quinta-feira, fevereiro 11, 2010

regabofe

"Num tempo de engano universal, dizer a verdade é um acto revolucionário"
George Orwell


Este país parece apostado a mostrar que não sabe ou não gosta de viver em Democracia. Confunde-se Liberdade com libertinagem.
Está tudo apostado em mandar o primeiro-ministro para casa, a começar pelos amigos dele que só metem argoladas.
Por mais que isso possa vir a satisfazer os egos, os ódios, e todos os demais sentimos ruins que perpassam na nossa sociedade carente de valores, o que se está a passar é muito grave, e se o Governo cair será muito pior.
Muito mais que as questões da economia, e o que isso poderá agravar da credibilidade do Estado, da pressão das agências de rating, etc, o que é grave em tudo isto é o Estado de Direito que se está a esvanecer.
Acabaram-se os direitos individuais, a presunção de inocência, o respeito pelas leis e pelas regras. Os julgamentos são feitos na comunicação social e nas ruas.
Ao contrário da imagem que muitos conseguem fazer passar, não é a liberdade de expressão que está em risco, mas o exacto contrário. Em Portugal todos dizem o que querem, fazem o que bem entendem, que nada lhes acontece; por maior que seja o disparate, a mentira, a calúnia, enfim...
Já nem os tribunais de nada valem. Todo o país sabe hoje, que um tribunal decretou uma providência cautelar sobre a publicação de escutas que envolvam um cidadão em particular, dando-lhe razão sobre os seus direitos individuais. Pois todos sabemos já que esse jornal ignorará essa ordem. É razão para estarmos felizes? Eu acho que não, a partir daqui tudo é possível. Se nem aos tribunais atribuirmos autoridade, quem zelará pelo Estado?


E Sócrates, é culpado de alguma coisa? Não sei. Que mexeu em muitos interesses não tenho dúvidas, alguns mexem-se na sombra.
A ele será cada vez mais difícil a sobrevivência política, provavelmente sem culpas naquilo que o acusam, ou se algumas tiver, provavelmente nunca o saberemos, porque cada vez mais é a vontade de o sacrificar, e com ele o seu Governo. Mas o que os seus opositores não percebem, ou não querem perceber alimentados pelos seus desejos mais imediatos, desde logo caindo muitas vezes em atitudes e afirmações que a si próprios negam (por exemplo quando políticos comentam decisões judiciais, esquecendo os princípios fundamentais que regem a nossa Constituição e a Lei),  é que Sócrates quando muito perderá na imagem pessoal, mas quem perde verdadeiramente com todo o disparate instalado é a Política, são os políticos, os partidos, a credibilidade das instituições e a confiança nelas, todas sem excepção - Presidente da República, Governo, Parlamento, Tribunais - mas também a própria comunicação social, o Estado de Direito, os princípios da legalidade, e por aí fora, até chegar a cada um de nós, e aos nossos direitos individuais que deixam de estar protegidos, e disponíveis para qualquer fome mediática.


Ditadura? Não é. Mas Democracia também não me parece. É a realidade de um país cada vez mais sem sentido, onde rareia cultura, educação, inteligência e bom senso. Onde faltam valores. Um país cada vez mais anárquico, onde falta responsabilidade, animado por bobos da corte que nos enchem as televisões de afirmações que são insultos à inteligência; um país que não sabe pensar por si, precisando de manadas de comentadores que nos "explicam" como bem entendem a suposta realidade que vivemos.
A Sócrates talvez não reste muito tempo como Primeiro-ministro, mas depois virá outro a quem acusarão das mesmas ou de similares culpas, e a seguir outro e por aí fora.
Somos um país ingénuo e assim sem emenda. Praticamente sem experiência (quanto mais maturidade!) democrática.
E depois fazemos esgares hipócritas de admiração, quando alguns pedem um novo Salazar!
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