artigo publicado a 24 de Julho no jornal Cidade de Tomar
Neste Verão pontilhado de dias cinzentos, a política vai morna com uma ou outra trovoada. Pelo PS cá vamos, na finalização de listas, programas e afins na nossa já habitual imperturbabilidade, o que muito enerva outros.
Já o PSD, que isto para quem vê o poder a fugir, dói sempre mais, são os alcatroamentos e obras de última hora, quase sempre nas freguesias do costume, onde se chega a alcatroar por cima de alcatrão novo, não vá algum voto fugir. Uma promessa ou outra, uma ou outra proclamada vontade de trabalhar, enfim, as palavras vãs do costume.
Para mim contudo, a grande novidade foi mesmo a entrevista do vereador Carrão que – a estranheza da afirmação é tal, que até deu título – disse talvez convicto, que “as equipas do PSD são melhores”. Pois está muito bem, admitamos que andávamos todos enganados e ainda bem que o sete anos presidente do PSD e agora Vice-presidente da câmara nos avisa. Mas, eu que sou umas vezes esquisito e outras desconfiado pergunto: equipas melhores em quê, e em relação a quê?
Vamos por partes. Na Câmara tivemos dez anos António Paiva que desconsiderava a reunião formal de câmara pois muitas vezes nem lá ia, e quando ia, mais ninguém da sua equipa falava. E não é muito diferente desde que se foi embora. Todos sabemos aliás que aquelas reuniões são apenas para fazer de conta que se cumpre a Lei. Já vai tudo decidido. Quanto às equipas, bem sabemos como foram formadas pelo independente António Paiva. De forma a serem o mais apáticas possível.
Na Assembleia Municipal, a grande maioria dos elementos do PSD, raramente abriu a boca, estou aliás convicto, e era bom de apurar, que alguns nos quatro anos de mandato, nem uma palavra disseram. E aquela que era na prática, a líder da bancada, e portanto quem mais intervenções fazia, está agora com vários outros da área do PSD, numa lista dita independente. Até os presidentes de junta, que muito criticam em surdina, raramente, e apenas um ou dois casos, foi capaz de em Assembleia dizer um pouco do que o preocupasse a si e aos concidadãos da freguesia. Pelo contrário, a maioria das vezes estiveram calados servindo apenas de peões para o PSD ter os votos necessários para fazer aprovar ou reprovar o que lhe convinha, chegando mesmo a votar contra os interesses da sua freguesia, como no caso da Asseiceira, em que o presidente votou contra a proposta de instalação duma Loja do Cidadão na Linhaceira.
São afinal melhores em quê as equipas do PSD?
A obedecer cega e várias vezes insensatamente, ao todo poderoso líder? Sim, isso confirma-se que são. E a que líder obedecem agora?
Eu não gosto nem tenho hábito de me meter na vida interna dos outros partidos (ao contrário do que todos julgam poder fazer com o PS) mas quando isso influencia a gestão da Câmara devemos fazê-lo. É que relativamente ao PSD temos que perguntar afinal o que decidem os seus militantes, se é que decidem alguma coisa sequer. Tem o próprio presidente da concelhia algum voto na matéria? Ainda há alguns dias terá afirmado que as listas não estavam fechadas… Não se percebe nada do que por ali vai, e com isso não tenho nem o PS qualquer problema. O problema sim é que isso é o que se passa na Câmara há muito tempo, e é em essência a imagem que fica da gestão PSD da autarquia: Desorientação; Navegação à vista.
Enfim, desculpa-se a confusão de Carlos Carrão, como várias outras pequenas confusões que parece ter ao longo da entrevista. Aliás, a única coisa que não oferece qualquer confusão da sua entrevista é que ainda não superou (e como poderia, depois de todos os anúncios que fez!) o facto de ter sido preterido, e apesar de não dizer com todas as letras como fez o vereador Ivo Santos, lá se depreende da entrevista, que na sua cabeça vai um “ainda vou ser presidente da Câmara.” Será que isso faz parte da por aí falada trama? Que Carrão aceitou ser segundo, com a promessa de Corvêlo sair a meio, deixando-o como presidente?
Não sabemos, e estamos habituados a que o PSD em Tomar não diga ao que vai, mas seria bom que o independente Corvêlo de Sousa dissesse claramente ao que se está a candidatar: a um mandato de quatro anos, ou ao que der?
Por fim, nessas tais equipas do PSD, onde estão os mesmos desde 1997, os mesmos que têm atirado o concelho para este amorfismo e esta banalidade a que vimos Tomar chegada, esses mesmos que nas palavras do agora também independente vereador Ivo Santos, têm “ausência de rumo, de projecto, de ideias”, a par de “peripécias, equívocos, falsidades e contradições”, são os mesmos (e os que saiem não limpam responsabilidades) que agora dizem que vem aí um mundo novo, que agora é que vão fazer isto e aquilo, e que agora, a três meses das eleições, é que apresentam planos e estratégias.
Haja vergonha.
É que só uma boa dose de falta de vergonha pode permitir às mesmas pessoas, as pessoas responsáveis pela degradação do concelho, e da ilusão que não, que está tudo bem, se apresentem novamente a eleições! Terão desta vez ao menos um programa? Ou como já vai parecendo, e como outros já fizeram, irão copiar o do PS? Lembram-se agora dos núcleos urbanos das freguesias, lembraram-se agora dessa dignidade que a todos os cidadãos é merecida; lembram-se agora do mercado; lembraram-se agora de melhor investir na cultura, de articular e aproveitar as sinergias instaladas, das associações culturais por exemplo. Enfim, passou-lhes agora pela cabeça muita coisa que em doze anos andou esquecida.
Nada disso contudo importa, a razão em Democracia está sempre do lado dos cidadãos. É a estes que importa perceber quem tem as melhores equipas, as melhores ideias, as energias renovadas, a visão e a capacidade para dar um novo impulso a Tomar. É aos cidadãos também, aos tomarenses, que cabe saber que memória têm, e que rumo querem para o seu concelho e para si mesmos. Se querem tudo na mesma, ou se querem a mudança. Eu, será escusado dizer o que penso, mas digo apenas que para mudar, Todos Somos Precisos, e dia onze de Outubro não basta ter vontade nem ter razão, é preciso ter apoio. E você, de que lado está?
Sem comentários:
Enviar um comentário