terça-feira, abril 19, 2011

Ensino Politécnico no distrito

A minha opinião, sucinta, publicada no jornal Cidade de Tomar de 15 de Abril (em conjunto com outras personalidades - não que eu seja uma!), em resposta às 3 questões colocadas:
"1 - Acha que existem vantagens com a fusão ou reorganização do IPT com o Instituto Politécnico de Santarém? 2 - Adviriam vantagens, para Tomar e concelhos onde se implanta o IPT, nos aspectos científicos, económicos ou culturais, com esta fusão ou reorganização? 3 - Será curial, no século XXI, a centralização dos Institutos Politécnicos, nas capitais de distrito, no caso dos Politécnicos do Ribatejo, em Santarém?"

Tenho para mim que um dos problemas do nosso país é um excesso de opiniões sem fundamento. Há muito a tendência de as pessoas acharem que sabem de tudo e falarem desmedidamente sem critério e responsabilidade, como se estivessem a comentar as decisões do treinador do clube de futebol.
Por outro lado, é certo que os políticos devem formular opinião sobre os mais diversos assuntos, mas precisamente com responsabilidade e coerência, argumentando e fundamentando.
Com estes cuidados, no espírito das questões formuladas digo o seguinte:

Portugal tem, como a outros níveis, também ao nível do Ensino Superior um problema de excesso e novo riquismo. Nos anos 90, deslumbrados com os dinheiros europeus e numa bacoca onda provinciana, também como forma de criar postos de trabalho bem renumerados muitas vezes a quem não tinha qualidade para tal, permitiu-se uma proliferação de instituições por tudo o que era quintal autárquico. Hoje temos uma rede de ensino superior claramente excessiva para a dimensão do nosso país e dos nossos impostos.
Essa realidade virá forçosamente a transformar-se, contraindo-se, o que ditará a fusão e provável extinção de algumas dessas instituições, o que se tem já verificado ao nível dos privados.

Dito isto, sobre os Institutos Politécnicos de Tomar e Santarém, os quais conheço com razoabilidade, as perguntas colocadas ainda que subjectivas quase se respondem a si mesmas. Se há vantagens na fusão? Em teoria sim, porque o que é maior é em princípio mais forte; Vantagens advindas da fusão, para Tomar ou outros concelhos? Em princípio é indiferente, não é o serem dois distintos ou um só agrupado que faz a diferença ao nível local; A última questão tem por base a tal guerra de capelinhas, tão responsável no nosso país por tanto disparate, e como tal não faz sentido pensar as coisas nesses termos. Até porque isso das capitais de distrito também tem os dias contados.

As questões essenciais são outras, e particularmente em relação a Tomar, a primeira grande questão é a de mudar a cultura reinante e a forma de actuação, do Município, do Politécnico, e da comunidade em geral.
O facto é que o IPT é (a par com o Hospital) o maior empregador directo do concelho de Tomar, e isoladamente o maior indirecto, contribuindo também de forma generalizada para a economia local com o consumo nas lojas, na restauração, com o aluguer de quartos – como já afirmei muitas vezes, é o maior ganha-pão do concelho.
Ora, indiferente a isto, Tomar tem, entre outros, um problema acrescido em relação à generalidade dos outros Politécnicos: a pouca interligação entre Politécnico e Município, um estar genericamente de costas voltadas claramente perceptível particularmente ao longo da última década. À boa portuguesa, gosta-se muito de chorar sobre o leite derramado, mas nada fazer previamente para o evitar. E o leite pode estar próximo de se entornar.

O futuro das instituições de Ensino Superior do nosso distrito pode ser incerto, mas com certeza que quando alterações vierem a ser introduzidas, além de outros critérios, neles estarão certamente o número de alunos, a qualidade dos cursos, a taxa de empregabilidade desses cursos.
E nessa como noutras matérias, o Município e Câmara que o gere, não pode continuar a lavar as mãos como se nada tivesse que ver com isto, não se pode por exemplo continuar a tratar os alunos como miúdos que vêem para a cidade fazer barulho e lixo, e ter discussões absolutamente ridículas, sobre se podem ou não utilizar a Praça da República ou o Cine-teatro. É que na hora de escolher uma instituição de ensino superior, a cidade onde esta está conta muito – que ofertas tem, que ambiente académico lá se vive – e por isso mesmo assistimos à generalidade dos municípios onde existe ensino superior a oferecer o melhor de si, os espaços mais nobres, apoio financeiro e logístico aos alunos, que são sempre o maior grupo de embaixadores em permanência de uma cidade; enquanto em Tomar assistimos ao empurrar cada vez mais notório dos alunos da cidade para interior do campus. Onde se vai realizar por exemplo a Semana Académica? Que actividades são promovidas em parceria de instituições locais com o IPT, que envolvam efectivamente os alunos? Que actividades promove o Município dirigidas particularmente aos alunos do IPT?

O que deve preocupar o Município e a comunidade em geral não são questões menores ou de semântica, não é se o Politécnico se chama de Tomar, Santarém ou outra coisa qualquer, o que a todos nos deve preocupar é: o que fazemos se se reduzirem ou deixarmos de ter alunos de ensino superior em Tomar?

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