sábado, janeiro 15, 2011

O Presidente que eu quero para o meu país.

(artigo publicado no jornal da Cidade de Tomar de 14 de Janeiro)

Ora, parece que dia 23 temos eleições para Presidente da República. Bom, as coisas são como são – há seis candidatos – e até pode entender que não gosta de nenhum, mas são entre estes seis a hipótese de escolha.
Um vem da Madeira, José Manuel Coelho, com tiques de humorista diz algumas coisas por vezes pertinentes, e representa a possibilidade da direita ter uma alternativa ao sr. Cavaco.
Temos depois Francisco Lopes, o candidato do PCP - e dito isto não é preciso dizer mais nada. O PCP não podia, até na forma como o candidato se expressa, ter escolhido alguém que melhor representasse o estilo “disco antigo e riscado”, fechado e ultrapassado que simboliza a ideologia e a forma de actuar daquele partido.
Fernando Nobre é um homem com um percurso de vida muito interessante, com muito de si dedicado ao voluntariado em muitas partes do mundo. Mas a forma como se apresenta nesta campanha desilude-me. Muitas vezes egocêntrico, como se só ele tivesse mais-valias, além de muito vazio de conteúdo político, assenta o seu discurso na demagogia de ataque à política e aos partidos, como se não fosse também ele político no momento em que se candidata ao lugar político por excelência, o primeiro representante da nação, a Presidência da República.
Defensor de Moura, o ex-Presidente de Câmara de Viana do Castelo tem surpreendido muito pela positiva. Com um passado com provas dadas na governação local, tem tido uma postura correctíssima e introduzido temas pertinentes na campanha. Mas também aqui a realidade é como é, o seu resultado será residual.
Faltam naturalmente os dois entre os quais a eleição se decide: Manuel Alegre e o actual sr. Presidente, o sr. Cavaco.
Manuel Alegre é o candidato que apoio. Não tem a dimensão política dos anteriores presidentes Mário Soares ou Jorge Sampaio, mas está para mim muito à frente de todos os outros que se apresentam a estas eleições.
(Como vai sendo difícil nos tempos que correm distinguir entre Aníbal Cavaco Silva Presidente da República, e Aníbal Cavaco Silva candidato e para que não ajude também eu a essa confusão, estou a tratar o primeiro por sr. Presidente e o segundo por sr. Cavaco).

Ora, o Presidente que eu quero para o meu país diz o que pensa, particularmente dos assuntos importantes como na defesa do Sistema Nacional de Saúde, na Educação, nos valores progressistas, no equilíbrio entre Estado, Mercado e Economia; na Soberania Nacional. E de Manuel Alegre todos sabemos o que pensa e como defende estas matérias. Já no caso do sr. Cavaco ou não sabemos, ou do que sabemos livrai-nos!
E podemos bem ir por aí, é que o Presidente que eu quero para o meu país responde às perguntas importantes que lhe fazem, e não faz do silêncio uma forma de estar, nem com isso tenta fazer passar a ideia de estar acima dos políticos, acima dos partidos, acima dos comuns mortais como se fosse um qualquer santo exemplo de virtudes quando está mais que visto que não é;
O Presidente que eu quero sabe dizer coisas inteligentes sem que alguém lhas tenha escrito; e não passa a vida a dizer que é preciso confiar em quem já deu provas, fazendo especial referência ao ser economista, quando grande parte dos problemas estruturais do nosso país, como nas poucas habilitações dos portugueses e nos milhões de euros de fundos europeus mal gastos, e mesmo de comportamento facilitista da sociedade advêm da década da sua governação onde “nunca se enganava e raramente tinhas dúvidas”.
O Presidente que eu quero não faz declarações ridículas sobre assuntos que não interessam nada, e silêncios absurdos sobre matérias sobre as quais era importante que falasse;
Não faz casos disparatados sobre escutas no Palácio de Belém ou manda fechar o espaço aéreo da sua casa de férias no Algarve, como se algum paparazzi lá fosse de avião tirar fotografias ao topless da Primeira-dama.
O Presidente que eu quero não é o mais demagógico ou oportunista dos políticos, como esta coisa de fazer condecorações um mês antes das eleições, ou aproveitar a mensagem de Natal do sr. Presidente para fazer campanha;
O Presidente de República que eu queria não faz lembrar uma cópia desfocada de António Salazar, nem tem atrás de si as forças mais conservadoras e retrógradas da sociedade. Mas este é o sr. Cavaco.

E depois, o Presidente que eu quero não usa a sua influência política, para junto de instituições onde governam os amigos seus ex-membros de Governo, conseguir para si e família ganhos de 140% em muitos milhares de acções! Bem sei, este não é um tema pertinente, mas porque não o esclarece o sr. Cavaco? Foi ele que trouxe o BPN para a campanha quando tentou desviar as atenções para a actual administração!
Tudo o que fez até pode ser legal, mas não é ética e moralmente aceitável para um político, muito menos para um com as funções do sr. Cavaco. Lembram-se de tudo o que tem sido dito de José Sócrates, da perseguição e difamação de que tem sido alvo, através de meros boatos e insinuações? Neste caso do sr. Cavaco estamos a falar de concreto: há cartas, há facturas, há entrada e saída de dinheiro!
É por tudo isto e muito mais, que se eu não soubesse em quem iria votar, ao menos saberia seguramente em quem não o fazer: no sr. Cavaco.
Bem sei e muitas vezes o digo, que o voto negativo não é o mais razoável como intenção, mas também sei que boa parte dos portugueses é esse voto que muitas vezes usam; não o voto a favor de, mas o voto contra algo ou alguém. Pois bem, se não for por melhores razões, se nenhum candidato agradar verdadeiramente, pelo menos não se vote no mesmo que tantas provas já deu de não servir para a tarefa.

E aqui chegamos ao ponto importante. Não importa o que eu penso ou o que o leitor pensa. Interessa sim o que todos nós individualmente pensamos sobre o assunto, e por isso, o que importa mesmo é que ninguém deixe de ir cumprir aquele que é um direito mas também dever mais basilar: votar.
Não se abstenha, não deixe que os outros decidam por si, faça parte da decisão. Dia 23 de Janeiro não falte à chamada. Vote. Por si, pelo país, por todos nós.

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