terça-feira, fevereiro 21, 2006

A Coragem.

Hoje ao almoço, antes do leitaozinho assado e por entre a conversa de circunstância deste tipo de almoços, comentava o Rui Zink, depois de alguém lhe perguntar porque aparecia menos na televisão, que as opiniões se pagam, e que dar a cara para as defender, ainda para mais quando podem ser contrárias ao que muita gente pensa, ou mesmo encaradas como estúpidas. E deu mesmo o exemplo das duas senhoras que recentemente andaram nas luzes da ribalta, e que foram as responsáveis pelo relançamento da discussão em torno dos casamentos entre homossexuais.
Efectivamente o comentário mais simplista será o de achar que as senhoras acabaram por empenhar-se nesta questão, em busca de um qualquer tipo de fama ou protagonismo.
Mas se fizermos uma análise mais profunda perceberemos que não é assim. Coloquemo-nos na pele daquelas senhoras e imaginemos o que será hoje o seu dia-a-dia. Basta dar este exemplo: penso que era hoje que iria realizar-se uma reunião de condóminos para tentar expulsar as senhoras, porque na mente de alguns dos moradores, elas dão mau nome ao prédio!!
Estamos em Portugal, ano 2006.

Por isso, quando o Rui Zink usava a tal expressão as "opiniões pagam-se", e que é muito engraçado aparecer na televisão, ou de qualquer outra forma, emitir opiniões e defender publicamente ideias e causas, a verdade é que muito poucos têm a coragem para o fazer.
Pensei no momento: "- Bolas! Isso é o que estou sempre a dizer!" As pessoas falam em surdina, mas defender opiniões sai caro, e em muitas situações da sociedade, mas se calhar em especial quem passa pela política, sabe como muitas vezes lhe sai caro dar a cara e defender opiniões.
Sabe como as opiniões são mal interpretadas, sabe como são por vezes intencionalmente mal interpretadas, como são derturpadas. Quem dá a cara por algo, corre o risto de ser odiado apenas por isso, porque foi capaz de fazer algo que outrém não é. Infelizmente, a nossa sociedade ainda sofre da moldagem que pede que não falemos, que fiquemos calados, que nos dêem "a papinha toda feita", como dizia o Rui Zink. Mesmo até para pensar ou emitir opinião.
Enfim é o mundo em que vivemos, um mundo em que até para falar é preciso coragem, portanto talvez, um mundo de cobardes. [pronto, mais quatro ou cinco inimigos por ter dito isto...]


Nota à margem
Não se pense, porque já conheco [quase] todas as maledicências possíveis e as suposições mais absurdas, que a intenção deste post é fazer passar-me por amigo ou conhecido deste ou daquele.
Efectivamente o Rui Zink esteve hoje em Tomar para participar numa actividade organizada pelo Governo Cívil e a Associação de Professores de Português, e onde a instituição onde tenho actualmente responsabilidades também é parceira, e por isso, eu e mais algumas pessoas estivemos de facto a almoçar com o Rui Zink.
Dele não conheço mais que a maioria de nós, um excelente comunicador e escritor.

Mas já agora, notas à margem, tenho que fazer em relação a isto outra crítica: à comunicação social tomarense.
A iniciativa, tendo como ponto de partida a comemoração do Dia Internacional da Língua Materna, envolveu várias entidades, trouxe a Tomar o escritor (e entenda-se que podia ter sido qualquer outro concelho do distrito, mas foi escolhido Tomar), o grande auditório do Instituto Politécnico esteve completamente cheio, e a participação dos jovens foi excelente.
Ora, perante isto, esteve comunicação social é verdade, mas de Tomar só uma pessoa, e que chegou aliás já depois do fim da actividade em concreto.
Eu entendo as dificuldades das pessoas que fazem jornalismo regional, e não quero fazer crítica à toa, bem sei como com poucos meios, e dificeis compensações, fazem o seu trabalho, e sei também que a terça-feira é dia de fecho de redação, mas ainda assim, acho que dava para fazer uma força, afinal, por vezes publica-se tanta coisa sem interesse...
E depois, já é difícil ouvir e engolir em seco sobre tanta coisa sobre Tomar, para ainda ter que encolher os ombros a um "- Onde anda a comunicação social de Tomar, que tem fama de ser tão aguerrida?"
[e pronto, lá vão bater-me porque ataquei a comunicação social...]

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