Fugindo à banalidade que faz escola, procurando o genuíno e não se furtando ao trabalho, há seis anos atrás Cem Soldos brindou-nos com o primeiro Festival (bienal) Bons Sons. Um sucesso desde a primeira hora.
E, em tempos onde só a crítica fácil, negativa, tantas vezes destrutiva, pejorativa, parece importar a dizentes e a ouvintes, é indispensável elogiar quem faz algo novo, quem faz por gosto quem faz, não em espera do retorno pessoal mas da alegria colectiva de construir algo – um prazer que do “produto acabado da sociedade de consumo imediato” poucos têm a felicidade de conhecer.
É por isso que o Sport Clube Operário de Cem Soldos não é uma associação como a maioria infelizmente se está a tornar, não é um mero prestador de serviços, não é um local onde se labora em função do ordenado, nem eternamente à espera do subsídio público sem o qual o trabalho não aparece. O SCOCS é uma daquelas boas associações que ainda fazem jus ao nome, e onde o espírito associativo se congrega ao espírito jovem da iniciativa que nasce da própria aldeia e das suas gentes. E é assim, que uma aldeia e uma “associação de aldeia” mostram como se faz a muita cidade e a muita gente que apenas procura protagonismo e nem para isso tem jeito; mostra a quem se limita a copiar sem chama o que outros já fazem melhor; ou a quem apenas produz receitas antigas e falidas que já ninguém quer consumir.
Nos Bons Sons toda uma aldeia se une e se coordena para que, tal como nos convidam no slogan do evento, somados a possamos ir viver. E conseguem-no. Durante três dias, jovens e menos jovens, residentes e forasteiros, enchem Cem Soldos de um colorido castiço, como numa alegria contagiante e um comunitário inebriante olvidar do tempo que corre lá fora, que não é possível imitar noutro local e não seguramente numa cidade, onde são muito mais os que criticam do que os que têm vontade de fazer alguma coisa.
E aqui merece umas linhas (além da Junta de Freguesia, nas suas mais moderadas capacidades) a Câmara Municipal, em particular os serviços de cultura e turismo, por ter finalmente, nesta terceira edição, apoiado condignamente este evento que tem evidentemente um grande potencial turístico, como foi visível no número de pessoas que circulavam pela cidade facilmente identificáveis pelas pulseiras do Festival, entre mais enchendo restaurantes; e pela imensa difusão que esta edição alcançou nacionalmente antes e após o evento – E como é bom ouvir falar de Tomar em órgãos sociais nacionais sem ser por maus motivos!
Apoiar com estratégia, com objectivos, destrinçando o trigo do joio, encorajando quem procura a diferenciação positiva, a inovação, a criação de eventos ímpares, quem faz com qualidade e com capacidade de desenvolvimento da comunidade, deve ser o papel da autarquia em especial quando as condições económicas não são favoráveis, e quando a racionalidade e eficiência do uso dos dinheiros públicos devem ser exemplarmente rigorosas (E nos últimos anos em Tomar foi tudo menos isso!).
Como bem disse Luís Ferreira (o mestre obreiro da organização) ao jornal 2 da RTP algures durante a semana que antecedeu, são estes eventos promotores de envolvimento e desenvolvimento local, capacitadores dessas comunidades. E a verdade é que, de mansinho, sem bajulices ou pretensiosismos, chegou-nos de Cem Soldos aquele que é já o maior evento do concelho a seguir à Festa dos Tabuleiros. Em envolvimento de cidadãos, em público, em projecção do concelho. E só o pode negar quem lá não esteve, ou os mesmos que negam que Tomar já não é o que foi, que perdeu protagonismo, que perdeu liderança, que perde todos os dias em muitas matérias para vários concelhos da região, e que muito raramente já, consegue aparecer no mapa das notícias relevantes.
O Festival estava tão bom que nem a ASAE quis faltar (todos percebemos, quando alguém de fora descobre o caminho para Tomar não quer outra coisa!...). Pronto, e fez muito bem que assim o que comemos e bebemos tinha “qualidade certificada”!
Um parágrafo para os Drama&Beiço, o jovem grupo que representou Tomar no cartaz do evento, e que ao início da tarde de domingo no seu estilo bem disposto electrizaram os ouvintes e dançantes com os sons ecléticos que do leste às arábias, surpreendem quem pela primeira vez escuta e renovam o feitiço dos que já esperam o que ouvem. Com trabalho e perseverança poderão ser uma grande banda, também aqui, com o toque da singularidade e do autêntico.
Pelo excelente cartaz que “encheu casa” em todos os palcos, pelo trabalho motivado e profícuo dos organizadores em particular dos mais jovens; pela abertura e disponibilidade dos habitantes, em particular dos mais seniores à multiculturalidade e proveniência e até mesmo alguma excentricidade dos festivaleiros; pelo excelente trabalho de promoção; pelo que contribuíram para algum dinamismo da cidade no fim-de-semana; pela receptividade e uma muito “boa onda” que só pode deixar nos visitantes vontade de voltar, está de parabéns o SCOCS, os seus dirigentes e obreiros, e a aldeia de Cem Soldos.
Será difícil fazer melhor, e como será possível fazer crescer o evento, certamente uma questão a debater pela associação nos próximos tempos, mas o importante é dizer: Está bom, e queremos mais!
Sem comentários:
Enviar um comentário