sexta-feira, janeiro 07, 2005

Desejos

escrevi assim, esta semana no Cidade de Tomar

Neste novo ano, como em todos os outros, todos desejamos mutuamente os melhores acontecimentos, as maiores bem aventuranças, as mais difíceis realizações. De forma mecânica, sem verdadeiro sentimento, vamos por aí ditando palavras decoradas a todos os que vemos pela rua. Eu gostava que não fosse assim.
Era bom que pudéssemos desejar aos outros tudo a mais que para nós mesmos. Era bom que pudéssemos sentar com os outros, conversar, reflectir, e desejar coisas em comum.
Como um país melhor, de gente mais honesta, mais desinteressada de coisas materiais. De políticos que falem verdade, de cidadãos que se preocupam em ouvir o que estes têm para dizer. Um país evoluído naquilo que mais faz a diferença: a mentalidade, o altruísmo, a inteligência, a perspicácia, a confiança em nós próprios, nos outros, e no todo de nós enquanto país com Esperança no futuro. Tudo o que nos falta.

Parece que os portugueses gostam de ser pessimistas, gostam da perspectiva miserabilista que deve estar impressa no fado dos nossos genes. Os portugueses clamam pela Verdade, mas gostam de ser enganados. Está mais que provado que as pessoas preferem que lhes mintam, tenho tido disso vários exemplos, um dos últimos, quando o futuro Primeiro-ministro José Sócrates, afirmou categoricamente que continua determinado em resolver o problema dos resíduos tóxicos e continua a apostar na co-incineração como método para essa resolução, muitas foram as vozes que se levantaram, muitas de socialistas até, para dizer: “mas porque é que ele está a falar nisto�, “não devia dizer nada, falava disso depois�.
Não consigo entender a natureza humana, a um político convicto, com coragem e que fala verdade, que afirma o que realmente pretende fazer, as pessoas preferem o “teatro�, a mentira, a ilusão, as palavras ocas. Foi assim com Durão Barroso, que tudo fez ao contrário do que prometeu. Foi assim com Santana, que nem sabe o que prometeu.
Foi assim com António Paiva, lembram-se das promessas que fez em campanha? Lembram-se do que assegurou? Grandes e ilusórios projectos de parques temáticos com apresentações mediáticas; lançamentos de livros com figuras nacionais a ajudar ao caldo em que o Senhor Que Tudo Sabe e Manda, mostrava que também sabia de PDM’s e prometia que seria das suas prioridades, e afinal, ao fim de dois mandatos ainda não fez nada disso. Algumas coisas fez de facto, mas só pela metade, por exemplo, a linda fonte cibernética está feita, mas os autocarros com excursões para a ver é que têm faltado.
Desenvolvimento, Progresso, Emprego, Qualidade de Vida, Crescimento, onde andam? Talvez em Torres Novas, talvez em Abrantes, mas não em Tomar.
Mas bem, alegrem-se, somos capital da Comunidade Urbana, essa obra de ficção criada pelo senhor Miguel Relvas – não se sentem já melhor?

Talvez 2005 venha finalmente a ser um ano de mudança. Sê-lo-á para o país, poderá sê-lo também para os tomarenses, reside em si, em cada um de nós, essa possibilidade de mudar, basta para tal que todos os que afirmam essa vontade, não terem como muitas vezes acontece nos momentos decisivos, medo dela. Veremos lá mais para Outubro.
Acima de tudo, o que gostava de ver mudar em 2005 eram atitudes, as formas de estar na vida perante si mesmo e os outros, uma real mudança de mentalidades que bem sei, não acontece da noite para o dia. Gostava que as pessoas se sentissem no direito e na obrigação de criticar, de intervir, de exigir e de cumprir mais. Porque ser-se cidadão representa um conjunto de direitos e de obrigações. Não como aqueles que se sentam num qualquer café a falar mal de tudo e todos, isso é fácil. Não como os que falam mal dos que fogem aos impostos, mas na realidade gostavam de fazer como eles, não. Mas criticar coerentemente, apontado ideias, soluções, aceitar a chamada quando a responsabilidade lhe é apontada, aproveitar as oportunidades de fazer a diferença, isso, bem, isso é mais difícil.
Gostava que as pessoas olhassem para a política como algo necessário e profícuo, e para os políticos como pessoas que se dedicam a causas e coisas do interesse de todos, muito em especial dos que hão de vir. Gostava que todos os políticos fossem assim, porque só esses são mesmo políticos, e gostava que todos os políticos contribuíssem para que a imagem construída de si pelos cidadãos fosse mesmo essa.
Gostava que as pessoas percebessem as coisas que realmente na vida interessam, aquilo que realmente nos pode fazer sentir “ricos�. Que não sentissem isso, que não falassem do real valor da vida, apenas quando alguma tragédia nos sai pelo ecrã da televisão para ser esquecida alguns dias depois. É triste que o ser humano só sinta verdadeiramente a tragédia quando a sente na pele, e ainda assim, às vezes.
Gostava de não sentir por vezes a necessidade de fazer estes desabafos, porque em verdade, ninguém se interessa por eles, e porque seria tão bom, se eles não correspondessem à verdade.

Chega por hoje, mas tenho ainda de dizer isto: nas últimas semanas o meu nome tem circulado por aí na praça pública, por motivos que não vou repetir, e muito menos confirmar, ainda que quando estas linhas estiverem à disposição da vossa leitura, se saiba já se correspondem à verdade ou não. Não é bem sobre isso que quero dizer algo, mas sim sobre os efeitos secundários, as ondas de choque imanadas depois disso. Tenho muita pena que algumas pessoas se sintam incomodadas, ultrapassadas, ou diminuídas; tenho pena que muitas pessoas não sejam coerentes consigo mesmas, que não pratiquem o que apregoam, ou que não consigam ver além de si mesmos ou dos seus interesses. Não é minha culpa, mas por vezes até aceito como natural e compreensível as limitações endógenas de alguns seres maledicentes que por aí circulam deixando atrás de si a gosma da sua mediocridade, não são esses que me interessam. Importa agradecer isso sim, aos outros, aos que espontânea e desinteressadamente (o que tenho eu para oferecer a alguém?!), com verdade a brilhar-lhes nos olhos, me mostraram o seu apoio, a sua confiança, o seu optimismo; a esses, obrigado, porque mesmo na maior das lixeiras, há flores que conseguem nascer, mostrar-se belas, e inebriar-nos com o seu perfume.
Assim são as pessoas, todos parte da mesma lixeira, mas uns atrofiados e absorvidos nela, outros, conseguem crescer, fazer-se grandes, melhores, e algures entre a Força e a Beleza, mostrar-se únicos.

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