quarta-feira, março 14, 2007

Mercado&Mercador

Acabou esta quarta-feira o período de Discussão Pública do “Plano de Pormenor do Flecheiro e Mercado” integrado no Programa Polis, e largas centenas foram as propostas entradas.
O assunto agita a comunidade e não é para menos. Em causa está a destruição de um espaço que é marca de Identidade, centro de Vivência Social, garante económico de muitas famílias, e um bom sentir do concelho que somos.

Como em qualquer terra desenvolvida, o Mercado é um espaço central, de fácil acesso, onde os da cidade podem ir a pé, que chama residentes e atrai turistas. O nosso foi além disso referência e pólo centralizador de uma região. Hoje está muito degradado, e vai sendo ultrapassado por novos, melhores e maiores mercados de outros concelhos (e sim caro Ivo Santos, nós falámos com as pessoas) mas o ter-se deixado (intencionalmente?) chegar a este ponto não pode ser desculpa para simplesmente deitar abaixo. A culpa não é de quem lá vende nem de quem lá compra.
Depois a propaganda é o que é, criam-se imagens, criam-se necessidades, criam-se ideias bonitas que tentam convencer as pessoas. Como utilizar o exemplo do Fórum de Aveiro para dar a ideia de que o que aqui se quer fazer é algo semelhante. Cada vez mais me convenço que a maioria dos que nisso falam nem sequer já visitou o espaço.
Ó senhores, nem em Aveiro o Fórum de dois andares tem nada a ver com o mamarracho de cinco que se quer cravar em Tomar, nem Tomar tem semelhanças com Aveiro que tem o dobro da população, cinco ou seis vezes mais que os estudantes universitários aqui, e a liderança e centralidade da região, bem ao contrário de Tomar que embora alguns não o queiram ver, há muito que não lidera nada.
Outras estratégias são o lançar de ideias que apontam à desmobilização e resignação, como a de criar o boato que “o mercado até já está vendido”. No contacto que tivemos com vendedores e compradores, muitos mostraram acreditar nisso, como se efectivamente Tomar fosse feudo de alguém que põe e dispõe, que compra e vende como se fosse seu sem disso prestar contas. Às vezes eu próprio dou por mim a admitir isso…
E por fim, o ardiloso argumento de que não se quer destruir o mercado mas sim renová-lo. “A construção de um novo mercado ao lado do actual” realçou António Paiva neste mesmo jornal, só depois falando da pomposa ideia do fórum, acrescentando agora um novo e bem representativo dado: “…pode até ter habitação”!
O mesmo engenho se usa no caso da ponte, em que se diz até concordar com a de São Lourenço, que até está no Plano, mas que a do Flecheiro é prioritária. Ponte que cada vez mais se prova que não serve para resolver qualquer problema de trânsito (pelo contrário) mas para valorizar, viabilizar, a apetência de um qualquer investidor naquele apetitoso terreno junto ao rio.
Imaginemos por momentos que tudo isto se faz, e até é bem sucedido. Vislumbra-se o acréscimo de tráfego no centro da cidade? E o novo mercadito e o gigante centro comercial podem coexistir? Está-se mesmo a ver a dona Maria com o saco dos nabos e do peixe a entrar na Zara para ver os saldos, enquanto o marido a espera à porta no tractor a comer umas pipocas…
E algum investidor vem meter dinheiro num centro comercial destas dimensões, sem garantir que lá dentro esteja um hipermercado? Há de facto quem julgue que as pessoas não pensam. Há quem ache que o povo é estúpido, há quem ache que o povo é imbecil!
O movimento iniciado com tanta adesão contra a destruição do Mercado, levou mesmo alguns do PSD (nem todos, também há e muitos que percebem o erro) a iniciar um contra-movimento onde se pede às pessoas que assinem algo que apela à renovação do Mercado. Claro, até eu assino, mas renovar NÃO é destruir!
Ó gente abri os olhos! Não está em causa remodelação nenhuma! O que se quer é deitar, por puro interesse imobiliário o Mercado abaixo, tendo-se entretanto inventado esse argumento para a confusão, que se vai fazer ao lado outro embora mais pequeno. Mas isto faz algum sentido?
Que fique claro, nem eu nem o PS somos contra um centro comercial, mas não há qualquer necessidade de sacrificar o Mercado, assim como a vivência do centro da nossa cidade a esse espaço privado. Seria um enorme erro com graves consequências mais tarde.
Será que somos assim tão inteligentes que quando à nossa volta constroem melhores e maiores mercados, Tomar destrua a seu, para ficar com o mais pequeno da região, se ficar com alguma coisa? Ou será que vamos ter aqui um novo parque de Campismo, um novo Cine-esplanada? Destrói agora e qualquer dia logo se vê!
TODOS SOMOS TOMAR. E todos temos uma palavra a dizer. Muitos foram os que se mobilizaram nos últimos dias, muitos foram os que transmitiram o seu profundo descontentamento. Muitos infelizmente, mostraram também o medo e a frustração. Há muito medo em Tomar, medo de represálias, medo de consequências por se assumir e se lutar por uma opinião. Isto é Tomar.
Há muita resignação, muito “ele faz o que quer”. É mesmo assim tomarenses? Vamos deixar mais uma vez que a teimosia de um e a complacência de alguns outros, leve mais um pouco da nossa terra? É verdade o que dizem de nós, uma comunidade apática e “serenazinha”?
Caro António Paiva, caros dirigentes do PSD, é natural que se queira deixar marca num momento que se diz ser já prenúncio de partida, mas depois do que se fez ao parque de campismo, ao cine-esplanada; as polémicas, caras e como se vê ineficazes obras dos parques de estacionamento atrás da Câmara e sob o Pavilhão, a rotunda cibernética, as lombas, querem ficar lembrados em memória última como aqueles que mataram o Mercado em Tomar?
Eu quero acreditar que não.

artigo publicado no jornal Cidade de Tomar de 9 de Março

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