“Sou novo é verdade; mas, para os espíritos bem nascidos. O valor não fica à espera da soma dos anos vividos.” Pierre Corneille
Certamente todos conhecem a frase que começa com esta que a este texto serve de título. É um dos pequenos exemplos do que é uma atitude cultural enraizada de desconsideração para com os mais novos, de lhes dizer que “calma lá que ainda tens de comer muito sal”, “o teu tempo há-de chegar”, tu eras um grande homem mas é com os feitos dos que te antecedem, muito ao jeito do cliché mais usado da história dos discursos: “os jovens são o futuro de amanhã”!
A juventude. Aí está o que, da política a muitos outros sectores, todo aquele que tem um discurso para fazer gosta de ter na boca. Mas da palavra à acção vai uma grande distância. A verdade é que na prática quando um jovem chega, cuidado! Lá vem um puto para nos roubar o lugar ou, enfim, alguém a quem falta “experiência de vida”.
E no entanto, há quanto a isso duas verdades: não só há imensas provas de que a juventude ou a “falta de experiência” não são sinónimo de menor capacidade; muito pelo contrário, há, da Educação à Política, da Economia à Ciência, e em tantas outras áreas da actividade humana, imensos casos de jovens bem sucedidos e a muito fazer por si e pelos outros. A segunda verdade é que os que mais se mostram desconfiados para com os jovens, são por norma um de dois casos: os que são frustrados com a sua própria juventude; ou, mais grave, os que tendo até um caminho interessante ou bem sucedido, sentem agora outros chegar, como que a pôr fim à sua jornada.
Mas por que está este a falar uma vez mais de juventude?, perguntarão. Bom, falar de juventude em Tomar faz todo o sentido. A realidade é que numa terra cada vez mais envelhecida, deveríamos estar a procurar formas de fixar os jovens, de atraí-los até de outros concelhos. Nos dias que correm os concelhos estão sistematicamente a competir entre si, se mais não for, por uma questão basilar de sobrevivência, e os jovens são os bens activos mais valiosos e cobiçados. Numa linguagem económica, são os que garantem maior retorno a longo prazo.
Tomar, a cidade velhinha. Ou será caquéctica?
E em Tomar contudo, voltando à metáfora, hoje as calças do meu pai – ele não se importará que o diga – não me serviriam. Poderá parecer um disparate mas faz todo o sentido. Hoje, as velhas roupagens de nossos pais não servem os jovens nabantinos. E o mesmo é dizer que o passado mais recente de Tomar não nos serve; nem aos jovens, nem a ninguém. A não ser aos que – que também os há e estão no direito de pensar assim e assim quererem o seu concelho – gostam da terrinha paradinha sem grande movimento ou “confusão”, que Tomar está mesmo bom é para gozar uma pacífica reforma.
Para todos os outros, tenham lá que idade tiverem, Tomar precisa de novas roupagens, de novas ideias, de novo sangue, nova energia. Para todos os outros, os que querem trabalho, os que querem desenvolvimento, os que querem uma terra que além de ter ainda resquícios de beleza, e de ter sido importante na história; importante mesmo é que seja uma terra que lhes dê horizontes, perspectivas de futuro, sustentabilidade económica e jeitos de qualidade de vida, que proporcione envolvimento familiar e social, e as demais benesses naturalmente desejáveis, como a cultura, o desporto, o lazer e o apoio social quando necessário. A esses, a todos esses, o que com honestidade se pode dizer é que as actuais roupagens de Tomar não servem.
Bem espremidos, o que se pode retirar dos últimos 20 anos em Tomar, além das oportunidades perdidas?
Sim, o Instituto Politécnico. E falo sobretudo no aspecto de criação de emprego e o que daí advém: o IPT é em verdade o principal garante económico do nosso concelho. Fala-se do óbvio emprego para professores e funcionários, mas também dos alunos que deixam dinheiro nos quartos alugados e no comércio local. E, mesmo com todo esse valor, que trabalho relevante com essa instituição faz a Câmara, ou mesmo, que importância lhe reconhece a comunidade?
Mas, à parte o IPT, que mais foi feito em Tomar nestas últimas décadas que tenha significativamente trazido algum acréscimo a um qualquer aspecto? Nestes anos em que vimos desenvolver os concelhos à nossa volta, como evoluiu o nosso? Evoluiu sequer?
Sem novas empresas e com várias das existentes a definhar; com um enorme potencial turístico mas que em verdade nunca foi verdadeiramente aproveitado, e nada tem sido feito para que tal se consiga; com pouco já que nos distinga e nos torne competitivos para com os demais concelhos, o que há a fazer?
Urge dar o salto, fazer a mudança: de mentalidade, de estilo, de atitude. Quase tudo o que se tem feito nos últimos anos não nos leva a lado nenhum. Precisamos de novas ideias, sangue, energia, garra, vontade. Novas capacidades, novas formas de olhar o concelho, o país e o mundo. Novas formas de trabalhar e de se relacionar com as pessoas e as instituições, públicas ou privadas. É preciso uma Câmara que seja o cerne inteligente e impulsionador, capaz de motivar e liderar toda a comunidade num novo e capaz caminho, que nos retire da pasmaceira atrofiante, e da mordaça autoritária e surda com que este concelho tem sido atirado para o patamar da indiferença ou banalidade.
Há muito em potência que pode ser utilizado, essencialmente o que está cá há muito tempo e que não conseguiram estragar, e particularmente a vontade e a energia envergonhada e reprimida dos que querem fazer algo por si e pela sua terra. Quando conseguirmos efectuar essa mudança, Tomar poderá voltar a ter futuro. Para já, não tem. E aqui temos um problema geracional, sim, mas de atitude, de uma diferença entre os que querem a alternativa, esses que pertencem a uma geração que não tem idade, a geração nabantina – e os que não a querem.
A geração dos que amam a sua terra, tanto, a ponto de a querer deixar melhor para os seus filhos, ao contrário do que tem sido feito; a geração dos que se incomodam com o estado a que isto chegou, a geração do que querem fazer o possível e o impossível para converter este caminho, a Geração Tomar. Eu posso e quero pertencer a esta geração. E você?
A geração dos que amam a sua terra, tanto, a ponto de a querer deixar melhor para os seus filhos, ao contrário do que tem sido feito; a geração dos que se incomodam com o estado a que isto chegou, a geração do que querem fazer o possível e o impossível para converter este caminho, a Geração Tomar. Eu posso e quero pertencer a esta geração. E você?
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