quinta-feira, maio 07, 2020

Associativismo em tempos de pandemia.


Texto publicado na edição de 8 de maio do jornal O Templário

O associativismo é, como costumo dizer, o espelho de um território, duma aldeia, duma comunidade, e estes tempos difíceis vão provavelmente obrigar a que as coletividades e demais associações, duma forma geral, se reinventem uma vez mais.
Vão ter de ser os associados, os utentes, os praticantes, os amigos, seja lá que condição for de cada uma dessas entidades a mostrar que querem mantê-las vivas, e a fazer a sua parte.
A dar de si com aquilo que cada um puder. É esse o espírito do associativismo, das coletividades. Associar, fazer pelo coletivo.
Por parte do município naturalmente que a preocupação é grande. Tomar é como costumamos dizer, um concelho muito rico em associativismo, e no qual as suas 200 e muitas associações têm um peso social muito importante na comunidade.
Das expressões culturais e patrimoniais, às imensas modalidades desportivas, da ação social ao lazer, da juventude à educação, a áreas empresariais e mais, é todo o espectro da atividade humana que é abrangido por estas entidades onde a larga maioria dos cidadãos está presente de forma voluntária e abnegada.
Ora, as dificuldades que seguramente estas entidades estão e vão atravessar preocupam-nos, não apenas por toda a panóplia de atividades pontuais ou regulares que estão em causa, mas também muito pela questão económica. Várias destas associações representam no seu conjunto umas centenas de postos de trabalho direto e são importante motor para muitos outros negócios.
No entanto, muitas delas estão sem qualquer receita para fazer face aos compromissos mensais que detém. E não se sabe realmente quando e em que condições vão poder retomar, seja a atividade regular de cada um dos seus casos, sejam os eventos programados.
Da parte do município – e relembro que nos últimos anos temos vindo a aumentar o apoio financeiro global através do Programa de Apoio ao Associativismo (PAA) assim como outras formas de apoio, nomeadamente logístico – definimos algumas medidas para o imediato e para o ano presente.
Desde logo, mantivemos todos os valores de apoio aprovado para 2020, mesmo sabendo que no que se refere às atividades regulares elas não estão a ser realizadas;
também a suspensão da necessidade da entrega do Relatório de Prestação de Contas para receber apoios, até porque não há possibilidade de realização das assembleias gerais em tempo útil;
Aprovámos ainda a possibilidade de alteração de atividades candidatas e contempladas no Programa 2 do PAA e não efetuadas, para outras atividades a realizar durante o 2º semestre do ano. E estamos a antecipar pagamentos, que, como já referi, aconteceriam depois das atividades realizadas.
Esta pandemia alterou toda a nossa realidade, o mundo não vai voltar a ser o mesmo, por muito que se calhar parte da população ainda não se tenha verdadeiramente consciencializado das implicações para os próximos anos.
A mudança não ocorre apenas por imposição legal e enquanto não existir uma cura ou uma vacina. A mudança ocorre muito porque vai ser preciso restaurar a confiança de grande parte da população em participar em eventos, em estar junto com outros e nomeadamente com pessoas que não se conhece.
E provavelmente, para os próximos anos a tipologia de eventos vai ter de mudar. Neste momento as questões são mais que as certezas. Todos, sejamos responsáveis públicos e políticos, sejamos dirigentes associativos ou outros agentes envolvidos, temos obrigatoriamente de refletir e pensar em algo novo.
Poderemos ter nos próximos dois anos grandes eventos com concentração de pessoas?
Vamos poder ter eventos desportivos com enchentes em estádios, piscinas ou pavilhões? Vão as atividades desportivas coletivas, nomeadamente nos escalões da formação sofrer grandes perdas de praticantes, até por receio dos pais?
Vamos ter feiras, festivais de rua, festivais de verão, em que moldes? Ou até eventos que estão entranhados nos hábitos sociais, como as festas populares, vão poder acontecer nos mesmos moldes?
São muitas as questões, são muitas as incertezas, que todos coletivamente vamos ter de saber enfrentar e resolver ao longo dos próximos largos meses. No fundo, encontrar soluções coletivas para novos problemas, no bom espírito que sempre esteve ligado ao associativismo.

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