sexta-feira, setembro 15, 2006

Ponte do Flecheiro: uma obsessiva teimosia

Bom, o carácter do nosso ainda Presidente da Câmara António Paiva, penso ser já sobejamente conhecido, essa obstinação com largos laivos de teimosia, que levam a que toda a ideia saída da mente do edil, independentemente da sensibilidade dos tomarenses, da opinião pública, dos agentes políticos e do próprio partido que supostamente apoia Paiva, não esteja verdadeiramente sujeita a discussão e avance renitentemente como até aqui temos presenciado.
Mas honestamente confesso, que após recorrentes polémicas por obras que se vêm a confirmar erradas, e estando já Paiva na fase decadente da sua gestão, que relativamente a este disparate da ponte a 50 metros de outra, o engenheiro, com a intelecção que apesar dos falhanços lhe reconheço, tivesse quanto a isto, sem grandes ondas, esquecido convenientemente a ideia numa qualquer gaveta de má memória.
Engano. Abissal engano meu e de muitos. Paiva volta à carga com esta ponte que, mesmo não sendo eu engenheiro, me parece contrária a tudo o que é bom senso.
Já por outras ocasiões manifestei a minha visão sobre a “coisa”. Mas não posso deixar de focar novamente os porquês.
Tomar tem o trânsito caótico que lhe conhecemos, trânsito que se agravou com uma (caprichosa, não planeada, não sustentada, não discutida, como habitual) decisão errada da autarquia, que foi o fecho de um dos sentidos de trânsito na ponte velha sem estarem criadas quaisquer alternativas.
E o problema de trânsito em Tomar, cidade de média dimensão sem grandes indústrias, ou quaisquer outros factores que levem a grandes congestionamentos, claramente se deve a uma má orientação do trânsito e de insuficientes vias de escoamento, uma vez que nesta cidade meia dúzia de carros originam engarrafamento.
Todo o trânsito se centra na cidade, todos os fluxos convergem ao centro e em concreto à rotunda do “tanque luminoso” (também ele exemplo de uma obra bem planeada, enquadrada, financeiramente viável, e mais uma vez, fruto de bom senso).
E agora expliquem-me, uma ponte a 50 metros da existente resolve o problema? Julgo que um livre e capaz raciocínio diz que não. Porque a questão não é a necessidade de uma nova ponte, essa necessidade é óbvia, o problema é a sua localização.
Mas agora veja-se o revés da implantação na ponte no Flecheiro, antecipem-se os problemas que ela criará: uma ponte a subir junto ao mercado e a largar todo o trânsito junto ao Centro de Emprego, Igreja de Santa Maria, Casa Mortuária. A ir para onde? Escola Secundária Jácome Ratton, CIRE, e toda a aquela zona (Escola Secundária Santa Maria do Olival, E.B.2,3 Santa Iria, Centro de Formação, Biblioteca, S.F. Gualdim Pais, e outras entidades).
Esta é apenas a zona da cidade de maior vivência cívica, onde estão as principais escolas e equipamentos públicos de maior acesso por parte dos cidadãos; esta é tão só a zona de maior concentração de pessoas, de maiores fluxos de trânsito já assim, em muitos momentos do dia como aliás qualquer um pode constatar; esta é também uma zona residencial, e cujas vias não têm possibilidade de ser alargadas, e estão já muito condicionadas.
Mais, nas cidades desenvolvidas é hoje política de desenvolvimento afastar os carros do centro das cidades não só para criar mais segurança, mas como para evitar maior degradação de utilização dos vários equipamentos, e demais qualidade de vida dos utentes, derivada de várias formas de poluição como o ruído e os gases tóxicos.
Mas em Tomar pelo contrário, a aposta é em puxar para o centro mesmo os que disso não tinham necessidade e o fazem apenas por falta de alternativa, criando assim uma falsa sensação de vitalismo de uma cidade que há muito a perdeu. Em Tomar tudo parece que está em permanente movimento e agitação – trânsito, obras - mas a verdade é que tudo isso é inconsequente e ilusório.
Um desenvolvimento sustentável da Mobilidade deve garantir sempre a segurança dos residentes e dos utentes de equipamentos centrados na Cidade – Escolas, Serviços, Zonas Comerciais e outros – sendo por isso de inviabilizar qualquer opção que facilite a transferência de volumes de tráfego para zonas críticas da Cidade como as atrás já apontadas. Não é o que temos em perspectiva que venha a acontecer.
Não há qualquer estudo credível que diga que aquela ponte é correcta. Os parceiros sociais com responsabilidades na zona de influência, como as Comissões Executivas dos Agrupamentos Escolares, as Associações de Pais e Estudantes, e outros, não foram ouvidos.

Posto tudo isto resta perguntar: Será novamente gasto um rio de dinheiro numa obra polémica e de benefícios dúbios? Será mais uma vez acrescida a já difícil situação financeira da autarquia, em nome de uma insistência pessoal com a qual poucos concordam? Em nome dum projecto que é contrário à lógica, ao sentir da cidade, e pelo que foi exposto ao bom uso dos dinheiros públicos? Baseado em quê? Em que Projecto de Cidade? Em que Plano de Desenvolvimento? Em que Plano de Mobilidade?
Claro que, sejamos coerentes, com o cheque em branco que os tomarenses passaram ao eleger um Presidente de Câmara que nem programa eleitoral apresentou, Paiva pode em verdade, pelo menos acreditar, que pode fazer o que entender.
Mas a questão é caro concidadão tomarense, que tamanho tinha afinal esse cheque? Concorda ou não, com a localização que o presidente pretende dar à nova ponte?
E acha ou não importante tomar uma posição acerca disso? É dos que se importa com o que se passa à sua volta, ou deixa que decidam tudo por si?

artigo publicado hoje no jornal Cidade de Tomar

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