se decide é egocêntrico, se ouve os outros é porque é incapaz de decidir sozinho. Depois, como em tudo, as opiniões sobre a sua acção dividem-se: há sempre quem nele se reveja por se sentir representado; há quem o desvalorize por achar que faria melhor; há quem não goste porque não, porque é novo ou velho, porque é baixo ou gordo, ou porque é homem ou porque é mulher, ou porque é do Benfica ou não gosta de touradas…

Liderar é muitas vezes fazer escolhas, e muitas vezes essas escolhas envolvem pessoas. E por mais que tenhamos o perfil traçado, o perfil estudado, há sempre pessoas que nos desiludem outras que nos surpreendem agradavelmente. Como diria um amigo meu, é quando está em brasa que se vê a qualidade do metal. E como em tanto mais, é seguramente assim na política.
Liderar é também cometer erros, saber assumi-los, e acima de tudo aprender com eles, sejam os próprios sejam os observados nos outros.
Como em qualquer organização, nem sempre todos estão pelas melhores razões ou com a maior das dedicações – sempre foi sempre assim será. Interessa o sentido para o qual aponta a maioria. A grande maioria dos socialistas nabantinos deseja um concelho mais desenvolvido, mais capaz, onde todos possamos continuar a viver e a viver com mais oportunidades. Um concelho que ao contrário do afundanço das últimas décadas, seja sim um concelho que prospere, que agarre os jovens e atraia outros.
A grande maioria dos socialistas coloca os interesses do colectivo à frente dos pessoais, são esses que interessam, é nesses que me revejo.

Ao longo deste tempo procurei sempre introduzir novas pessoas, novos protagonismos, nunca centrando no “líder” a responsabilidade única pela decisão ou condução da estrutura. É assim que gosto de trabalhar, e na política como em qualquer outra actividade que tenha por base o voluntariado, não concebo mesmo que possa ser de outra forma. Pelo colectivo com o colectivo. Se assim não for, e mesmo sabendo que muitos não pensam como eu, para mim não vale a pena.
Gosto de estar em colectivos que baseados nas mesmas causas, dirigidos aos mesmos projectos, encontram nesse espaço colectivo a partilha, a força e a ambição para prosseguir com esses desafios.
É assim que vejo qualquer associação, é assim que vejo qualquer partido político, é assim que vejo o Partido Socialista e a concelhia de Tomar.

Com essa forma de estar, foram várias as bandeiras nestes anos, prenhes de causas, que empunhámos ao longo deste tempo.
Da eterna defesa do Mercado Municipal e da sua revitalização, infelizmente ainda no estado vergonhoso em que se encontra; à luta contra a ponte do Flecheiro, hoje prova que foi mais um “investimento” de prioridade duvidosa, à vista que está que pouco ou nada resolveu na mobilidade, ao contrário do que poderia resolver se, como sempre defendemos, tivesse sido construída mais a sul à entrada da cidade, como deveria obrigar o simples bom senso.
Olhando para a gestão municipal, este tempo que passou pode muito bem ser definido como o das dispendiosas obras inúteis, sinónimo por isso de oportunidades perdidas.
Com o Polis à cabeça como grande ocasião falhada, temos hoje a cidade (do resto do concelho nem vale a pena falar) polvilhada de obras caras, com despesas avultadas de manutenção e sem capacidade de retorno financeiro e na maioria dos casos, qualquer outro. Das grandes obras como o Pavilhão Municipal, erradamente pensado logo de início porque não deveria ter sido construído naquele local, nem com aquelas características; à Casa dos Cubos que serve para quê afinal?; às obras mais pequenas como as rotundas mal concebidas ou as passadeiras elevadas eternamente a ser reparadas.

Tudo isso, fraco ou nenhum planeamento, falta de visão e de senso, muita teimosia bacoca, explicam a imensa dívida do nosso município, e apesar disso perguntamos: o que disto representou investimento em desenvolvimento económico, em incentivo à criação de postos de trabalho, de expansão de nichos de mercado, em melhoria de acesso dos cidadãos aos serviços públicos e melhor prestação destes; ou sequer, o que é que disto representou melhoria da qualidade de vida e da oferta generalizada de Tomar num contexto de permanente competitividade entre concelhos?
A dívida colossal, a pesada herança do desastre da governação PSD/António Paiva, é-o ainda mais porque dificilmente terá o município capacidade para em longos anos a conseguir pagar com meios próprios, e exprime-se magistralmente como exemplo de tudo o resto numa só obra: o desastroso Parque T que fora os milhões já gastos, há-de levar ainda mais 7 milhões sobre os quais o município incorre já em juros, e continuamos sem perceber como pensa afinal o Presidente de Câmara pagá-los. E apesar de tudo isto continua-se, mês após mês, a esbanjar dinheiro sem critério, a gastar onde não há retorno, a gerir casuisticamente sem qualquer plano ou visão.

Já o disse e é evidente: sem rumo, sem organização, sem liderança, esta Câmara ficará para a história recente como a pior do pós 25 de Abril.
E os culpados quem são? Os políticos? Não, todos nós! Os políticos tomarenses com responsabilidades públicas nos últimos anos, escolhidos pelos tomarenses, têm sido globalmente maus, muito maus é certo, e eu sinto algum desconforto em poder ser confundido com eles e essa é uma das razões do meu actual cansaço com a política. Mas não confundo a responsabilidade dos eleitos com a desresponsabilização dos que os elegem.
Afinal, quantos tomarenses se preocupam com o estado a que o concelho chegou, com o estado desgovernado do município, o que é fazem, como é que exprimem o seu desacordo? É fácil deitar as culpas sempre a outros, é muito fácil culpar os suspeitos do costume, os políticos, mas os políticos são o espelho das suas comunidades e tão ou mais competentes como a comunidade lhes exigir. A responsabilidade começa em cada um de nós, a nossa comunidade começa em cada rua, em cada casa.

De saída, não esqueço os elementos dos três secretariados e das três comissões políticas que me deram o privilégio de dirigir; aos candidatos que em eleições autárquicas muito se esforçaram mas apesar disso não saíram ganhadores, não desistam porque como bem disse Mário Soares “só é derrotado quem desiste de lutar”; a todos os autarcas socialistas, particularmente aos Presidentes e outros elementos das Juntas de Freguesia cujo trabalho é esforçado e dedicado como provavelmente nenhum outro na vida autárquica, e ainda assim pouco reconhecido. A todos um penhorado agradecimento.

À comunicação social, mas mais que isso, aos jornalistas que são pessoas como todos os demais, com falhas e virtudes e que mesmo errando aqui ou ali (e eu bem sei que sou muitas vezes crítico para com o seu trabalho), fazem o possível com os poucos meios de que dispõem, e que apesar disso têm no nosso concelho um papel muito importante não apenas no simples transmitir de informação, mas também no alertar das consciências, no dar voz aos cidadãos mais anónimos, no unir da comunidade. Tudo isso a comunicação social pode fazer – se o quiser. E nós pretensos políticos, temos de reconhecer que a comunicação social é uma extensão daquilo que fazemos. São eles que projectam, ou não, a nossa voz, eles que transmitem ou não, as nossas ideias.
No fim deste processo, de vitórias e derrotas, de lutas, de horas e dias e meses e anos, saio acima de tudo, com a mesma coisa que entrei – é em verdade, ainda que muito desvalorizada, das poucas coisas que vale a pena possuir: uma consciência tranquila.
A todos – porque como disse o outro, não deixarei de andar por aí – vemo-nos nas lutas!

Por fim, quanto ao PS, este fim-de-semana fazem-se escolhas, nacionalmente os socialistas escolhem um novo líder, e estou certo que escolherão António José Seguro, alguém que há muito admiro, alguém que tem uma visão mais próxima da minha do que é a esquerda, do que é o socialismo, do que é o humanismo.
Por Tomar os socialistas escolhem um novo líder e uma nova equipa de dirigentes. Sei que a Anabela Freitas saberá encontrar as melhores energias para levar o colectivo socialista a melhores portos e com isso levar o PS a, escolhido pelos tomarenses para governar, resgatar Tomar do buraco em que dia-a-dia se afunda. A todos, bom trabalho!

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