“Aqui acaba toda a terra antiga,
começa aqui a tentação do mar.
Europa - ainda era rapariga -,
Sentou-se aqui um dia a descansar.
Vinha de longe, andando com fadiga,
vinha de longe, andando sem parar...
Em frente ao mar, que o rosto lhe fustiga
logo pensou Europa em se casar.
Pediu-a p'ra mulher o Padre-Oceano.
Entre sereias, conchas e golfinhos,
as ondas lhe bordaram o enxoval.
E quando o noivo a recebeu, ufano,
estes penhascos rústicos, sozinhos,
deram os dois o ser a Portugal.”
começa aqui a tentação do mar.
Europa - ainda era rapariga -,
Sentou-se aqui um dia a descansar.
Vinha de longe, andando com fadiga,
vinha de longe, andando sem parar...
Em frente ao mar, que o rosto lhe fustiga
logo pensou Europa em se casar.
Pediu-a p'ra mulher o Padre-Oceano.
Entre sereias, conchas e golfinhos,
as ondas lhe bordaram o enxoval.
E quando o noivo a recebeu, ufano,
estes penhascos rústicos, sozinhos,
deram os dois o ser a Portugal.”
Na mitologia, grega pois claro, Europa era uma das filhas do rei da Fenícia, uma jovem rapariga cuja beleza levou o chefe dos deuses, Zeus, a disfarçar-se de um possante touro branco e raptá-la levando-a para a ilha de Creta; e é na procura desta levada a cabo por seus irmãos que são fundadas algumas das mais importantes cidades-estado de então.
Pois Europa é o nome dado a este grande continente onde vivemos, e onde muitas vezes na nossa visão periférica, dizemos que ela termina. Acaso como no poema transcrito de António Sardinha, não achemos Portugal um seu filho.
Do nosso atlântico oceano, aos russos montes Urais, a Europa é uma urdidura de muitos países, de línguas e dialectos, diferentes sociologias, culturas distintas, uma história feita de guerras e de conquistas, de divergentes religiões e de filosofias, mãe de quase todas as ideologias, de modelos económicos, das mais dissemelhantes formas de arte, e em tudo isso, quase sempre paradigma referencial para o resto do mundo.
Hoje a Europa, em especial a Europa dos 27 (um pouco mais de metade dos 50 que perfazem o continente europeu), essa União Europeia onde estamos inseridos, é tudo isso e mais. Desde logo o chamado modelo social europeu, que tem como objectivo promover o bem-estar dos cidadãos e a sua protecção social e que coloca o espaço europeu na vanguarda dos apoios sociais nas suas várias vertentes. Poder ser também um pilar na estabilidade económica, e na defesa da paz, liberdades e garantias, são outras das suas prioridades e evidências das vantagens de fazermos parte deste grupo de países. Como estaríamos nós a resistir à malfadada crise, se não estivéssemos na União e acima de tudo no grupo de países já adoptantes do euro?
Os demais proveitos da União não carecem de grande apologia para quem quer que de bom senso lhe dedique dois minutos de reflexão. O que o nosso país evoluiu desde 1986, ao nível das infra-estruturas, da mobilidade dos cidadãos, do acesso a serviços, entre tanto mais é indiscutível, e todos já sabemos que boa parte dos fundos para o que se faz a quase todos os níveis provêem da União, assim como muitas das nossas Leis não são mais que a transposição do que emana do Parlamento Europeu. O que cá depois se faz com esses fundos e essa Leis e Directivas é que já é responsabilidade nossa…
E isto é dizer que essa ideia nefasta para a Democracia que se propagou entre os cidadãos, de que as eleições para o Parlamento Europeu que este domingo ocorrem não são importantes, é evidentemente falsa e imprudente.
Mas votar em quem, e porquê?
Nestas eleições, partidos e candidatos é que não vão faltar, que agora fazer partidos parece estar na moda (quase tanto como inventar listas de excluídos dos partidos e assim sem regras chamar-lhes independentes, mas essas modas fugazes são temáticas de outras eleições) e como tal do mais à direita ao mais à esquerda há todo um arco-íris de escolhas possíveis.
Dos que oferecem eleitoralmente mais relevância, parece-me ser a qualidade de Vital Moreira sobre os demais candidatos na minha opinião algo inquestionável para quem quer que analise de forma isenta e racional – mas importante é ter uma opinião, não tem que ser igual à minha. Sobre o papel do PS na construção de um Portugal país europeu, e na contribuição que tem dado à Europa em si, sabendo que sempre foram socialistas e governos socialistas que estiveram nos momentos fundamentais – como na adesão à então CEE, na adesão ao Euro, e na constituição de documentos fundamentais para a Europa e enaltecedores para Portugal como a Estratégia de Lisboa e o mais recente Tratado de Lisboa também me parece indubitável – mas uma vez mais, o que importa é ter opinião.
Não vou assim apelar ao voto no PS, mas tão só apelar ao voto qualquer que ele seja. Que cada um vote em quem ou como sentir a sua consciência ordenar. Votar é um imperativo de cidadania; votar é vencer uma certa imagética que vai correndo nos nossos dias e que diz que não vale pena, que a política é má, ou que a melhor forma de contestar algo é não votar. Puro e malicioso engano.
Votar é um acto em si simples, mas pelo qual tantos lutaram na história, e que na nossa há pouco tempo ainda nos é permitido. Um acto livre, mas que para todo o cidadão que quer ser consciente e desejar continuar a viver em Democracia, mais que um direito, é um dever. Afinal, quanto deixamos de exercer um direito, estamos a abrir caminho para a extinção do mesmo. Eu não desejo isso, penso que você também não. No próximo domingo dia 7 é dia de ir às urnas. Não falte, pela Europa e por Portugal.
artigo publicado hoje no jornal Cidade de Tomar.
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