quarta-feira, julho 28, 2010

quimeras e vitupérios

No seu blogue Tomar a Dianteira, António Rebelo, aposentado colega de profissão e profícuo bloguista nabantino, interpreta a citação que uso e o que sobre ela escrevo aqui no algures, no post anterior a este.
É verdade que quando escrevemos algo e o tornamos público, estamos sujeitos às interpretações que, tal como as opiniões, cada um tem sobre o que quiser e assim, tanto António Rebelo como qualquer outro têm, por mais divergentes, por mais imaginativas, ou mesmo absurdas que possam ser essas acepções, direito a elas. E António Rebelo concorde-se ou não com ele, tem a preeminência de escrever e assumir o que pensa.


No caso concreto todavia, penso que todos os de boa fé (não estou a acusar AR de má fé, apenas não me chega agora melhor expressão) terão alguma dificuldade em ser tão "assertivos" como o comentador em causa parece querer ser. Ler das minhas palavras que "Hugo Cristóvão dá a entender, citando Leonardo da Vinci, que tem sérias divergências com Luís Ferreira" é de uma liberdade de leitura muito ampla, ou, mais exacto, muito de acordo com o que porventura se gostaria de ler, mas não com o que está escrito.
Até porque, convenhamos, a assim ser, ou Luís Ferreira é o meu único amigo, ou é o único com quem tenho "sérias divergências".

Obviamente não é verdade. A verdade é que o quis dizer é o que se pode depreender do que escrevi: ser amigo de alguém é conhecer as suas qualidades mas também os defeitos, lembrá-lo desses defeitos, encorajá-lo a tentar se possível corrigi-los (ou no exemplo clássico que se explica aos meninos pequeninos na escola, o amigo é quem nos diz que estamos ranhosos!), mas perante outros olvidar os defeitos e enaltecer sim as qualidades.
Sem me referir a ninguém em concreto, não deixa de ser evidente que também quis dizer que quando temos a responsabilidade por exemplo, de liderar um partido político, esse ser bom amigo (ou mesmo que não se seja) passa a ser obrigação: entre muito mais, apontar em privado os defeitos, louvar em público os atributos.

divergências – é da vida e acontece a todos os que pensam sobre um qualquer tema – tenho muitas, umas pontuais, outras mais prolongadas, tanto com amigos como colegas de profissão, camaradas e adversários políticos, e mesmo com simples bloguistas, como no caso do autor que motiva estas linhas.

A verdade é que AR, com as motivações e perspectivas a que tem direito, escreve sobre muita coisa, e das partes que leio umas vezes concordo, mas provavelmente na maioria das vezes não, essencialmente pela forma como muitas vezes o faz: como se escrevesse de um pedestal de superioridade intelectual, cívica, académica, e por aí fora. Habituei-me bem jovem em muitos sítios por onde tenho passado, e de há uns anos já largos muito na política e no seio do PS, a combater essas atitudes se prejudiciais, a ignorá-las se inócuas.

É a segunda atitude que tanto em relação a AR, como a outros autores de blogues nabantinos entretanto extintos, principalmente tenho tido.
AR (que afirme-se, se apresentou em tempos à Comissão Política do PS Tomar como candidato a candidato à CMT, com primeira e quase única responsabilidade minha – e depois acusam-me outros de ditador!) escreve muitas vezes sobre o PS Tomar do qual sou o primeiro responsável; lesto a catalogar e rotular pessoas, escreve sobre os seus dirigentes, os seus autarcas, as suas estratégias, as suas motivações, não só muitas vezes distanciado da evidente realidade de um partido cuja vivência e dinâmica não conhece, mas chegando mesmo muitas vezes próximo dos limites do insulto.

Veja-se no texto que aqui abordo, por exemplo esta expressão que se refere ao PS Tomar: "porque os seus militantes, quaisquer que sejam os acidentes de percurso, não vão abandonar o seu ganha-pão, em todos os sentidos da expressão -do aspecto material ao âmbito político-eleitoral".
Além de totalmente desfasado da realidade, como o podem interpretar os 400 militantes do PS em Tomar? Os, entre CPC e Secretariado, mais de 50 dirigentes? As várias dezenas de autarcas socialistas no concelho? Insulto é o mínimo.

Que fique claro que não pretendo acudir a todos os fogos que pretendam por aí lançar, que é como dizer, não estou para responder a todos os dislates que por aí se vão dizendo por actores mais ou menos comprometidos, mas por agora se esclareçam os cegos de espírito, que aos outros basta ver:
– Os 4 socialistas (2 vereadores + 2 secretários) que estão actualmente em nome dos tomarenses e do PS, em funções renumeradas a tempo inteiro na Câmara Municipal têm profissão à qual voltar, e ao contrário de outros sabem que a política é sempre passageira;
E mesmo sabendo-o, a todo o momento lhes é recordado;
Sabem que não foram eleitos como individualidades mas como membros de uma equipa e sob a égide dos valores de um partido ao qual prestam contas, partido esse que no dia em que entender, tal como sempre foi assumido, se falharem os pressupostos acordados com o parceiro de coligação ou as condições para ser fiel tanto aos princípios políticos como para com os tomarenses, imediatamente cessa esse acordo;
O que, desenganem-se os que ficarem já a esfregar as mãos, SÓ acontecerá SE o que antes afirmei efectivamente se verificar.

E já agora entenda-se que: no Partido Socialista em Tomar há princípios e valores, há regras e Estatutos a ser cumpridos, há hierarquias e há colectivo, e há muita serenidade e confiança para continuar a acreditar nas nossas capacidades, nas nossas ideias, nos nossos projectos para o concelho, independentemente do amorfismo estabelecido, do pessimismo militante, das elites caducas, e sobretudo da opinião pública construída sobre as vontades individuais de meia dúzia.

O caminho faz-se caminhando – dizemos há muito no PS nabantino.
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