quarta-feira, novembro 01, 2006

Tomar esotérica

Encontrei noutro dia o professor Luis Mota do IPT num evento em Rio Maior, e enquanto falámos das potencialidades de um e outro concelho, e no como Tomar não aproveita as suas, veio à baila o Pêndulo de Foucalt de Umberco Eco, excepcional livro que muito antes de Dan Brown (o livro é de 1988) nos leva aos enredos do esoterismo e no caso, dos Templários, falando naturalmente aqui e ali de Tomar.
Li o livro há algum tempo, e na altura pensei em transcrever algumas passagens, mas o tempo que é sempre curto foi passando. A oportunidade que ressurge agora, já quase que de novo se esquecia!
Aqui fica uma das passagens, para mim a melhor, em que este autor de qualidade reconhecida internacionalmente, se refere ao Convento de Cristo. Espero que incentive à sua leitura, vale a pena!


"Se eu conseguia imaginar um castelo templário, assim era Tomar. Sobe-se por uma estrada fortificada que bordeja os bastiões exteriores, de seteiras em forma de cruz, e respira-se uma atmosfera cruzada desde o primeiro instante. Os Cavaleiros de Cristo tinham prosperado durante séculos naquele lugar: a tradição pretende que tanto o infante D. Henrique como Cristóvão Colombo eram dos deles, e com efeito haviam-se dedicado à conquista dos mares - fazendo a riqueza de Portugal. A longa e feliz existência de que aí tinham gozado fez com que o castelo tenha sido reconstruído e ampliado em diferentes séculos, pelo que à sua parte mediaval se acrescentam alas renascentistas e barrocas. Comovi-me ao entrar na igreja dos Templários, com a sua rotunda octogonal que reproduz a do Santo Sepulcro. Encheu-me de curiosidade o facto de na igreja, conforme a zona, as cruzes templárias serem de forma diferente (...)
Depois o nosso guia levou-nos a ver a janela manuelina, a janela por excelência, uma passagem, uma colagem de achados marinhos e submarinos, algas, conhchas, âncoras, amarras e correntes, em celebração dos fastos dos Cavaleiros sobre os oceanos. Mas dos dois lados da janela, a encerrar como que dentro de uma muralha as duas torres que a enuqadravam, viam-se esculpidas as insígnias da Jarreteira. O que estava a fazer o símbolo de uma ordem inglesa naquiele mosteiro fortificado português? O guia não soube dizer, mas pouco depois, de outro lado, creio que de noroeste, mostrou-nos as insígnias do Tosão de Ouro. Eu não podia deixar de pensar no subtil jogo de alianças que ligava a jarreteira ao Tosão de Ouro, este aos Argonautas, os Argonautas ao Graal, e o Graal aos Templários. (...) Tive um sobressalto quando o nosso guia nos levou a visitar uma sal secundária, de tecto coberto em fechos de abóboda, Eram pequenas rosetas, mas algumas tinham esculpidas uma cara barbuda e vagamente caprina. O Baphomet...
Descemos a uma cripta. Ao fim de sete degraus, uma pedra nua leva à ábside, em que poderia aparecer uma altar ou o cadeirão do grão-mestre. Mas chega-se, passando por baixo de sete fechos de abóboda, todos em forma de rosa e cada um maior que o anterior, e o último, mais expandido, por cima de um poço. A cruz e a rosa, e num mosteiro templário, e numa sala certamente construída antes dos primeiros manisfestos rosa-crucianos... Fiz algumas perguntas ao guia que sorriu: " Se soubesse quantos estudiosos de ciências ocultas vêm aqui em peregrinação... Diz-se que esta era a sala de iniciação...."
Penetrando por acaso acaso numa sala ainda não restaurada, ocupada com poucos móveis poeirentos, encontrei o chão repleto de caixotes de cartão. Revistei-os ao acaso, e vieram parar-me às mãos restos de volumes em hebraico, presumivelmente do século XVII. O que fazim os judeus em Tomar? O guia disse-me que os Cavaleiros mantinham boas relações com a comunidade judaica local. Fez-me assomar à janela e mostrou-me um jardim à francesa, estruturado como um pequeno e elegante labirinto. Obra, disse-me ele, de um arquitecto judeu setecentista, Samuel Schwartz."



páginas 332 e 333, O Pêndulo de Foucault, Umberto Eco, editora Difel


saiba mais sobre Umberto Eco:
http://www.themodernword.com/eco/
http://www.levity.com/corduroy/eco.htm

ou sobre o livro:
http://www.difel.pt/catalog/product_info.php?products_id=457

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